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Baependi - Notícias
11/12/2014 17h21

Personagens que fazem parte da nossa história - Marcos Pereira Gomes Nogueira – 2ª parte

Marcos Pereira Gomes Nogueira foi uma grande personalidade e deixou seu legado na cidade de Baependi.

(Continuação do último caderno)

 

Por Pe. Jean Poul

 

Olavo Bilac, num artigo de jornal, ressaltou a originalidade da obra artística do Monsenhor Marcos ao notar que os ornatos, esculpidos em cedro, são quase todos inspirados na flora brasileira e eu diria, na flora local, pois pode-se contemplar em sua obra o cacho de gravatá, donde pende o magnífico lustre da cúpula; as folhas de fumo, de que Baependi foi grande produtor e até exportador naquela época, as folhas de bananeira e acá, a uva, a “unha de boi” e muito mais.

Isto estimulou especialistas do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a classificarem a Igreja Matriz de Baependi como uma legítima mostra do barroco genuinamente brasileiro, uma vez que as grandes obras do barroco brasileiro e mineiro são cópias de grandes expressões barrocas da Europa. Deve-se este fato, em sua totalidade ao gênio artístico do Mons. Marcos que, resistente em adotar modelos europeus, criou ele mesmo os moldes da escultura. A obra é reconhecida por especialistas como sendo única do gênero em todo país.

Para esta obra que revelara todo o seu talento, o jovem padre contou com generosas esmolas que angariava pessoalmente e com abnegados voluntários, dentre os quais o jovem imigrante italiano, Francisco Viotti, de quem, mais tarde o vigário escreveria: “tudo o que saia de suas mãos trazia o selo da perfeição em seu gênero”.

A Igreja Matriz foi iniciada em meados do século XVIII, por volta de 1754. Como foi construída e decorada ao longo dos anos, assimilou características de vários estilos arquitetônicos como o Luiz XV (Altar-mor), o barroco (trabalho em talha do transepto da nave central), o rococó (altares laterais) e o neoclássico.

Durante sua vida, Mons. Marcos manteve sólida relação de amizade e respeito com Francisca Paula de Jesus – Nhá  Chica. Quando fez o testamento, em 08 de julho de 1888, Nhá Chica o escolheu como primeiro testamenteiro, demostrando sua confiança e amizade com o vigário. Analisando documentos redigidos por Mons. Marcos a respeito de Nhá Chica, nota-se que ele sempre a tratava por Dona Francisca, o que denota seu apreço por ela, pois raramente utilizava esse título.

Abrindo sua última década de vida, o Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira ausentou-se temporariamente de Baependi, em 1906, para governar o Bispado de Pouso Alegre, durante a ausência de D. João Batista Correia Nery, que partira para Roma, em visita ao Papa S. Pio X. Baependi pertenceu á Diocese de Pouso Alegre desde a sua criação, em 1900 até o a criação da Diocese da Campanha, em 08 de setembro de 1907. Antes pertencera à Diocese do Rio de Janeiro, das origens até 1745, quando passou a pertencer à Diocese de Mariana, em Minas Gerais, criada nesta data pela Bula “Candor lucis aeternae” (O brilho da luz eterna) do Papa Bento XIV.

Era homem da confiança e do apreço dos bispos. D. Silvério Gomes Pimenta, bispo de Mariana, assim se referiu ao Mons. Marcos: “Ninguém mais do que eu aprecia as virtudes, as qualidades peregrinas, os serviços remontados que o vigário Marcos tem feito. Eu o amo tanto que por ele daria a própria vida”.

Tragicamente, no regresso a Baependi, o monsenhor foi vítima de um desastre, sendo arrastado pela locomotiva do trêm de ferro, correndo sério perigo de morte, o que consternou toda a população. Depois do acidente, Mons. Marcos recolheu-se à Santa Casa de Misericórdia, hoje Hospital Cônego Monte Raso, exercendo as funções de capelão. Lá, foi encontrado morto, em seu modesto quarto, com o rosário entre os dedos, vítima de parada cardíaca, no dia 07 de fevereiro de 1916. No dia seguinte, associações, entidades, bandas, padres, alunos das escolas (que não tiveram aula nesse dia), irmandades, comércio e repartições públicas deram o último adeus ao seu conterrâneo vigário e brilhante artista. Seu corpo foi sepultado no jazigo de seus antecessores, na Capela da Paixão, à esquerda do altar-mor da Igreja Matriz.

Seu nome foi logo dado à imponente praça em frente à Igreja Matriz, por ele ornada, quer pela sua operosa escultura, quer pelo seu profícuo paroquiato.

Na minha infância, passei longas e deliciosas tardes contemplando a obra do Mons. Marcos, pois meu primeiro emprego, depois de ter sido autônomo na venda de verduras e picolés, foi acolher e ciceronear os turistas que visitavam a nossa bela Matriz. Naquele tempo contava-lhes todas estas histórias, não de forma tão elaborada, mas não menos apaixonante. Agora, concluo este artigo, homenageando aquele que ornou a nossa Igreja, tornando-a imagem da esposa, enfeitada para o seu esposo (cf. Ap 21,2), e tornou-a atrativa a tantos olhares: Mons. Marcos Pereira Gomes Nogueira.

 

bvnhachica.blogspot.com.br

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