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Baependi - Notícias
21/11/2013 10h55

Personagens que fazem parte da Nossa História - Francisco Raposo Pereira de Lima

Francisco Raposo marcou época na cidade de Baependi

por Maria José Turri Nicoliello

 

Francisco Raposo tem a fé e a religiosidade presentes em sua obra. Nome de uma travessa em Baependi, sua cidade natal, dele poucos ouviram falar e nem poderiam imaginar sua importância no cenário musical do séc. XIX.

Maestro, cantor, compositor, violinista e professor de piano, Francisco Raposo nasceu em Baependi, aos 2 de abril de 1845, Primogênito de uma família de onze irmãos, iniciou a carreira artística aos doze anos.

Raposo viveu durante o período imperial e depois o republicano. Da escravatura à Abolição, assistiu ao fim da monarquia e a ascensão da República. Da infância e juventude passadas numa cidade pequena, buscou novos horizontes levado pela arte. Visitou capitais encantando plateias, foi mestre de corporação musical no Vale do Paraíba Fluminense e, na Corte do Rio de Janeiro, cantou para D. Pedro II, na Capela Imperial.

Sabiá Mineiro

Corria o ano de 1868 quando a Princesa Isabel e o Conde D’Eu estiveram em visita a Baependi. Na Igreja Matriz N. Sra. do Montserrat, houve missa em Ação de Graças, quando Raposo cantou o Te Deum. No ano seguinte, fez a abertura da Exposição Mineira União e Indústria de Juiz de Fora, executando o Hino aos Mineiros, de sua autoria. O jovem tenor ganhou visibilidade e a chance de cantar para o imperador D. Pedro II. Com o passar do tempo, tornou-se tenor prestigiado, tendo por isso recebido o codinome - Sabiá Mineiro.

Homem de grande religiosidade, manteve ligação com Francisca de Paula de Jesus – Beata Nhá Chica, conhecida por seus vaticínios e predições. Em 1878, o periódico O Baependyano assinala Raposo à frente das solenidades religiosas da festa de N. Sra. da Conceição, na capela que a beata edificou com a ajuda de devotos. Nhá-Chica “guardava devoção especial às Três Horas de Agonia. Nas sextas-feiras, recolhia-se em orações.” Três Horas d’Agonia é uma das mais representativas obras sacras do compositor.

Seguindo a trilha deixada por alguns compositores da época, Raposo passou a atuar no Vale do Paraíba Fluminense, região de Vassouras, Valença e Barra do Piraí.

O Legado

Numa cidade marcada pela fé, as cerimônias da Semana Santa em Baependi sempre contaram com a participação de bandas de música. O acervo musical descoberto, liga Raposo à Corporação Musical Carlos Gomes (1896), onde iniciou nos estudos musicais o filho adotivo, Emílio do Patrocínio Nogueira (1888/1969), mestre de gerações de músicos, que dedicou a vida à corporação, onde foi regente por mais de 50 anos.

Raposo deixou significativa obra sacra - ao todo 17 missas, vários hinos religiosos e Ofícios da Semana Santa. Quase a totalidade de sua obra conhecida é de cunho religioso, embora se tenham exemplos de peças profanas, notadamente hinos. Dessa música popular, somente foi encontrada uma partitura autógrafa, datada de 1891, um Cateretê para duas vozes femininas e orquestra.

Os primeiros anos do séc. XX foram marcados por dificuldades financeiras e problemas de saúde. Após sofrer um derrame e ter perdido a fala, o maestro veio a falecer, aos 61 anos, na primavera de 1905.

Francisco Raposo era um homem de espírito humilde e nobre, que compunha música por ofício: um operário da arte.

Maria José Turri Nicoliello é pesquisadora e publicou o livro “ A  Música, a Vida e a Obra  de Francisco Raposo (2004)

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