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31/10/2021 22h02

Após desprezar OMS, Bolsonaro usa Tedros por proibição de vacinação infantil

Após meses desprezando orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o enfrentamento à pandemia de covid-19, o presidente Jair Bolsonaro enquadrou o ministro da Saúde para que ele, a partir de declarações do diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom, proíba a vacinação contra a covid-19 em crianças e adolescentes. Alvo de ataques e de desqualificação por parte de bolsonaristas, Tedros precisou dar informações básicas sobre os imunizantes a Bolsonaro para corrigir insinuações equivocadas do presidente brasileiro.

Os três conversaram informalmente neste domingo, 31, com a ajuda de um tradutor, em Roma, Itália, onde Jair Bolsonaro participa de encontro do G20. Durante a interação, o presidente cobrou uma posição do ministro sobre crianças ao menos três vezes.

"Queiroga, palavras dele: A OMS não recomenda a vacina para crianças. Temos que ter uma nota nesse sentido, dizendo que a OMS não recomenda", disse. "Essa questão da vacinação de criança, tem que ter uma nota sua, baseada na OMS", insistiu. "Não pode deixar governador à vontade. Você tem que escrever isso, Queiroga".

O vídeo da reunião foi divulgado nos perfis oficiais de Jair Bolsonaro. No entanto, a gravação foi editada de modo que não contemplou a resposta completa de Tedros Adhanom sobre a posição da OMS em relação à imunização de crianças.

O Planalto exibiu apenas a parte em que o diretor fala que estudos ainda estão em andamento. Contudo, a OMS já se manifestou a respeito de vacinar esse grupo. Em maio, pediu para que países desenvolvidos suspendessem a aplicação em crianças porque nações subdesenvolvidas ainda não haviam conseguido vacinar grupos de risco e profissionais de saúde. O diretor da OMS, à época, alegou que estavam avançando "às custas dos trabalhadores da saúde e grupos de alto risco em outros países".

Além disso, a OMS reconhece oficialmente os estudos da Pfizer que apontaram segurança e eficácia do imunizante para jovens com mais de 12 anos, como já usado no Brasil. Na sexta, 29, a Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autorizou a aplicação do imunizante em crianças com idades entre 5 e 11 anos. A Pfizer vai fazer o pedido para uso no mesmo público à Anvisa, em novembro. Diretores da agência receberam ameaças de morte para se posicionarem contra. Todas as vacinas usadas no Brasil, para qualquer público, dependem de aval da Anvisa.

Queiroga assentiu ao ser cobrado por Bolsonaro e disse que manteve conversas com lideranças do Reino Unido sobre como proteger crianças, considerando que elas "não têm condição de decidir". "Conversamos sobre esse tema, da vacinação em crianças, no sentido de se querer obrigar pais e mães a vacinar crianças de toda forma. Porque a criança, ela não tem condição de decidir", disse Queiroga, antes de ser interrompido por Bolsonaro.

O respaldo da OMS que Bolsonaro buscou ao dar a ordem a Queiroga contrasta com a relação que o chefe do Executivo teve com a entidade durante a maior parte da pandemia. O presidente desdenhou de orientações gerais da organização sobre, por exemplo, distanciamento social e uso de máscaras. Ele insistiu com remédios ineficazes mesmo após a organização também concluir que eles não funcionam.

Em transmissões ao vivo, Bolsonaro chegou a desdenhar das orientações de Tedros. "Estou respondendo processos dentro e fora do Brasil, sendo acusado de genocídio, por ter defendido uma tese diferente da OMS. Pessoal fala tanto em seguir a OMS. O diretor presidente da OMS é médico? Não é médico! Sabia disso?", disse, em abril de 2020.

Em outra parte da conversa em Roma, Tedros precisou explicar o "bê-a-bá" do funcionamento das vacinas a Bolsonaro para contrapor colocações equivocadas. O presidente disse a ele que, "no Brasil, muitos que tomaram a segunda dose estão contraindo o vírus", informação amplamente difundida por grupos que tentam negar a eficiência do imunizante.

"A vacina não previne a infecção, mas previne uma doença grave, previne o óbito, a morte. E é esse o propósito", explicou Tedros. Bolsonaro insistiu com outra versão falsa, a de que "muitas pessoas" estão morrendo mesmo com a segunda dose. Mais uma vez, o diretor-geral da OMS esclareceu: "Sem a vacinação, a gravidade da doença é de altíssima probabilidade. Com a vacinação, é menos grave. Mas, como você falou, ainda pode haver alguns (óbitos), sim, sobretudo daqueles que têm alguma comorbidade ou algumas outras condições".

Ao final da conversa, Queiroga disse a Tedros que todas as vacinas do Brasil foram compradas por Bolsonaro. O presidente usou a deixa para reclamar que, mesmo assim, é investigado por sua conduta no combate à doença e acusado de genocídio. O ministro da Saúde riu ao lembrar que vem sofrendo as mesmas acusações e riu ao falar do processo que responderá no Tribunal Penal Internacional, em Haia. A CPI da Covid vai denunciar membros do governo à Corte. "Eu também (sou acusado). Eu vou com ele para Haia, vou passear lá em Haia", disse, rindo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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