Quando cheguei ao internato em Varginha, em 1958, eles eram em maior número. Quando saí do Colégio Coração de Jesus, já como externo e morando no Hotel Maduro, eram bem menos. Acredito que com o correr dos anos foi diminuindo cada vez mais o número desses religiosos, razão pela qual contratavam professores civis para complementar o quadro.
Decorar seus nomes, nos primeiros tempos, era difícil.
Todos os dias havia uma missa na capela do colégio, por volta de seis horas da manhã, onde éramos obrigados a ir e, de preferência, comungar.
No início, quando via aquela fila de irmãos, dezoito, acho, no total, ia repetindo mentalmente o nome de cada um, na hora da comunhão, até que, por fim, os decorei.
Reconheço que, como todo adolescente, devo ter tido muitos momentos em que me tornei insuportável para eles. Mas talvez em mais momentos eles o tenham sido para mim.
Muitos marcaram negativamente minha vida, mas destaco dois que a marcaram positivamente:
Irmão Herculano Damasceno (Edgar) meu professor de Latim, no segundo semestre de 1960, na segunda série ginasial. Era de Capela Nova, uma pequena cidade na Zona da Mata. Desde o primeiro momento em que nos encontramos, ficamos amigos. Um dia, desesperado por não ter um rádio e querer ouvir um jogo do Flamengo com o América, reclamei com ele. Com toda a sua bondade, providenciou um rádio e um local para que eu pudesse ouvir. Antes que algum de seus colegas achasse ruim, deu-me uma autorização por escrito para realizar meu desejo. No ano seguinte, ele foi transferido, mas não perdemos o contato. Inclusive quando fui para o Rio e ele estava no Colégio São José, encontramo-nos várias vezes. Muitos dias em que ia ao Maracanã assistir a algum jogo do Flamengo, encontrava-me com ele antes, ao passar por aquela escola, na Barão de Mesquita. Eu costumava descer do ônibus na Praça Saenz Pena e ir caminhando até o estádio. Na volta, fazia o caminho inverso. Isto me livrava de tumultos e de tomar conduções apinhadas de
gente, o que é muito desagradável. De repente, ele sumiu de minha vida. Por mais ou menos duas décadas.
Depois de muita pesquisa, descobri-o casado, professor, residindo em sua cidade. Quando editei meu livro, enviei-lhe um de presente. Mas ele já se encontrava bem enfermo. No dia 18 de outubro de 1999 soube, através de sua esposa, que ele havia falecido. E até hoje estou esperando pelo santinho que ela prometeu mandar-me, da missa de sétimo dia...
(Continua)