18/03/2019 07h40
Maioria dos atiradores de crimes em escolas não é psicopata, dizem estudos
Planejar por meses ou anos um ato cruel, ter o sangue frio de atirar contra crianças e adolescentes indefesos de forma aleatória, e terminar o crime com suicÃdio. Para a maioria das pessoas que assistem a um massacre em escolas ou ouvem relatos de casos do tipo, como o ocorrido em Suzano na semana passada, é difÃcil não associar o atirador a um psicopata, de perfil cruel, frio e sádico.
Estudos cientÃficos internacionais feitos com base na análise do perfil de dezenas de atiradores no mundo, no entanto, trazem conclusões intrigantes: na maioria dos casos, não havia sinal de psicopatia nos atiradores, o que leva os pesquisadores a acreditarem que experiências de vida, como traumas, abusos ou outros fatores sociais, possam desenvolver um comportamento agressivo em uma pessoa sem sinais de doença mental.
"O que sabemos é que mesmo pessoas biologicamente saudáveis podem desenvolver problemas assim quando submetidas a condições adoecedoras, ou quando inseridas numa cultura doente, pelo fato de que nossas crenças, nosso modo de interpretar e compreender a realidade não é algo imutável, fixo, rÃgido", explica o doutor em Psicologia e professor do Instituto Federal de Goiás Timoteo Madaleno Vieira, autor de um artigo em que revisou dezenas de estudos internacionais sobre o perfil dos atiradores e concluiu que classificá-los sempre como psicopatas é simplista e incorreto.
"No senso comum, a ideia de um monstro, um psicopata tresloucado, é muito usada para dar a resposta que procuramos (para esses atos). Isso simplifica as coisas. Explicações assim falsificam a realidade e nos ajudam a evitar a percepção de que podemos ter responsabilidade na expansão desse fenômeno", diz.
CaracterÃsticas comuns
Se os atiradores têm perfis psicológicos diferentes entre si e motivações diversas, eles reúnem, por outro lado, algumas caracterÃsticas em comum: a grande maioria é homem, branca e obteve a arma usada no ataque em casa, utilizando armamento de posse dos próprios pais, segundo estudos do FBI e do psicólogo americano Peter Langman, um dos maiores estudiosos do assunto no mundo, que levantou dados sobre 150 ataques em escolas em dez paÃses, incluindo o Brasil.
Análise feita pelo Estado na base de dados do pesquisador, disponÃvel no site schoolshooters.info, mostra que, dos 150 atiradores analisados, 94% era do sexo masculino, 63%, branco, 42% não sobreviveram ao ataque - a maioria porque cometeu suicÃdio -, e 38% era menor de idade ao cometer o ataque homicida.
O psicólogo criou ainda uma tipologia para o perfil psicológico dos atiradores, os dividindo em três grupos: traumatizados, psicóticos e psicopatas (em tradução livre).
Os traumatizados tinham histórico de abuso por parentes ou famÃlias desestruturadas, com casos de violência ou dependência quÃmica. Os psicóticos apresentavam sinais de esquizofrenia ou algum transtorno de personalidade. Entre os sinais estavam alucinações, delÃrios ou paranoias. Por fim, os psicopatas tinham os sintomas clássicos do quadro, como narcisismo, ausência de empatia e sadismo.
Na análise dos 150 atiradores, o pesquisador conseguiu informação suficiente de 81 deles para traçar o perfil e chegou a conclusão de que 49% eram psicóticos, 32% eram psicopatas e 19% eram traumatizados.
Dificuldade
Segundo o estudioso, nem sempre é fácil para as famÃlias identificar esses perfis previamente. "Entre os atiradores traumatizados, os pais são os principais problemas na vida dos filhos. Para os outros perfis, não é que os pais estejam falhando. Muitas vezes eles escondem deliberadamente os seus pensamentos e sentimentos dos pais. Mesmo quando os atiradores estiveram em psicoterapia, ocultaram suas intenções violentas", disse ao Estado.
Há sinais, no entanto, demonstrados previamente pelos atiradores que podem servir de alerta para pais e docentes, como obsessão por armas ou mÃdias violentas, postagens sobre ataques, comportamento agressivo ou depressivo, entre outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo