16/04/2021 17h40
Youtube irá remover vídeos que recomendem cloroquina e ivermectina para covid
O Youtube atualizou as polÃticas de remoção de vÃdeos com informações médicas incorretas relacionadas à covid-19 nesta semana, o que inclui publicações que defendem tratamentos com ivermectina, hidroxicloroquina e outros medicamentos comprovadamente ineficazes contra o novo coronavÃrus. Segundo a plataforma, mais de 850 mil vÃdeos foram retirados do ar por violação à s polÃticas de conteúdo sobre a pandemia.
"A menos que haja contexto educacional, documental, cientÃfico ou artÃstico suficiente, a plataforma passará a remover vÃdeos que recomendam o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina para o tratamento ou prevenção da covid-19, fora dos ensaios clÃnicos, ou que afirmam que essas substâncias são eficazes e seguras no tratamento ou prevenção da doença", apontou em nota.
Na página sobre as regras de postagem, o Youtube informa não permitir a veiculação de conteúdo sobre a pandemia que possibilite "sérios riscos de danos significativos" ou dissemine "informações médicas incorretas" que contrariem as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) ou de autoridades locais de saúde. "As polÃticas do YouTube sobre a covid-19 estão sujeitas a alterações em resposta a mudanças nas orientações das autoridades de saúde globais ou locais quanto ao vÃrus", destaca.
Isso é voltado especialmente a vÃdeos sobre tratamentos, prevenção, diagnóstico, transmissão, diretrizes de distanciamento e isolamento social e, ainda, a própria existência da covid-19. "Também podemos abrir algumas exceções caso o objetivo do vÃdeo seja condenar ou combater as informações equivocadas que violam nossas polÃticas. Esse contexto precisa ficar evidente nas imagens ou no áudio do próprio vÃdeo", ressalta.
A página de orientações da plataforma aponta, ainda, que o usuário não deve publicar vÃdeos com conteúdo sobre covid-19 que: incentive o uso de medicamentos caseiros, orações ou rituais em vez do tratamento adequado; afirme haver uma cura garantida; recomende o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina para o tratamento ou aponte que são eficazes contra a doença; desencoraje a busca por orientação médica; dentre outras formas de desinformação.
Monitoramento identificou 44 vÃdeos com dados falsos nos maiores canais de polÃticas do PaÃs em janeiro
Em março, o Monitor do Debate PolÃtico no Meio Digital, projeto de pesquisa do Grupo de PolÃticas Públicas para o Acesso à Informação (GPoPAI) baseado na USP Leste, publicou uma nota técnica apontou que o Youtube não aplica as polÃticas de moderação de conteúdo "com rigor", permitindo até mesmo a remuneração desse conteúdo por meio da ferramenta de monetização.
"Se o Youtube tivesse aplicado as punições segundo sua própria polÃtica, conforme o sistema de strikes anunciado em janeiro, esses canais teriam sido suspensos ou permanentemente excluÃdos", diz a nota. Entre os vÃdeos citados no documento, está uma publicação que permaneceu no ar por cerca de oito meses.
O grupo identificou, em parceria com a Novelo Data, 44 vÃdeos com conteúdo considerado negacionista sobre a pandemia postados no mês de janeiro em oito dos maiores canais de polÃtica do PaÃs. Em apenas um canal, as publicações desse tipo chegaram a mais de 6 milhões de visualizações.
Dentre as informações falsas, estão recomendações do uso de ivermectina, cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, a promoção da vitamina D como forma de prevenção à doença e o desestÃmulo ao distanciamento social e ao uso de máscaras.
Professor de Gestão de PolÃticas Públicas da USP e integrante do GPoPAI, Pablo Ortellado elogia a mudança e aponta que o Youtube tem polÃticas de uso com regras mais claras sobre a difusão de conteúdos falsos na pandemia em comparação a outras, porém ainda não consegue garantir o cumprimento em todos os canais que hospeda. "Vamos ver se vai implementá-la com o tempo", destaca.
Segundo ele, o grupo de pesquisa chegou a discutir o tema com o Youtube, que explicou que um dos motivos de tantos vÃdeos sobre o tratamento ineficazes estarem disponÃveis era por envolver uma desinformação pouco comum fora do PaÃs. Ortellado lembra que as declarações de organizações internacionais contrárias ao uso de ivermectina, cloroquina e afins para o tratamento do coronavÃrus ganharam maior destaque apenas nos últimos meses.
"O Youtube tinha uma polÃtica global, e esse tratamento precoce é uma coisa muito brasileira. Acho que isso mudou, que o Youtube reconheceu que o Brasil é o epicentro da pandemia, e que a recomendação do chamado tratamento precoce está sendo estimulada por forças polÃticas organizadas. E que, justamente por esses fatores, houve, nas últimas semanas e meses, com a condenação explÃcita de entidades internacionais e de paÃses europeus condenando", argumenta.
O professor aponta, ainda, que alguns dos principais canais que veiculam esse tipo de conteúdo tem a prática de remover por conta própria os vÃdeos após algumas semanas. "Eles trabalham muito na fronteira do que é permitido ou não permitido. Então, publicam, colhem os louros em 1 ou 2 semanas, colhem toda a audiência e deletam para não deixar evidência."
Para ele, o número de 850 mil vÃdeos delatados é "ridiculamente pequeno" diante da quantidade de conteúdo negacionista e com desinformação veiculado mundialmente durante a pandemia. "Os mecanismos de verificação são limitados, um pedaço é por automotivação e não tem números de pessoas para verem todos os vÃdeos."
Veja os conteúdos sobre covid-19 vetados pelo Youtube abaixo:
Conteúdo que incentiva o uso de medicamentos caseiros, orações ou rituais em vez do tratamento adequado (consultar um médico ou ir ao hospital)
Conteúdo que afirma haver uma cura garantida para a covid-19
Conteúdo que recomenda o uso de Ivermectina ou Hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19
Afirmações de que Ivermectina ou Hidroxicloroquina são tratamentos eficazes contra a covid-19
Conteúdo que desencoraja as pessoas de consultar um médico ou buscar orientação médica
Alegações de que há um método de prevenção garantido contra a covid-19
Afirmações de que determinados remédio ou vacinas são uma cura garantida para a covid-19
Conteúdo que recomenda o uso de Ivermectina ou Hidroxicloroquina para prevenção da covid-19
Afirmações de que o uso de máscara é perigoso ou causa efeitos fÃsicos negativos à saúde
Afirmações de que máscaras não ajudam a prevenir a infecção ou transmissão da covid-19
Declarações sobre as vacinas contra covid-19 que sejam contrárias ao consenso de especialistas de autoridades locais de saúde ou da OMS
Afirmações de que vacinas aprovadas contra a covid-19 causam morte, infertilidade, abortos, autismo ou a contaminação por outras doenças infecciosas
Afirmações de que as vacinas aprovadas contra a covid-19 contêm substâncias que não estão na composição, como material biológico retirado de fetos (por exemplo, tecido ou cultura celular fetal) ou produtos de origem animal
Afirmações de que vacinas aprovadas contra a covid-19 contêm substâncias ou dispositivos para rastrear ou identificar as pessoas que as tomaram
Afirmações de que vacinas aprovadas contra a covid-19 mudarão a constituição genética de uma pessoa
Afirmações de que as vacinas contra covid-19 não reduzem o risco contrair a doença
Afirmações de que qualquer vacina provoca a contaminação por covid-19
Afirmações de que uma população especÃfica será obrigada por qualquer entidade, exceto o governo, a participar de testes da vacina ou receber a vacina antes do público em geral
Conteúdo que promove o uso de vacinas não aprovadas ou caseiras contra a covid-19
Instruções sobre como falsificar comprovantes de vacinação ou ofertas de venda desse tipo de documento
Conteúdo que promova métodos de diagnóstico que contradizem as autoridades locais de saúde ou da OMS
Conteúdo que promova informações sobre a transmissão que contradizem os dados das autoridades locais de saúde ou da OMS
Conteúdo com afirmações de que a covid-19 não é causada por uma infecção viral
Conteúdo com declarações de que a covid-19 não é contagiosa
Conteúdo com declarações de que a covid-19 não é transmitida em determinados climas ou localidades
Conteúdo com declarações de que algum grupo ou indivÃduo tem imunidade ao vÃrus ou que não pode transmiti-lo
Informações incorretas sobre distanciamento social e auto isolamento
Conteúdo que conteste a eficácia das orientações das autoridades locais de saúde ou da OMS sobre as medidas de distanciamento fÃsico ou auto isolamento para diminuir a transmissão da covid-19
Conteúdo que negue a existência da covid-19
Afirmações de que as pessoas não morreram ou ficaram doentes por causa da covid-19
Alegações de que o vÃrus não existe mais ou que a pandemia acabou
Declarações de que os sintomas, a taxa de mortalidade ou o contágio da covid-19 são iguais ou menos graves do que os da gripe causada pelo vÃrus influenza no inverno
Afirmações de que os sintomas da covid-19 nunca são graves
Fonte: Estadão Conteúdo