13/11/2019 08h40
Zika inibe tumor de próstata, diz estudo
Depois de provocar uma grave epidemia que resultou no nascimento de milhares de bebês com microcefalia, o vÃrus da zika vem revelando um aspecto tão inesperado quanto positivo: a capacidade de destruir tumores cancerÃgenos. Um novo estudo publicado na Scientific Reports por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) constatou que o vÃrus é capaz de inibir a proliferação de células do câncer de próstata em pelo menos 50%.
Não foi o primeiro estudo a constatar essa vocação benigna do vÃrus. O mesmo grupo da Unicamp, liderado por Rodrigo Ramos Catharino, já havia demonstrado que o patógeno também é eficaz no combate a tumores no cérebro. O grupo de especialistas está estudando o uso do vÃrus contra outros tipos de tumores malignos e espera que, em cinco anos, já tenha alguma terapia disponÃvel para o público.
No trabalho mais recente, publicado ontem, os cientistas da Unicamp usaram células de adenocarcinoma de próstata. Eles constataram que, mesmo depois de ser inativado, o vÃrus consegue inibir a replicação das células. Os experimentos foram feitos com uma linhagem viral obtida a partir de amostras isoladas de um paciente infectado no Ceará, em 2015. Depois de cultivado em laboratório, o vÃrus foi aquecido a uma temperatura de 56º C durante uma hora para que o seu potencial de causar uma infecção fosse inibido.
"Na versão 'selvagem' (sem passar por inativação), o vÃrus poderia trazer efeitos indesejáveis e, portanto, não poderia ser usado como terapia", explicou Catharino, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores.
O passo seguinte foi colocar uma cultura de células tumorais em contato com o vÃrus inativado. Após perÃodos de 24 e 48 horas, os cientistas compararam essa solução a um outro grupo de células cancerÃgenas que não tinham sido expostas ao vÃrus. Na análise feita após dois dias, a linhagem que ficou em contato com o vÃrus inativado apresentou um crescimento 50% menor do que a linhagem de controle. "Há redução real na atividade das células do tumor em mais ou menos 50%, o que já é excelente", disse o especialista. "Vemos, no futuro, uma terapia promissora."
O trabalho foi feito pela estudante de doutorado Jeany Delafiori com a colaboração do doutorando Carlos Fernando Odir Rodrigues e com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A linha de pesquisa do grupo teve inÃcio há cerca de quatro anos, quando foi descoberta a relação entre a epidemia de zika e o aumento dos casos de microcefalia no PaÃs. Depois que estudos confirmaram que o vÃrus era capaz de infectar as células neurais dos embriões, Catharino resolveu testá-lo em linhagens de glioblastoma - o tipo mais comum e agressivo de câncer do sistema nervoso central. A redução, no caso, foi de 40%.
"O próximo passo da investigação envolve testes em animais", contou Catharino. "Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para viabilizar os ensaios clÃnicos."
Casos
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 60 mil novos casos de câncer de próstata são registrados todos os anos no PaÃs. Trata-se do segundo tipo mais incidente entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. O novembro azul é uma campanha internacional que visa a chamar a atenção para a prevenção e o diagnóstico precoce da doença.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo