Todos os médicos concordam que a obesidade aumenta o risco de diversas enfermidades. Entre elas, hipertensão arterial, diabetes, problemas ortopédicos, apneia do sono, vários tipos de câncer e complicações cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. A discussão atual, no entanto, vai além: a própria obesidade deve ser considerada uma doença?
O debate desperta opiniões apaixonadas no país que enfrenta uma epidemia de obesos que atinge 40% dos adultos e quase 20% das crianças, os Estados Unidos. Vale a pena discutir esses argumentos, porque o Brasil segue na esteira da epidemia americana, pois 52% dos nossos adultos estão acima do peso.
Em 2013, depois de muita discussão, a American Medical Association, a organização médica mais influente, decidiu declarar a obesidade uma doença. Os argumentos a favor da resolução foram os seguintes:
1. Reconhecer a obesidade como doença ajudará a comunidade médica a lidar com esse tema complexo que afeta pelo menos um em cada três americanos.
2. A resolução pressionará as operadoras de saúde a criarem mecanismos para compensar as consultas médicas, pelo tempo gasto em alertar os pacientes sobre os riscos de permanecer com índices de massa corpórea acima de 30 (IMC = peso/altura x altura) e orientá-los a seguir programas de perda de peso.
3. Facilitar o acesso às cirurgias bariátricas e às terapêuticas comportamentais intensivas para aqueles com IMC > 30, associado a outras condições de saúde (diabetes, hipertensão, problemas ortopédicos).
4. Inquéritos populacionais mostram que, nos Estados Unidos, mais de 50% dos obesos nunca foram alertados por um profissional de saúde da necessidade de perder peso. Muitos médicos relutam em abordar o tema com receio de ofendê-los.
5. Do ponto de vista médico, a American Medical Association considera a obesidade “uma condição crônica urgente”, motivo de “grande preocupação” e um “transtorno de alta complexidade”, enquanto a maioria dos médicos considera a obesidade como problema comportamental.
6. O tratamento de doenças relacionadas com a obesidade, como as cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer, custam 150 bilhões de dólares por ano ao sistema de saúde americano (mais de quatro vezes o que o governo federal brasileiro investe no custeio do SUS inteiro).
Os principais argumentos contrários são os seguintes:
1. Considerar a obesidade uma doença pode aumentar o estigma e o preconceito contra essa condição.
2. Empregadores encontrarão justificativa para não contratar trabalhadores rotulados como portadores de uma condição patológica.
3. O foco da abordagem poderá ser deslocado da adoção de dietas saudáveis e de programas de atividade física para tratamentos médicos dispendiosos, como cirurgias bariátricas e medicamentos de eficácia duvidosa.
Essa discussão fatalmente chegará ao Brasil. De um lado, é fundamental reconhecer que a obesidade não é uma simples questão de força de vontade e, de outro, classificá-la como doença estigmatiza pessoas que já enfrentam o preconceito da sociedade.