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Opinião
12/06/2014 15h38

A taça é nossa

Bebeto Andrade

Por Bebeto Andrade

A Copa do Mundo de 1950 deixou marcas profundas na alma brasileira. A derrota para o Uruguai em pleno Maracanã, diante de 200 mil pessoas, abalou a nação e reforçou o nosso “complexo de vira-lata”, sentimento de inferioridade diante dos gringos. Segundo alguns jornalistas e historiadores, foi a partir daquele jogo que o país perdeu as esperanças e se tornou amargo, politicamente violento, a ponto de Getúlio Vargas suicidar-se quatro anos depois.

Somente em 1958 o Brasil respirou aliviado, com a conquista da Copa da Suécia e a aparição do gênio Pelé. O país voltava a acreditar em si mesmo: havia crescimento econômico e Brasília brotava no meio do cerrado goiano. Juscelino Kubitschek prometia avançar cinqüenta anos em cinco, e a Bossa Nova ensaiava seus acordes que logo conquistariam o mundo. A taça simbolizou a vitória do talento brasileiro, e a camisa amarela mobilizava mais paixões do que o Hino Nacional.

Em 1970 o país se dividiu: a vitória da seleção significaria a vitória do regime militar, e muitos militantes de esquerda torceram contra o time brasileiro. No entanto vencemos, e o governo exibiu os jogadores campeões sem nenhuma discrição, como símbolos da força do regime. A partir daí, gostar de futebol tornou-se sinônimo de alienação, prova incontestável da falta de educação política do povo. Torcer era o mesmo que não se preocupar com os problemas nacionais, e o futebol tornou-se o bom e velho “ópio do povo”.

Agora, em 2014, o fenômeno parece ser outro, ou seja, o buraco é mais embaixo, como dizem na minha terra. O mesmo torcedor que vibra na hora do gol, principalmente do Neymar, sai à rua para protestar contra a falta de investimentos na saúde, na educação, na segurança e contra os impostos e taxas abusivas. O mesmo torcedor que veste a camisa amarela e toma cerveja na hora do gol, também avalia com olhar crítico os candidatos para as próximas eleições. O mesmo torcedor que chora de emoção no estádio, também chora de raiva da corrupção.

Para mim, este é um bom legado da Copa: o torcedor aprendeu que futebol se joga no campo, mas a política se decide no dia a dia. A seleção merece nosso respeito e nossa torcida, mas não vai resolver os problemas do cotidiano. A Copa vai ser uma festa, mas as grandes lacunas do país continuarão exigindo soluções. Vamos torcer pela seleção, mas também vamos lutar por um Brasil melhor.

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