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Opinião
12/04/2018 08h46

Constância a técnica em telegrafia

Na fumaça do trem - José Luiz Ayres

Na estação da cidade de Ubá, MG, segundo meu saudoso pai: Luiz Ayres, havia uma mulher funcionária da ferrovia, famosa talvez por ser a única de qualidades técnicas a operar em telegrafia, que era a responsável pela manutenção dos aparelhos telegráficos e bem como nas linhas de transmissão daquele ramal férreo da zona da mata mineira, cujo nome um tanto diferente; Constância, a torná-la ainda mais conhecida.
Numa ocasião, Luiz depois de ausentar-se por algum tempo da região, retornou a Ubá onde tinha também a cidade como sua base logística. Ao deixar o expresso e retirar suas canastras com os mostruários têxteis que permaneceriam à estação sobre guarda, soube pelo Sr Pedro, chefe da estação, após indagar-se pela atraente Constância, que a mesma havia sido punida pela direção da ferrovia com 10 dias de suspensão, por um dos supervisores, ser a responsável por quase um grave acidente às proximidades da cidade Santana do Deserto-MG.
Segundo constou, Constância procurava resolver a interrupção dos sinais telegráficos para Santana que caíra ao início da noite anterior causado talvez, como fosse comum ocorrer, por corujas, morcegos e até mesmo em atos vandálicos. Percorrendo o leito férreo portando seu aparelho telegráfico, baterias e pequena escada já por bom tempo sob sol inclemente a subir e descer a escada a cada poste à procura de sinais, finalmente os encontrou a desfazer a interrupção. Porém, como havia contatado uma mensagem de outra estação a indagar-se o tráfego estaria livre de alguma composição, solicitava informação urgente, pois uma determinada fazenda receberia uma boiada vinda de Chiador e se utilizaria à passagem de nível do quilômetro 35. Como a quantidade de rezes ser por volta de 400 animais e a passagem estreita, haveria a necessidade de algum tempo à travessia da comitiva. Preocupada, assim que reparou o defeito, passou a mensagem a Santana e aguardou confirmação. Porém ao observar que a fita do aparelho acabara não pode receber resposta da sua mensagem remetida. Pondo-se a caminhar sobre os trilhos, de súbito escutou um apito ao longe e não tardou vê entrar à curva a locomotiva expelindo densa fumaça e vapores. Sinalizando-a, nota depois de dois apitos, a redução do veículo que veio a parar junto a Constância, que se introduz com seus aparatos técnicos, ajudada pelo maquinista, que diz que quase fora vítima de um grave acidente numa travessia de nível, quando deu pela frente com uma comitiva (boiada) cruzando a linha. Todavia, por sorte era dotada de peões experientes, que em tempo hábil conseguiram desobstruir a via, sem que houvesse danos aos animais. Entretanto, ao olhar para trás, viu o estrago deixado, em que as rezes assustadas tanto de um lado e outro se espalhavam pelo mato sendo cercadas pelos peões a juntá-las. Soube-se depois que a fazenda após comunicar o ocorrido a ferrovia, foi ressarcida pela perca de 4 animais perdidos naquele estouro da boiada, que em consequência trouxe uma punição a Constância de 10 dias de suspensão pelos ‘‘maus serviços prestados’’...
Naquela oportunidade a mulher era vista apenas às tarefas domésticas e procriar. Hoje felizmente elas se estenderam e já possuem seus espaços profissionais em pé de igualdade condizentes aos homens desprovidas de preconceitos.
Moral da história : Neste episódio, a corda arrebentou do lado mais fraco. Afinal seria mais fácil punir a mulher em detrimento de uma punição à um supervisor. Feliz dia 8 de março.

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