22:35hs
Quinta Feira, 18 de Abril de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1845
Opinião
11/01/2013 85h05

Custódio, uma personalidade!

Aires

Custódio, uma personalidade!

 

Degustava delicioso cafezinho, saboreando quentinho pão de queijo no barzinho do interior da estação ferroviária de São Lourenço, quando mais um carro de som quase a extrapolar os decibéis permitidos, une-se ao som de outros que por ali transitavam a falar de seus candidatos para o pleito eleitoral.

Um senhor que no bar apreciava os produtos expostos nas prateleiras, virando-se após menear a cabeça em total desacordo, esboçar um sorriso amarelo e soprar o ar, tece comentários pela insatisfação em ter que suportar tais "blá - blá - blás" a fazer de penico seus ouvidos. Chegando-se ao balcão e solicitando um cafezinho, pôs-se a conversar, atribuindo que tal prática publicitária não vai mudar nunca e que até já faz parte do folclore brasileiro. Inclusive, para ele, como disse, tornou-se um marco histórico em sua vida quando jovem, na cidade de Três Corações, foi destaque político e passou a narrá-lo.

"Por volta de 1955, em plena puberdade, estudante do grupo escolar, soube pela Professora Da. Ester, que a cidade seria visitada pelo famoso médico Dr. Juscelino, o futuro presidente do Brasil. Óbvio, sem entender das coisas, aguçou-me a vontade de ver como era um presidente de perto.

No dia do acontecimento, ao redor da estação, o local engalanou-se com cartazes, faixas e bandeiras, em que adeptos, partidários e curiosos avolumavam-se não só ali, como também no interior da estação, principalmente na plataforma, onde improvisado palanque fora montado a receber o ilustre visitante.                                                                                                           

Eu, ávido de ansiedade, com a curiosidade aflorando-se no intuito de ver de perto um presidente, resolvi esgueirar-me entre as paredes e colunas, passando espremido, a forçar passagem pela massa compacta que se aglomerava fervilhando de gente. De repente o repicar do sino da estação soou e o murmurinho reinante tornou-se mais intenso. Era o aviso de que o trem estava a caminho.

Procurando chegar próximo do palanque, aos empurrões e apertos seguia, quando, ao longe, ouviu-se o apito que, seguido de outros já nítidos, dizia que o trem logo chegaria.

Aproveitando do momento de euforia, consegui atingir a frente do público no instante em que o comboio adentrava a estação, apitando acompanhado do espocar de rojões disparados na praça. Sob estrepitosa ovação, de súbito aponta na escada do vagão o Dr. Juscelino que, elevando o braço e estampando o seu peculiar sorriso, saúda o povo encaminhando-se ao local onde pessoas importantes o aguardavam. Posicionando-se no palanque a ouvir algumas saudações, fica aguardando seu momento de discursar. Nisso, eu ali à frente a admirá-lo, sou surpreendido com um gesto do presidente como chamasse por alguém.

Ao olhar ao redor, observando que não houve comunicação a quem seria o chamado, voltei-me a olhá-lo, quando novamente o aceno foi repetido. Estranhando, já que ninguém respondeu, apontei para mim mesmo. Surpreso fiquei, quando o presidente, sorrindo, balançou afirmativamente a cabeça. Feliz, com o coração aos pulos, deixei o lugar indo ao seu encontro. Só que fui contido por um homem grandalhão em prosseguir, mas que logo a seguir conduziu-me ao palanque.

Inclinando-se levemente, Dr. Juscelino abraçou-me perguntando o meu nome, o qual revelei. Mantendo o seu braço enleado ao meu ombro, limitou-se a me olhar e sorrir, me parecendo não estar nem aí para a oratória enfadonha que hora era levada naquele instante. Por fim, ao discursar, continuei ao seu lado, tendo a sua mão apoiada ao meu ombro, que por sua vez acariciava a minha cabeça em gestos afetuosos ao referir-se às crianças do Brasil.

Findo o discurso, longamente aplaudido e ainda mais ovacionado, dirigiu-se ao vagão seguido da sua comitiva onde, na escada, em gesto de agradecimento e carinho, despediu-se.

No interior do vagão, eu que fora conduzido pela comitiva, fui mais uma vez surpreendido, quando o presidente, chamando-me pelo nome, abraçou-me e entregou sua foto, após sentar-se e escrever sobre a mesma uma dedicatória: Ao futuro político Custódio, um abraço fraterno do seu novo amigo e padrinho. Assinado Juscelino Kubitschek (JK), o presidente. Entretanto, a minha surpresa ainda maior ocorreu quando, 30 anos depois, ao visitar o museu do trem em São João Del Rei, descobri que nos anais das ferrovias mineiras, inseridas na parte tocante às celebridades e personalidades, estavam fotos nas quais, ao lado de JK, em Três Corações, eu fazia alusão ao futuro presidente como referencial às crianças mineiras a homenageá-lo. Embora aos visitantes seja apenas um mero coadjuvante "usado" demagogicamente para fins eleitoreiros a compor flagrantes fotográficos.

Infelizmente, como revelou, não fui político como previu JK, mas aquela foto com dedicatória e assinatura está emoldurada até a data de hoje e é parte integrante da sua vida às paredes das casas que residiu e reside.

Lamentamos que o presidente não tenha dado a devida atenção a este importante meio de transporte, esquecendo-se de aparelhar e subvencionar a imensa malha ferroviária do Brasil, em detrimento das onerosas, dispendiosas e caras estradas rodoviárias, o que, em consequência, levou ao sucateamento o sistema, arrastando à derrocada total, não só do patrimônio imobilizado, como do seu quadro funcional a deixá-lo a mercê da própria sorte.


Edição 762

PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br