13:51hs
Quinta Feira, 28 de Março de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1836
Opinião
03/10/2013 09h31

Fatos marcantes na querida cidade (parte IV - fim)

Filipe Gannam encerra sua fascinante história relatando sobre os fatos.

por Felipe Gannam


6-Acredito ter sido em maio de 1960 e eu estava em casa quando senti um leve tremor que pensei ser motivado por algum caminhão com muita carga que passava na rua. No entanto, pareceu-me um pouco diferente.  Depois a notícia correu: havia ocorrido um abalo sísmico em São Lourenço.  Lembro-me de alguns comentários, embora não saiba de quem vieram.  Um deles dizia que as garrafas de bebida na prateleira da Americana começaram a se movimentar e encostar umas nas outras, intermitentemente. Horas depois a Rádio Tupi dava em manchete em um de seus noticiários: abalo sísmico em São Lourenço. Lembro-me como se fosse hoje do momento em que a frase foi falada. Fiquei feliz ao ver minha amada cidade sendo falada em um noticiário nacional.

7-O Jornal do Rio de Janeiro publicou notícia na quinta-feira, 24 de março de 1966, a respeito de grande chuva em São Lourenço, que levou a explosões e muito barulho, assustando os moradores do Bairro Palmela, acredito que no domingo anterior, dia 20.  Na época eu não estava em São Lourenço. Mas pelo que li seria um tipo de acomodação de terreno em pequena escala, que levou as pessoas a formularem as mais diversas hipóteses sobre o ocorrido: pouso de naves com extraterrestres, descoberta de petróleo ― porque parece que vazou algum líquido negro na superfície ―. Infelizmente não sei mais detalhes, não estava aqui  e acredito que poucos possam se lembrar do fato.

8-Ainda no Rio de Janeiro, na manhã de 31 de julho de 1968, ouvia um noticiário qualquer no rádio, ao acordar quando fui surpreendido pela noticia de um conflito em São Lourenço. Detalhes vieram depois. A polícia prendera um mecânico por estar bêbado e aplicara-lhe uma surra na cadeia. Isso revoltou a população que se dirigiu ao local depredando totalmente o prédio. Houve choque de policiais com o povo, havendo duas vítimas fatais e um ferido grave que se recuperou. Veio reforço policial de Lavras. Nunca mais a delegacia voltou àquele local, que hoje abriga o Corpo de Bombeiros. Numa das fotos de jornais apareceu em primeiro plano o prédio onde antes existira a loja de meu pai e fora nossa residência. Lembro-me das seguintes manchetes dos jornais:

Tribuna da Imprensa: População de São Lourenço ainda está assustada e os turistas já partiram.

Última Hora: Conflito em São Lourenço, com dois mortos.

9-Finalmente, na manhã de sábado, 22 de junho de 1974, mais uma vez, eu fazia o trajeto Resende-São Lourenço. Desde abril tinha consultório na saudosa cidade sul-fluminense. No ano seguinte abri o daqui e a 31 de agosto de 1977 encerrei minhas atividades lá.  Uma manhã de frio e chuva fina. Subindo a Serra da Mantiqueira, senti-me mal, sem entender por quê. Veio-me repentina vontade de chorar. Há muito tempo eu já tinha algumas premonições que hoje são em muito maior grau.  Ao chegar aqui, soube que no dia anterior houvera um acidente com um avião Piper de pequeno porte, com o casal Dinho e Clarinda Arantes, ele, um dos proprietários da Volksvagen local. O piloto, Argemiro Araújo, fora a terceira vítima fatal. Era um casal muito querido, participava dos movimentos da Igreja Católica, ambos ainda jovens e com muitos filhos.  Integrados à vida da cidade, tendo vindo de fora, e com muitos amigos. Viajavam ao Rio de Janeiro onde participariam das festividades do lançamento de um novo carro, o Passat. O acidente foi exatamente na Serra onde não me senti bem, quando subia. O velório foi no Country Clube onde tantas festas aconteceram. A cidade parou traumatizada. Centenas de pessoas se fizeram presentes ao sepultamento. Cantaram-se várias músicas usadas no Ciclo de Formação Cristã.  Na segunda-feira, 24, regressando a Resende, comprei O Globo que dava pequena nota referente ao sepultamente das vítimas.

Lembrando-me de todos esses fatos, com imensas saudades, vem-me à mente um pensamento que escrevi há alguns anos em uma poesia: saudade, o câncer da alma.

 

 

PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br
R. Dr. Olavo Gomes Pinto, 61 - Sala 207 - Centro - São Lourenço - MG