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Opinião
11/04/2013 11h17

Maracanã (parte I)

Filipe Gannam fala sobre o estádio do Flamengo, Maracanã.

“Sempre as seis horas da manhã, no Largo do Maracanã...”

                Quando ouvia esta música, desde pequeno, ao interessar-me por futebol e mais especificamente pelo Flamengo, ficava imaginando quando chegaria meu dia de conhecer o Estádio e presenciar algum jogo do meu time.

                Fanático por futebol, no final de 1961 tive vontade de ir pelo menos conhecer o Estádio. No entanto, mamãe não quis deixar e nem  me levar.

                Certa manhã, peguei um mapa do Rio e comecei a olhar e imaginar em que direção estaria o estádio de General Severiano, no mesmo bairro de Botafogo,onde papai havia comprado um apartamento.

                Escondido, saí de casa animado, num dos momentos em que estava sozinho, pensando:

              −Hoje não durmo sem ter, ao menos conhecido o campo do Botafogo.

               Afinal, era lá que treinavam craques inesquecíveis como Garrincha, Didi, Amarildo e outros.

                Andei muito tempo e nunca achava o lugar em que queria estar. Comecei a preocupar-me com a demora em atingir o objetivo. De repente, eu estava na Lagoa!

                Tinha olhado o mapa no sentido inverso! Meu sonho de conhecer qualquer lugar relacionado com futebol, desvaneceu-se até segunda ordem .

                Mas, quem espera sempre alcança. No final de março de 1963, dias depois de chegar ao Rio para estudar, uma turma de pessoas deixou o prédio em que morávamos, incluindo o saudoso porteiro Ramos, para assistir ao maior clássico brasileiro daqueles tempos: Santos e Botafogo.

                Não eram seis horas da manhã, no Largo do Maracanã, mas eu estava no meio daquelas pessoas. O Filipinho conseguira, enfim, ver seu sonho realizado! Justamente, em um jogo daqueles, de estádio lotado, onde desfilaram craques como os acima citados e mais ainda, Pelé. O Botafogo venceu por 3 a 1. Minha estreia foi num belo jogo. Casa cheia, domingo de sol. Lembro-me de que em algum momento, de tanta gente, nossa turma acabou se desencontrando.

                Desde então foram dezenas de jogos, quase todos eles, do Flamengo. Dois destes jogos me marcaram para sempre:

                (A primeira vez de que me lembro ter adentrado o Maracanã para assistir a um jogo do meu Flamengo, estava ainda na preliminar de aspirantes. Quando desemboquei naquele tunelzinho que dá acesso às arquibancadas, antes de sentar-me quis contemplar o meu sonho realizado, de pé. E o primeiro lance de que me lembro ter visto algum jogador do Flamengo foi justamente uma falta, no meio do campo, cobrado por Wanderley Mancilha, de São Lourenço,falecido no final de março de 2013. O  mesmo que teve a infelicidade de ser o marcador de Garrincha,em 1962, quando perdemos o título para o Botafogo por 3 a 0 e houve a briga de Flávio Costa, nosso técnico, com o Gérson, que fora colocado na ponta esquerda, a contragosto).

                Em 15 de novembro de 1963, um dia depois de o Santos sagrar-se campeão do mundo, o Flamengo, justamente no dia de seu 68o , aniversário, foi enfrentar o grande rival cruzmaltino. Era o ano em que eu acabaria vendo meu time campeão carioca pela primeira vez na vida. Vencemos por 4 a 3. Mas a marcha do placar foi algo de matar do coração. Perdíamos de 2 a 0. Depois de empatarmos, o Vasco fez mais um. E, posteriormente, empatamos de novo, para vencer ao final. O último gol, de Airton, foi quando faltavam quinze minutos para o final e tive medo de enfartar, com dezesseis anos apenas, enquanto aguardava o fim do jogo. Gritei tanto que fiquei uma semana totalmente afônico. No dia seguinte, comprei todos os jornais para guardar de recordação da grande vitória que foi um dos caminhos para o título daquele ano. Lembro-me bem de que havia uma grande ressaca do mar e eu fui vê-la, em Copacabana, levando aquela penca de jornais embaixo do braço, mais parecendo um vendedor de jornais. Parece que alguém chegou a perguntar-me que jornais eu tinha para vender...

                (Quando cheguei naquela banca de jornais na Voluntários onde o dono tinha apelido, dado por nós, de “ Italianinho” − paquera de uma de  minhas irmãs − entreguei a lista dos jornais que queria por escrito, já que não podia falar nem uma palavra, tal o grau de rouquidão, ele indagou-me se eu tinha operado a garganta. Imediatamente fiz sinal de que sim. Afinal, como  iria explicar para ele tudo o que ocorrera? Por escrito, também? O pior é que isto sempre acontecia nas vitórias de meu time e ele deve ter imaginado que eu era um caso raro de malformação congênita e que nascera com mais de cinquenta amígdalas).

                Continua...

 

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