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Opinião
18/04/2013 10h40

Maracanã (parte II - final)

Filipe Gannam conclui sua opinião falando sobre Estádio do Maracanã

Em 18 de outubro de 1964, ano em que eu tinha certeza de que seríamos bicampeões, o que acabou não acontecendo, fui ver um grande Fla Flu. O mais emocionante de todos os que presenciei. O time do Flamengo jogava muito bem, mas era um dia de imenso azar, com seu jovem ponta direita Carlos Alberto saindo com fratura, logo no começo. Aliás, ele nunca mais voltou a jogar, como já aconteceu com alguns outros jogadores. Começamos perdendo de 1 a 0, mas, ainda no primeiro tempo viramos o placar. O Fluminense virou para 3 a 2 no segundo tempo, numa grande injustiça. Logo depois do terceiro gol tricolor, nosso zagueiro Ananias, pegou a bola e foi driblando vários jogadores, cheio de raça e vontade de jogar e de ganhar. Acabou sofrendo um pênalti que nos levou ao empate injusto porque merecemos o tempo todo a vitória. Melhor do que a derrota que se prenunciava depois da virada do pó-de-arroz. Este acontecimento mereceu uma poesia de minha irmã. Foi uma das maiores tristezas de minha carreira de torcedor.  

Não tenho ideia de a quantos jogos assisti, no Maracanã ou em outros estádios. Sei que foram várias decisões e muitos jogos emocionantes, que nunca esqueci.

Uma vez apenas, em 10 de agosto de 1986, consegui assistir ao vivo a uma vitória do Flamengo que o levou a um título. Foi contra o Vasco o que soou melhor para os torcedores. 

Vieram as idas ao Maracanã cada vez mais raras e, nos últimos tempos em que fui – lá se vão alguns anos − era apenas para levar os filhos.

Na decisão do Campeonato Brasileiro de 1992 eu estava no Rio, com a intenção de assistir ao jogo Flamengo e Botafogo, onde o meu time sagrou-se campeão do Brasil pela última vez. Na hora senti-me inseguro e nervoso. Tinha medo de o Flamengo não ganhar o título. Também de que acontecesse alguma confusão no Estádio, o que acabou ocorrendo, com o desabamento de uma parte do alambrado das arquibancadas.

Preferiu o velho rubro-negro de mais de três décadas ir ao cinema a sofrer.  

No domingo, 5 de novembro de 2000, o velho torcedor voltou ao templo do futebol. Lá estava ele, para assistir a mais um Fla Flu. Mais um jogo do time de sua paixão. Mas ele se sentiu cada vez mais distante do jovem torcedor que um dia chegou ao Rio querendo conhecer o Estádio. O passado foi evocado imediatamente.

No presente,  80 a 90% dos que vão aos estádios, são mais novos do que ele. Há 50 anos, quando foi ao Maracanã pela primeira vez para ver Pelé e Garrincha, um contra o outro, era exatamente o contrário. Isto é doloroso!

O Flamengo de hoje, não tem a raça que tinha anos antes, de grande lutador, de dar a vida por uma vitória. Tudo mudou! Embora se escutem vozes, gritos, xingamentos, torcida vibrando, nos raros jogos assistidos pela TV, na maior parte do tempo aquilo parece um deserto.

Indago a mim mesmo, entristecido: − onde estão as vozes que tantas vezes ouvi em minhas vindas ao Estádio? De que adiantou toda aquela gritaria, torcida, vibração, xingamentos ao juiz e à sua mãe? Tanto desgaste, para quê? Quantas e quantas vozes se calaram para sempre? Qual teria sido a última imagem de nosso Flamengo que levaram para a eternidade? A do Flamengo lutador ou a do Flamengo dos últimos tempos? Onde estão todas as pessoas que um dia me acompanharam em tantos e tantos jogos? Muitos estão mortos fisicamente... Outros, embora ainda não o estejam, é como se estivessem, pois existe a certeza de que nunca mais os verei. Onde está meu amigo José Natal Patitucci, de Niterói, que me acompanhou no primeiro Fla Flu de minha vida? Onde está meu amigo e conselheiro Antenor Belém que encontrei um dia no Maracanã, por coincidência quando fui assistir a um jogo com o Bangu em 1970 e que vencemos de virada por 2 a 1, no finalzinho? Onde estão tantos, tantos outros com quem usava conversar sobre o time da Gávea?

Vida que segue...

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