por José Luiz Ayres
Em Conservatória, localidade serrana Fluminense famosa pelas serestas nas ruas nos finais de semana, um senhor que se hospedou na pousada a qual nos encontrávamos, se chegou pondo-se a conversar indagando sobre o importante evento, já que era a primeira vez que visitava a cidade, embora há anos escuta falar do belo espetáculo seresteiro.
Todavia contou-nos, que estava mais feliz ainda ao deparar-se com a Maria-Fumaça RMV-206, perpetuada em monumento, à ex-estação ferroviária, - hoje a rodoviária – como símbolo da cidade, ali imponente e majestosa bem preservada a maravilhar aos turistas de todas as idades, a servir como cenário de fundo aos flagrantes fotógrafos e cinematográficos, cujos registros é a relíquia viva de um passado sem dúvida romântico.
Aquela máquina, ao vê-la, depois de subir e adentrar a cabine e circular na carvoaria, lhe proporcionou uma forte emoção a ponto de chegar as lágrimas, pois transportou-se ao passado a relembrar sua juventude quando teve seu primeiro trabalho.
Contratado pela RMV como auxiliar de foguista, passou quase um ano a padejar o coque (carvão mineral) na alimentação da fornalha da caldeira, para tornar-se foguista e posterior passando a operar na máquina; como maquinista da 332, durante seus quinze anos de rede, onde a deixou, para vir ao Rio de Janeiro e ingressar na Marinha Mercante como mestre de máquinas até obter sua aposentadoria.
Ao ouvir o número 332, lembrei-me do Trem das Águas e contei sobre a Maria-Fumaça. Surpreso e perplexo, não crendo na informação, visivelmente abismado, queria porque queria mais detalhes, pois não poderia ser verdade tal coisa. Seria o seu maior desejo nos seus 82 anos de vida, poder revê-la ainda em atividade.
No fim da manhã do domingo, estávamos nós em S. Lourenço à plataforma da estação, com o seu Caetano como uma criança diante do seu brinquedo a observar tudo a sua volta, quando o apito ecoou no ar. Ansioso de olhar fixo ao longo da linha, estático permaneceu cheio de expectativa. Finalmente aponta na curva, barulhenta e fumegante estampando o número 332 na lateral da carvoaria a gemer sobre as rodas a esperada companheira, que a deixou há 48 anos...
Emocionado vê passar a sua frente soando o sino característico pela sua chegada e o som do tranco dos vagões pela parada. Apressado vai na direção da locomotiva, onde vibrando galgou os degraus se introduzindo à cabine juntando-se aos maquinistas, em que após algum tempo junto com os profissionais deixam a máquina chegando-se a nós que pacientemente os aguardava.
- Amigos, as despesas serão por minha conta. Hoje me sinto realizado e aliviado, pois paguei a dívida pela minha ingratidão que me torturou há 48 anos. Obrigado meu bom Deus por ter conhecido essas pessoas que me proporcionaram o encontro do elo perdido da minha vida, cuja saudade permaneceu e permanecerá eternizada na minha alma. Só que agora não mais doida, pois enquanto tiver saúde, sempre estarei a visitá-la a massagear o ego com saudosas lembranças ao lado da amiga, Maria-Fumaça 332 ...