03:37hs
Sexta Feira, 19 de Abril de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1845
Opinião
01/08/2013 15h13

O encontro do elo perdido 332

José Luiz Ayres

por José Luiz Ayres

 

Em Conservatória, localidade serrana Fluminense famosa pelas serestas nas ruas nos finais de semana, um senhor que se hospedou na pousada a qual nos encontrávamos, se chegou pondo-se a conversar indagando sobre o importante evento, já que era a primeira vez que visitava a cidade, embora há anos escuta falar do belo espetáculo seresteiro.

Todavia contou-nos, que estava mais feliz ainda ao deparar-se com a Maria-Fumaça RMV-206, perpetuada em monumento, à ex-estação ferroviária, - hoje a rodoviária – como símbolo da cidade, ali imponente e majestosa bem preservada a maravilhar aos turistas de todas as idades, a servir como cenário de fundo aos flagrantes fotógrafos e cinematográficos, cujos registros é a relíquia viva de um passado sem dúvida romântico.

Aquela máquina, ao vê-la, depois de subir e adentrar a cabine e circular na carvoaria, lhe proporcionou uma forte emoção a ponto de chegar as lágrimas, pois transportou-se ao passado a relembrar sua juventude quando teve seu primeiro trabalho.

Contratado pela RMV como auxiliar de foguista, passou quase um ano a padejar o coque (carvão mineral) na alimentação da fornalha da caldeira, para tornar-se foguista e posterior passando a operar na máquina; como maquinista da 332, durante seus  quinze anos de rede, onde a deixou, para vir ao Rio de Janeiro e ingressar na Marinha Mercante como mestre de máquinas até obter sua aposentadoria.

Ao ouvir o número 332, lembrei-me do Trem das Águas e contei sobre a Maria-Fumaça. Surpreso e perplexo, não crendo na informação, visivelmente abismado, queria porque queria mais detalhes, pois não poderia ser verdade tal coisa. Seria o seu maior desejo nos seus 82 anos de vida, poder revê-la ainda em atividade.

No fim da manhã do domingo, estávamos nós em S. Lourenço à plataforma da estação, com o seu Caetano como uma criança diante do seu brinquedo a observar tudo a sua volta, quando o apito ecoou no ar. Ansioso de olhar fixo ao longo da linha, estático permaneceu cheio de expectativa. Finalmente aponta na curva, barulhenta e fumegante estampando o número 332 na lateral da carvoaria a gemer sobre as rodas a esperada companheira, que a deixou há 48 anos...

Emocionado vê passar a sua frente soando o sino característico pela sua  chegada e o som do tranco dos vagões pela parada. Apressado vai na direção da locomotiva, onde vibrando galgou os degraus se introduzindo à cabine juntando-se aos maquinistas, em que após algum tempo junto com os profissionais deixam a máquina chegando-se a nós que pacientemente os aguardava.

- Amigos, as despesas serão por minha conta. Hoje me sinto realizado e aliviado, pois paguei a dívida pela minha ingratidão que me torturou há 48 anos. Obrigado meu bom Deus por ter conhecido essas pessoas que me proporcionaram o encontro do elo perdido da minha vida, cuja saudade permaneceu e permanecerá eternizada na minha alma. Só que agora não mais doida, pois enquanto tiver saúde, sempre estarei a visitá-la a massagear o ego com saudosas lembranças ao lado da amiga, Maria-Fumaça 332 ...

PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br