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Opinião
22/08/2013 10h47

Retratos da Vida (parte XII)

Carmem Lúcia

Muitas vezes aguardamos ansiosamente o final de uma novela, mas não é o que esperávamos. Em outras achamos que valeu a pena acompanhá-la. Não sei se o encerramento desta será o que os leitores esperavam. Mas tenho noção de que os esforços foram imensos, às vezes fora do comum, para que tudo chegasse a um bom termo.

Pedir ajuda aos colegas que já havia encontrado, nem pensar. Nenhum deles nem apenas guardara a foto e quase ninguém sequer se lembrou de sua existência.

Sei que devem estar curiosos para saber o que aconteceu finalmente no affair Carmem Lúcia. Então, vamos lá.   

Ela era do Estado do Rio, penso que de Niterói, morena clara, simpática e extrovertida. Provavelmente a que tive menos contato daquela turminha. No entanto, sentia que tinha por mim uma queda, embora a recíproca não fosse verdadeira. Um dia, ouvi-a dizer baixinho no elevador em que nos encontrávamos:

– Vem para perto de mim!

Fingi não ouvir, pois nunca fui de me aproximar de meninas pelas quais não tinha atração.

Numa aula de Química Inorgânica fez uma pergunta ao professor Gilberto e recebeu uma patada como resposta. Imediatamente, Piauí se rebelou e perguntou ao jovem mestre:

– Como você tem coragem de responder assim para uma moça? 

Sem graça, ele não respondeu nada.            

Em seguida ao vestibular, ainda tive algumas notícias dela, embora nunca mais a tenha visto. Por vezes parecia-me que fizera Medicina em Portugal, em 1967, depois, minha mente clareava e achava que era na Federal Fluminense, hipótese mais provável.

Se nem minha memória tão boa lembrava seu sobrenome, embora alguns me passassem pela cabeça, imaginem as dos outros que estavam na foto.

Ela foi a que me deu mais trabalho na busca.

Escrevi para o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, pedindo informações, em vão. Abri em várias páginas da Internet, sem sucesso algum.

De repente, me veio a luz: – quem sabe se eu abrir na página do Conselho e verificar todas as Carmens Lúcias que são médicas no Estado, vou conseguir chegar a uma conclusão?

Havia umas dez ali. Pelos seus números de  CRM consegui entender quais eram as que poderiam ter mais ou menos a minha idade. Apenas duas. Mas como saber onde se encontravam? Na Lista Online da cidade do Rio, não estava nenhuma delas. Como procederia?

Outra vez queria levar até o final meus trabalhos de detetive, mas achava difícil. Fiz xerox de uma lista com todas as cidades do Estado do Rio, disposto a procurar em uma por uma, na Lista Online. Achei uma médica Carmem Lúcia em Porciúncula, mas pelo contato telefônico, tive certeza de que não era quem eu buscava.  

Ali pelo meio da pesquisa, cheguei a Barra do Piraí. Encontrei uma que podia ser ela, médica obstetra, formada um ou dois anos depois de mim e com a idade esperada. Engraçado é que sua secretária, antes que eu conseguisse falar direto com ela, me dissera que ela se formara na Fluminense, no ano que eu imaginava o que faria reforçar a hipótese de ser a própria.  

Quando falei diretamente com a Carmem Lúcia, alguns dados diferiram dos que foram anteriormente informados pela secretária. A faculdade já não era aquela e nem o ano de formatura. Mas parecia que eu estava reconhecendo a voz como se fosse dela e que ela hesitava em me falar a verdade. Não entendi o porquê. Supus que não queria se identificar. Ficou a dúvida para sempre em minha cabeça. Talvez tivesse que viajar a Barra do Piraí e vê-la face a face, mas não quis chegar a esse extremo. Seria muito fanatismo. Se a pessoa quer se manter ao largo, tem esse direito.                            

Fiquei na certeza de que ela temera um sequestro ou coisa que o valha, fato que não havia ocorrido – sorte minha – com qualquer um dos outros. Infelizmente com acontecimentos que vão surgindo no passar dos tempos, a sociedade, como um todo, vai se moldando e se tornando diferente.

Melancolicamente dei meus trabalhos de detetive como encerrados. A novela teve fim e não sei se o final agradou aos leitores que tiveram a paciência de acompanhá-la nesses três meses.

Mas na semana que vem ainda encerrarei os relatos tirando minhas conclusões.

(continua)

(Escrito em 2013: no começo do ano de 2011, não me conformando por não ter encontrado de fato a Carmem Lúcia, resolvi outra vez ver a lista das médicas com esse nome inscritas no CRMRJ. Logo no começo li um onde o sobrenome era Barbosa Porto.  Não sei por que, aquilo me soou familiar. E não entendi como da outra vez não o notara.  Com muita pesquisa na Internet, descobri o telefone dela, como médica obstetra, em Araruama.  Fiquei felicíssimo quando liguei e ela afirmou que era a própria. Mandei livro, retratos que ela não tinha mais e desde então somos amigos no Facebook mas raramente nos comunicamos pessoalmente. No entanto, só de ler suas mensagens e poder mandá-las e às vezes vendo-a curtir alguma, já me sinto feliz.  Sinto-me com a vontade que tinha totalmente realizada. Acredito que nunca nos veremos face a face. Mas pior teria sido não encontrá-la).

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