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Opinião
05/01/2017 10h12

Um peão além da conta

José Luiz Ayres

Certa feita, meu saudoso pai Luiz, depois de aguardar em Cruzeiro à liberação do expresso rumo ao sul de Minas, após horas de espera à plataforma, chega finalmente à cidade de Passa Quatro, onde de acordo com o seu roteiro, apenas previa  duas visitas a comerciantes e a tarde embarcaria no trem  que o levaria a cidade de Lavras dando prosseguimento sua rotina de trabalho.

Todavia, o atraso considerável o fez mudar seu roteiro e permaneceu na cidade.  Mas quando  retirava suas canastras de mostruários do vagão de cargas, alguém o tocou no ombro e ao se voltar depara com o colega Monsanto; um velho “nômade” , conhecido por essa região como comprador de gados e useiro na utilização dos transportes ferroviário ao Rio de Janeiro, - que àquela época eram  obrigados a permanecer confinados em quarentena, nos curais apropriados, até a liberação após verificação das vacinas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária  -  e abrindo um sorriso,  cumprimenta-o  pondo-se a prosear, quando Monsanto preocupado, apontando à área defronte a estação, em que centenas de animais da raça nelore se sobressaem e fala:  - Imagine que estou aqui sem saber o que fazer, pois dentre eles, 50 me pertencem e o restante pertencem a dois fazendeiros, os quais tenho que aguardá-los na verificação para então, separá-los pelas marcas de propriedades neles inseridas.

Luiz um tanto abismado, diz que a tarefa não vai ser fácil, no que pesem as marcas. Penalizado por Monsanto, se ofereceu a ajudá-lo, no que o mesmo aceitou. Deixando seus pertences à guarda da estação, desceram aos trilhos e foram a tal área onde o gado estava confinado e puseram mãos a obra.

Em conversa enquanto executava a tarefa, Monsanto contou que o motivo da mistura dos animais,  deveu-se por estupidez de um dos peões responsáveis na guarda noturna,  a atribuir a agitação de algumas rezes , se tratar de onças rondando o local. Tomado talvez pela tensão, resolveu disparar o  rifle algumas vezes, no que ocorreu, em meio ao plantel, a causar verdadeira, como dizem: “o estouro da boiada”, que em consequência as cercas divisória foram arrebentadas a uni-los  num único local.

Com certa dificuldade os dois, Monsanto e Luiz, conseguiram  em duas horas e meia, pois o anoitecer se avizinhava, separarem 32 animais  a deixar para a madrugada o término da tarefa, pois tinham conseguido da ferrovia o embarque para Cruzeiro  em dois vagões de carga viva, que seriam tracionados  ao cargueiro  vindo de Varginha  previsto às 7,45 daquela manhã. Mesmo nesta operação atípica às normas de tráfego, em que transporte de animais  não há inclusão de qualquer outro tipo de cargas, dada a velocidade baixa da composição  a evitar o estresse dos animais, as 7,10 hs aportou a plataforma o cargueiro, onde os dois vagões foram acoplados ao comboio, com Monsanto à cabine da locomotiva sendo também conduzido, sem antes agradecer ao amigo Luiz por tudo que o ajudou, a reconhecer o que realmente é uma verdadeira amizade.

Surpresa foi, quando Luiz chegou ao hotel louco por um banho, a livrar-se do “bodum dos currais”  ,e é avisado pelo hoteleiro que o pernoite já estava pago,  assim como encontra-se junto a estação ferroviária, a sua disposição, uma pick-ul  azul, Ford 1934 que o levará até Lavras. Minutos depois, já embarcado  com seus pertences, devidamente higienizado e alimentado, lá foi Luiz  pelas estradas: digo, caminhos poeirentos e acidentados  a sacolejar-se à boleia da pick-up a Lavras...

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