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Opinião
02/02/2017 10h04

Um trem, a cabine e o sonho de Emília!

Por José Luiz Ayres

Como não bastassem os inúmeros episódios narrados por meu saudoso pai Luiz, dado ao período de sua vida que teve os trens como companheiros a ajudá-lo à labuta diária na profissão de caixeiro viajante, minha adorável e inesquecível mãe, Yolanda, também teve suas historias, onde o trem mostrou parte como integrante de narrativas, vez que se utilizou desse meio de transporte durante a época; como mocinha, que passava seus fins de semana e férias escolares à fazenda de vovô à localidade de Taboas, distrito de Rio das Flores, RJ.

Embora o episódio a ser descrito não tenha ocorrido na fase que freqüentou a fazenda e sim no ano de 1950, não poderia deixar de crônicá-lo, tal o humor verificado pelo fato em si, em que uma amiga tornou-se à personagem central.

Emília, foi como outras tantas, uma grande amiga de Yolanda, não só de colégio, mas na vida cotidiana enquanto viveu. Segundo mamãe, seu maior sonho e desejo era ter sua primeira noite de casada acontecida num trem noturno com destino a São Paulo ou Belo Horizonte, acomodada em cabine individual, pois seria bem romântico e emocionante ser embalada pelo balanço do trem.

Em 1950, Emília teve seu casamento realizado e obvio o seu desejo cumprido, com o destino a Belo Horizonte e a lua-de-mel em Ouro Preto.
Partindo da E. F Central do Brasil às 21hs, lá foi o casal de pombinhos ocupando sua cabine no expresso Santa-Cruz, que na oportunidade presenteava aos nubentes com uma champanhe como cortesia da ferrovia. Cheios de mesuras, pudores, recatos e carinhos comedidos, o que era lógico e não como hoje acontece, o casal envergonhado procurava; mais a mulher, se preservar não se expondo logo a nudez sem o recato comum da época, a resguardar-se pelo pudor que eram tomados. Claro que tais procedimentos núpciais seriam quebrados ao longo da noite e tudo seria romântico e maravilhoso.

Depois de brindarem o momento, com as tendências hormonais aflorando intensamente, Emília solicitou do amado que deixasse a cabine enquanto trocava de roupa. No estreito corredor então, o amado posicionou-se a olhar pela janela envidraçada o exterior da via férrea, em que as luzes brilhantes das cidades despontavam a lhe proporcionar imagens, que misturadas às fantasias do momento nupcial, traziam em devaneios mais emoções e êxtase.

Ávido pela abertura da cabine a espera do chamamento de Emília, quando a porta de acesso ao vagão foi aberta pelo agente que ao passar o cumprimentou. De imediato à passagem do homem, de repente um grito abafado ecoa, vindo de sua cabine. Assustando-se, o amado aciona a maçaneta que se mantinha trancada e, batendo à porta grita por Emília no exato instante que a porta se escancara e sua amanda nua, deixa a cabine se abraçando ao marido em total desespero a dizer que um rato se encontrava no interior do vaso sanitário. Tentando entrar à cabine, onde é seguro por Emília, se desvencilha e vai a cata do intruso roedor. Sem atentar que estava no corredor do vagão, aflita, em desespero fica no aguardo da solução da operação “caça rato”, quando ao virar-se, depara-se com aquele agente, que ao escutar o vozeio aflitivo, retornou a ver o que estava ocorrendo; assim como de algumas cabines, pessoas abriram suas portas a fim de verificar o que estava havendo, tal alarido.

Sob forte tensão, Emília desligada e apavorada, finalmente se toca de como se encontrava, ao ter do agente o seu palitó oferecido a se cobrir. Tomada pela vergonha por estar nua, se cobre e pede ao bom homem que vá verificar o que se sucedia. Agachando-se junto a porta, acabrunhada, sob o palito do agente a se cobrir, de súbito a porta se abre e o amado abraçando-a, a faz entrar para logo em seguida o agente com o rato morto seguro pelo rabo com o auxílio de um papel, deixa a cabine ao intuito de lançá-lo fora do trem, a retornar depois a apanhar o seu palitó que serviu como roupão a envergonhada Emília, cuja primeira e esperada sonhada noite no interior de um trem noturno, ficaria marcada indelevelmente, mesmo após o eterno; “em fim a sós”. Já que na verdade houve as participações de “convidados” extras com cenas de muito humor e naturismo provocadas por um intruso e asqueroso roedor ao se intrometer sorrateiramente naquele ninho de amor!

Felizmente, como contou Emília a sua amiga Yolanda, mesmo tudo tendo só se iniciado por um pesadelo, aquele sonho de estar à cabine de um trem, tornou-se real após os momentos inesquecíveis desfrutados pelo balanço gostoso do trem, onde a cada curva acentuada a juntar mais seus corpos, dava o toque amoroso de felicidade àquela indescritível madrugada!

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