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São Lourenço - Notícias
26/11/2014 16h15

Entrevista com Eliasar Eduardo sobre a construção da pista de skate

Personalidades de São Lourenço conversam com o Correio do Papagaio

 

A matéria sobre a construção da pista de skate gerou alguma polêmica nas redes sociais e entre a população de São Lourenço. O jornal Correio do Papagaio procurou o empresário Eliasar Eduardo, que trabalha no meio há 20 anos e que é um parceiro na viabilização do sonho dos jovens e skatistas da cidade.

Em entrevista, Eliasar explicou o projeto em mais detalhes, falou sobre as vantagens e perigos da construção da pista e mais. Confira abaixo o bate-papo com Eliasar Eduardo.

 


Correio do Papagaio: Como foi que você se tornou parceiro no projeto da pista de skate?

Eliasar Eduardo: Nós fomos procurados pelo vereador, o William [Eventos]. Se bem que a gente já havia enviado o projeto da pista a várias outras administrações, vários outros vereadores, secretários... Fomos procurados pelo William, que disse que tinha a vontade de construir uma pista de skate, fazer algo pelo pessoal mais jovem da cidade.


Correio do Papagaio: Qual o impacto ambiental e social do projeto?

Eliasar Eduardo: A pista de skate é uma obra integradora, assim como é o forró da praça. As pessoas que gostam, se reúnem ali e têm o seu momento de lazer nos finais de semana. A pista de skate é isso. O impacto social do projeto é grande, porque você mistura pessoas de várias idades, de várias classes sociais. O skatista é muito ambíguo, não existe uma classe predominante. Então esse é o impacto social.

Nós estamos inseridos no meio há mais de 20 anos. Pistas de skate que são feitas em regiões remotas, longe, elas geralmente se transformam em pontos de tráfico e acabam sendo destruídas. Isso aconteceu várias vezes, em Poços de Caldas, em Itajubá... já pistas de skate que são colocadas em lugares mais centrais, elas se perpetuam mais. É o caso de Pouso Alegre, ou Skate Park, de onde saiu skatistas como o Bob Burnquist, que é o maior medalhista do X-Games, várias vezes campeão mundial, o Mineirinho Sandro Dias, que já foi várias vezes campeão mundial, ou Rodil Ferrugem. Um local com mais visibilidade ele tende a proporcionar benefícios ao projeto.


Correio do Papagaio: A escolha da praça para a sua localização está gerando alguma polêmica na cidade. Porquê a praça da Federal?

Eliasar Eduardo: Vocação natural: diariamente você vê pessoas andando de skate ali. Tem ali também eventos culturais que associa, não é só o skate, tem a musica, tem a cultura, tem a arte. É tudo inserido. A grande vantagem dali é de se aproveitar de uma estrutura que já existe. O comércio, o local, a visibilidade. Seria uma melhor opção hoje.

 

Correio do Papagaio: A construção poderá colocar em risco a integridade física da praça?

Eliasar Eduardo: Não, de forma nenhuma. Ela foi pensada ali, até porque seria mais econômica em termo de fundação, ela vai mudar muito pouco a estrutura existente ali.

 

Correio do Papagaio: E por que não construir na Ilha Antônio Dutra, por exemplo?

Eliasar Eduardo: A Ilha é um local muito ermo. Ela está inserida num meio onde não tem residências, não tem comércio. Isso tudo irá favorecer a prática de atividades ilícitas no local.  Crianças, jovens e adolescentes são os mais procurados por traficantes, molestadores. Então num local com maior visibilidade você evita esse problema. Senão você cria uma pista de skate, mas cria também um problema social.

O grande problema de construir ali é que teremos que fazer fundação, iluminação, que não tem, cercar o local.... Então provavelmente a verba disponível não alcançaria os custos de uma obra ali.

E provavelmente a Festa de Agosto também iria interferir com a pista: é muito comum você ver o pessoal usando toda a construção de banheiro.

 

Correio do Papagaio: Você pode explicar melhor como foi toda a elaboração do projeto?

Eliasar Eduardo: O projeto foi constituído e pensado há muito tempo. Não é só desenhar uma planta e fazer. Você tem também que pensar na parte ambiental, ecológica... É só menino que anda de skate? Não, tem menina também. A pista é para todos: tem pessoas de 2 anos, tem pessoas de 12, tem de 22, tem de 32... então você tem que pensar na melhor forma de compor o projeto.

Ai imagina você está andando de skate, sente fome e aí você vai comer. Da Ilha até você achar uma lanchonete é longe. E você quer voltar para pista. Não há a estrutura física necessária no entorno. Não é que lá não pode ser uma pista, pode, mas a chance do projeto ‘degringolar’ é grande.

O projeto foi doado por uma empresa, porque nenhum skatista teria a capacidade de determinar a distância ideal de uma rampa reta para uma pirâmide, ou poucos teriam. O projeto foi doado por uma empresa, só que nós o adaptamos. Para isso, chamamos alguns skatistas mais experientes, Leonardo Rodrigues, Karl Viana, João Luis, que andaram no passado, participaram de campeonatos, trouxeram as suas experiências do que seria bom, do que seria ruim e elaboramos o projeto.

Ele é totalmente direcionado ao contexto atual do skate.

 

Correio do Papagaio: E a construção e a doação dos moldes para a pista?

Eliasar Eduardo: O grande problema das pistas são as transições, que é quando você sai do plano pra entrar nas rampas e obstáculos. Então aquele ‘soco’ ele é minimizado através de estudo. Nós conhecemos pessoas que vão fazer os moldes, que vão cobrar e nós vamos doar para a empresa ganhadora. Para evitar esse tranco na entrada e saída dos obstáculos.

 

Correio do Papagaio: Há várias modalidades de skate, mas os skatistas da cidade praticam mais o estilo street. Você acha que a construção da pista ali naquele lugar será complementar a essa prática ou poderá atrapalhar os esportistas?

Eliasar Eduardo: Para quem é leigo, ouve-se falar de ‘pista de skate’ e não entende bem. O skate ele é uma coisa da rua. Como se praticava na rua, as pessoas saltavam escadas através do corrimão com o skate; elas andavam nas bordinhas das lojas... Então as pessoas adaptaram isso para a pista, para evitar dano ao patrimônio público. Mas na verdade a rua é o local para andar de skate. Por isso que a praça é o ideal, ali ela tem o rinque, as escadas, o corrimão foi feito... A pista estaria totalmente dentro do contexto.


Correio do Papagaio: Quem poderá frequentar a pista de skate?

Eliasar Eduardo: A pista não irá interferir em nada no que existe na praça, nos bancos, nos leões... Só tem uma árvore que vai ter que ser removida, mas o secretário de obras garantiu que ela poderá ser replantada em outro local. De resto todo mundo poderá continuar usando a praça. E a pista, qualquer pessoa que tem o skate, a habilidade... de 2 anos, de 50 anos, homem ou mulher...


Correio do Papagaio: O que representa para você a construção da pista de skate em São Lourenço?

Eliasar Eduardo: É um sonho antigo. Na minha opinião uma empresa ela não pode só se beneficiar do comércio. Ela tem que também de uma certa forma ajudar na comunidade, interferir, e essa é a nossa contribuição. A empresa tem um papel social também, então essa é uma contribuição nossa.

As pessoas que estou vendo opinar e falar e que são contra a construção da pista, ou são vereadores contrários ao William e ao prefeito ou são pessoas ligadas a essa arbitrariedade que existe.

As pessoas falam: “vamos trazer um mega-evento para São Lourenço”. Nós não temos ‘mega-eventos’. Onde você vê mega-eventos, eles acontecem onde? São Paulo, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu... Você não vê mega-eventos em cidades pequenas. De uma forma geral não existe, a menos que ele tenha sido construído, como é o caso de Barretos. Fora isso, não tem mega-evento em cidade pequena, até porque ele custa muito caro.

Um evento de MegaRampa, por exemplo, ele é patrocinado pela Oi, pela Volvo, pela Sony, porque custa uma fortuna... Um skatista como Bob [Burnquist] ele cobraria em torno de 2 milhões de reais para participar de um evento. Nós não temos esse dinheiro.

E as pessoas confundem ‘pista de skate’ com campeonato. Pista de skate ela tem que servir à população. Ela tem que servir ao pequenininho que está aprendendo e ao cara mais descolado. Ela tem que ser uma coisa média. Ela não pode ser uma coisa magna, porque poucas pessoas vão se aproveitar. É um esporte muito difícil. Está sendo discutido por pessoas que nem sabem, nem conhecem o mercado e não convivem. Eu convivo há mais de 20 anos. Hoje tem skatista que é medico e tem skatista lá no presídio. Tem skatista que deixou de ser skatista e tem skatista que o é até hoje, trabalha lá na montadora mas até hoje anda de skate porque gosta.

As pessoas andam discutindo muitas coisas, mas em mais de 20 anos nunca se falou em construir. Agora que tem a verba, que pode construir, aí vai fazer uma coisa ‘magna’. Que não existe em local nenhum, não existe uma ‘pista magna’, eu não conheço. Existem pistas boas que atendem uma certa população, a pista de Madureira, que é excelente, tem um outro lugar que a Adidas fez uma pista que também é excelente. Mas não existe uma ‘pista mirabolante’, não, isso é construído para aquele evento. O Red Bull faz ali na hora.

Essas pistas que a gente vê em grandes campeonatos elas são feitas na hora para o evento.

Nós estamos falando de uma pista para servir a população em geral, a quem quiser e quem gostar. Não estamos falando de nada mais. Se ficar perene, constante, muito melhor, o beneficio será grande.

O que nós estamos propondo é uma pista pequena para atender todo mundo. Nós temos menino aqui que consegue saltar com skate 80 cm, mas tem menino que salta 2 cm ou 5 cm. Então não podemos falar de uma ‘pista profissional’, porque ela não vai atender todo mundo. Se fizermos uma pista profissional aqui em São Lourenço, hoje, vamos ter no máximo três skatistas usando. A pista que estamos propondo ela é bem superior à necessidade da comunidade em geral. O pessoal fica falando, mas não tem conhecimento.

Agora, uma pergunta: porque que eu posso colocar uma tenda de forró na praça, mas não posso colocar uma pista de skate em outra?


Correio do Papagaio: Acha que o skate ainda trás um preconceito?

Eliasar Eduardo: Grande. É uma cultura que está mudando, mas o skate é um esporte novo. Embora tenha skate desde 1910, em 1918 foi encontrado um skate em uma ruína de uma loja de brinquedo nos Estados Unidos. Mas ele surgiu mesmo a partir dos anos 70 e para quem não sabe, Venice Beach, uma das praias mais famosas da California era um parque abandonado e hoje se transformou em Venice Beach graças ao skate.

O preconceito tem, é lógico. Eu gostaria de entender porque não pode ser na praça da Federal? Porque ali ele vai dar mais visibilidade, as pessoas vão estar mais vigiadas.

Nós estivemos lá várias vezes, medimos tudo... é muito fácil falar, ‘vou fazer’, ‘não pode ser’ ... mas não têm conhecimento nenhum, as pessoas  nem viram o projeto, nem sabem.

 

 Segue o projeto dos obstáculos e da pista de skate, disponibilizado por Eliasar Eduardo.

 

 

Confira a reportagem sobre a construção da pista de skate em São Lourenço.

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