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São Lourenço - Notícias
02/10/2014 09h12

O complexo problema do lixão em São Lourenço tem solução?

Muito já foi dito sobre o lixo, o lixão e São Lourenço. Muito já foi discutido, opinado, pensado e noticiado. E o que foi realmente feito? Quais as soluções a curto, médio e longo prazo?

Por Deborah Penna

 

Em 2010 foi criada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS), instituída pela Lei Federal 12.305/2010, que estabeleceu um prazo de quatro anos para a erradicação dos lixões em todo o território nacional. A lei determina a destinação inteligente e segura dos resíduos, como aterros sanitários, reciclagem e produção de energia. O prazo terminou em agosto de 2014 e muitas cidades não cumpriram com o determinado.

O jornal Correio do Papagaio conversou com o prefeito José Neto a respeito das ações tomadas aqui em São Lourenço. Segundo o prefeito, foi criado, em 2009, junto com outras nove cidades, um consórcio intermunicipal de desenvolvimento sócio-ambiental. “A missão principal desse consórcio é solucionar o problema dos resíduos sólidos nos nove municípios envolvidos. Somos uma das poucas cidades brasileiras que tomaram uma atitude”, esclareceu José Neto.

A localização desse espaço que receberá o lixo dos municípios será em Cristina - que fica a aproximadamente 34 km de São Lourenço - e, segundo o prefeito, a previsão para que fique pronto é para o final de 2015.

E até ficar pronto?

Durante anos o lixo da cidade foi depositado no lixão a céu aberto, localizado no bairro Recanto das Paineiras, estrada do curtume, ao lado de um córrego do Rio Verde.

O chorume é o nome dado ao líquido com odor forte da decomposição de resíduos orgânicos que, somado à agua das chuvas, pode cair diretamente nos rios, principalmente quando o lixão se encontra próximo a um.

E esse é um dos graves problemas do lixão: a poluição do Rio Verde, que além de banhar outros municípios, em caso de enchente é um perigo iminente para as águas minerais.

A medida para controlar os efeitos negativos do lixão até a usina de Cristina ficar pronta foi a de fazer um “aterro controlado”, ou seja, comprimir a montanha de lixo que se formou com os anos de despejo e cobrir com terra. É como varrer para debaixo do tapete um problema grave e sério que acompanha todas as cidades do mundo.

“Basicamente, a única diferença que existe entre um lixão e este aterro controlado é que eles jogam terra por cima. A única coisa que eles evitam é que, pela ação do vento, essa poluição se propague levando sacolinhas plásticas e material leve pelo vento.  No mais eles jogam a terra por cima de um material que não é separado nem tratado”, afirmou ao Correio do Papagaio o gestor e analista ambiental, Braz Leandro.

Ou seja, o chorume continua contaminando diretamente o Rio Verde e a nascente de água que tem ao lado do lixão. “O chorume infiltra o solo e contamina o lençol freático e também é levado pela água da chuva para o rio”, continua Braz.

A verdade é que há ainda muito trabalho a ser feito e é necessário mais conscientização em relação aos cuidados com esse aterro controlado.

“Mesmo depois que o lixo for enviado para Cristina o chorume vai continuar ali e o local vai continuar contaminado por mais de uma centena de anos”, garantiu ainda o analista ambiental.

O prefeito garante que já foi estabelecido um plano de recuperação ambiental para ser implantado depois que o lixo sair dali, de forma a tentar acelerar o processo de recuperação das terras onde foram depositados tanto lixo, durante tanto tempo.

Em Cristina como será tratado o lixo?

Em Cristina será construída uma usina de triagem e compostagem para tratar de forma correta o lixo. A assessora do Meio Ambiente do SAAE, Janimayri Forastieri de Almeida, informou que a instalação terá capacidade para o processamento de 100 toneladas por dia de resíduos sólidos urbanos. “A usina se dedicará à triagem de fração reciclável dos resíduos que será comercializada, a separação dos resíduos especiais – pneus, pilhas, baterias, lixo eletrônico, embalagens de lubrificantes – para posterior envio aos fabricantes, e a compostagem da fração orgânica dos resíduos para posterior utilização como condicionador de solo”, afirmou a assessora.

Após o início da obra, em 8 meses a usina poderá já estar atendendo ao município de Cristina, e em 15 meses de obras, ainda segundo Janimayri, todos os nove municípios estarão sendo atendidos.

Soluções limpas e rentáveis: transformando o lixo

Recuperação Energética é uma tecnologia que transforma o resíduo urbano em energia elétrica e térmica, técnica essa já utilizada em muitos países do mundo.

O Comitê de Valorização Energética, grupo técnico multilateral criado pelo acordo de cooperação entre a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, e a PLASTIVIDA (InsitutoSócio-Ambiental), elaboraram um caderno informativo (disponível no site da Abrelpe) com informações detalhadas sobre este tema de recuperação energética.

O método mais utilizado mundialmente utiliza a incineração dos resíduos, e com o calor obtido gera-se vapor ou energia elétrica, que pode ser novamente aproveitada pela sociedade.

Para São Lourenço, essas soluções ainda estão um pouco distantes da realidade do município, especialmente em nível financeiro.

“Já ouvimos falar, estudamos vários processos, mas financeiramente elas não são viáveis para pequenos municípios; por isso nós estamos nos juntando em consórcio para ter um volume de lixo maior, para atrair novas tecnologias que podem ser inclusive complementares e suplementares à própria compostagem”, afirmou o prefeito de São Lourenço.

Outra forma de reaproveitamento do lixo é a coleta seletiva e a reciclagem. Mas de nada adianta o morador separar o lixo se não houver um destino final adequado.

De acordo com a assessora do Meio Ambiente do SAAE, a instituição firmou uma parceria com a OSCIP Terra das Águas para trabalhar no projeto de Coleta Seletiva, que se iniciará com a estruturação da cooperativa.

Com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Brasil avança um passo em direção a melhorias nesse setor. Ainda assim, é necessário que a lei seja cumprida de forma correta, principalmente por causa das consequências, muitas ainda desconhecidas, do descarte errôneo dos resíduos.

O tema do lixo e de como tratá-lo adequadamente é um tema complexo e atinge todo o mundo. Mais do que o cumprimento de uma lei é necessário tomar os passos certos e na direção certa para construir um futuro sustentável, protegendo as nossas águas e as nossas terras.

Hoje em dia existem inúmeras soluções para o problema e as informações estão mais disponíveis. É necessário mais ação e conscientização, da população e do poder público, assim como de investimentos em projetos a longo prazo. 


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