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São Lourenço - Notícias
02/10/2014 15h42

Varginha, a viagem da esperança!

Convidada pelo Correio do Papagaio, Fabiane nos acompanhou por toda a viagem e foi uma espécie de guia para a produção.

Por Amauri Avinco

 

O câncer não afeta somente a vida do paciente; afeta a vida de todas as pessoas ao redor do paciente. Todas as pessoas sofrem, desde o amigo até o parente mais distante. Estima-se que neste ano, 577 mil pessoas terão sido vítimas desta doença, com cerca de 69 mil casos de câncer de próstata e 57 mil novos casos de mama.

No Brasil, o câncer de pele não melanoma é o mais comum entre os diagnosticados, e 182 mil pessoas poderão se tornar vítimas desta doença. Na região sudeste do país o número de casos pode chegar a 299,7 mil, dados fornecidos pelo Ministério da Saúde.

Na madrugada de terça feira, 16 de setembro, o Jornal Correio do Papagaio acompanhou uma das viagens mais longas que alguém acometido pelo câncer pode fazer.

Ao lado de pacientes da cidade de São Lourenço, vitimados por esta doença, a jornada para todos começa às 03:30h, através de um ônibus fornecido pela Prefeitura. Esses guerreiros da vida buscam a cura em uma batalha diária, que começa na segunda e só termina na sexta feira. Na maioria dos casos, pacientes se deslocam até à cidade de Varginha - MG, ao Hospital Bom Pastor, durante os cinco dias da semana. Uma viagem cansativa, interminável e triste, mas acima de tudo repleta de confiança, pois a cada retorno a São Lourenço uma batalha é vencida contra essa doença que pode ser considerada uma das maiores e mais dolorosas guerras que um ser humano pode enfrentar.

Chegando a Varginha o dia já está praticamente claro, e fomos os primeiros a desembarcar. Acompanhamos cada paciente em cada degrau da escada do ônibus, e pudemos observar as expressões de cada um. Alguns com semblantes apagados, cenhos franzidos e no fundo sempre uma dúvida ou temor. Outros com olhares confiantes, esboçando até mesmo um sorriso. E por fim os pacientes que desembarcam naquele local pela primeira vez, sem saber, necessariamente, o que significa aquela viagem.

Quando adentramos o hospital, nós, da reportagem, e todos os pacientes fomos recebidos como convidados especiais por toda a equipe médica. Naquele momento pude perceber a mudança repentina no olhar de cada um, por saberem que estavam entregues às mãos de pessoas de bem, que estão ali somente para ajudá-los, e que aqueles profissionais da saúde serão suas armas para uma luta até o fim. 

Fabiane Arantes, 35 anos, moradora de São Lourenço, é uma ex-passageira. Ela vem lutando contra o câncer há 2 anos. Foram 8 meses de quimioterapia e mais 25 dias de radioterapia; uma cirurgia de remoção de seio e muita história para contar. Convidada pelo Correio do Papagaio, Fabiane nos acompanhou por toda a viagem e foi uma espécie de guia para a produção. Por onde passava recebia um aceno de um paciente ou de funcionários do hospital. Apesar das constantes recaídas e dos temores que lhe tomavam de assalto sempre que refletia sobre as possibilidades de recuperação plena, hoje podemos observar em seu rosto um lindo sorriso, mais radiante, acompanhado de uma expressão vencedora; o semblante de uma verdadeira guerreira. Fabiane nos contou um pouco de sua trajetória como paciente no Hospital Bom Pastor.

JCPO que foi de mais valioso que a convivência com a doença te possibilitou?

Fabiane - O aprendizado. Pois com essa doença aprendi o verdadeiro valor do ser humano. Vi que existe muito mais que aparência e tive a certeza da presença de Deus em minha vida.

JCP - Quais foram suas maiores decepções durante o tratamento?

Fabiane - Acho que foi ver meus amigos se afastarem e também observar que existe um grande preconceito com o portador de câncer.

JCP - Qual a sensação quando entrou no Bom Pastor pela primeira vez para iniciar o tratamento? E o que mais te confortava cada vez que retornava?

Fabiane - A primeira vez senti que era o meu fim. Fiquei assustada, ou melhor, apavorada. Mas a cada sessão de químio ou rádio vi a solidariedade das pessoas e dos profissionais ali presentes, e também que não estava sozinha naquela luta pela vida.

JCP - Você retornou a Varginha após cinco meses do término do tratamento para exames de rotina. Qual foi sua reação?

Fabiane - Nossa! Todas! Senti tristeza, alegria, desespero, saudade. Todas as reações possíveis. Tristeza por ver que a cada dia mais e mais pessoas estão com câncer. Alegria por saber que as pessoas que estavam lutando junto comigo estão bem, todos eles. Desespero e medo por ter que enfrentar tudo aquilo de novo. E saudade, sim. Saudades dos amigos que fiz naquele lugar abençoado. Pode parecer estranho, mas lá me sinto em paz.

JCP - Para encerrar, gostaríamos que deixasse uma mensagem para os pacientes que estão iniciando, para os que estão com tratamento em andamento e os que estão terminando o tratamento. Com sua experiência, o que você pode deixar de positivo para essas pessoas?

Fabiane - Acreditar em Deus, pois é Dele a vontade de que tudo aconteça. Não cai uma folha de uma árvore se assim Deus não permitir. Seja forte. E sempre que estiver desanimado converse com Deus, como amigo mesmo, desabafe, chore e acredite. Tenha sempre em mente: alguém já passou por isso e venceu; por exemplo eu! E acredite até o final, porque Deus existe e está olhando por todos nós! Apesar da maneira constrangedora que vem sendo tratada a saúde no Brasil, podemos observar o carinho que os pacientes são tratados na cidade de Varginha, com parcerias entre as prefeituras; existem pousadas ao redor do hospital para que pacientes e acompanhantes possam descansar, além do centro Vida Viva, que serve como apoio para as pessoas que ali estão. Em um determinado momento nos deparamos com um ato de carinho e respeito com os pacientes, onde artistas da cidade se apresentam voluntariamente na sala de espera, com músicas descontraídas para relaxar a tensão. Realmente um ato que deveria ser seguido por todos os seres humanos. Em um país de tantas dificuldades não devemos esperar do Legislativo ou Executivo que busquem nossos direitos. Não precisamos de um cargo público para fazer o bem. Só precisamos nos unir e estender as mãos ao próximo, pois assim a vida fica bem mais fácil de se viver, fazendo a nossa parte.


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