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São Vicente de Minas - Notícias
24/04/2014 09h04

Personagens que fazem parte da nossa história - Gabriel Honorato de Oliveira (Bié Escrivão)

Gabriel Honorato, ótima personalidade que marcou época na cidade de de São Vicente de Minas.

Por Adílson Batista Gonçalves

Gabriel Honorato de Oliveira, descendente da tradicional família Oliveira de São Vicente de Minas, nasceu nessa cidade em 10 de setembro de 1914, ainda quando a denominação da mesma era Francisco Sales. Seus pais, Sebastião Augusto de Oliveira, Tatão, e Albertina Augusta de Oliveira, Dona Tita, também foram pessoas de destaque na comunidade vicenciana.

Seu aprendizado escolar aconteceu, inicialmente, junto ao Professor Mário Martins, na década de vinte, o qual, além de músico brilhante, exercia o seu ofício de mestre, tanto na área musical quanto na de alfabetização de meninos e meninas, vagando de casa em casa, contratado pelos pais que tinham filhos em idade escolar.

Depois de cumprida essa primeira etapa estudantil, e não tendo como dar continuidade ao seu aprendizado por falta de outras escolas na região, Gabriel Honorato passou a estudar sozinho, por conta própria. Seus esforços foram grandes, pois nessa época faltava tudo em termos de informação e material didático, mas teve a recompensa de adquirir vasto conhecimento, e se transformou num exemplo de autodidata respeitado e bem-sucedido.

Tão logo se tornou moço, partiu para o Rio de Janeiro, em busca de novas oportunidades em outros horizontes. Conseguiu emprego no Laticínios Salgado Alves e nessa empresa permaneceu por muitos anos, mas seu amor à terra natal permanecia em seu coração, e o desejo de um dia voltar nunca o abandonou: sua cidade maravilhosa sempre foi São Vicente de Minas.

Vez ou outra recebia notícias de seus familiares, vindas por cartas, as quais demoravam dias para chegar às suas mãos, visto o precário sistema de transportes e dos meios de comunicação daqueles tempos longínquos. E, assim, foi ficando no Rio de Janeiro, até que um fato novo aconteceu em São Vicente: o cargo de Escrivão de Registro Civil e Notas ficou vago com a aposentadoria do antigo Tabelião. Gabriel Honorato tinha condições de enfrentar o concurso que fora aberto, afinal já tinha boa experiência de vida, e sua permanente dedicação aos estudos lhe credenciavam sonhar com a obtenção da vaga.

Enfrentou o certame e, no resultado final das provas, terminou empatado em primeiro lugar com outro candidato. Pelas regras do concurso o critério de desempate seria a favor do candidato mais velho, e então Gabriel Honorato levou a melhor e foi empossado no cargo.

Permaneceu à frente do Cartório de Registro Civil e Notas de São Vicente de Minas por várias décadas, e ainda acumulou esse trabalho com as funções de Escrivão do Crime e com suas atividades no Cartório Eleitoral. Exercia, também, a tarefa do alistamento militar dos jovens do município.

Face à sua habilidade para lidar com as pessoas, competência no exercício do cargo, cordialidade no trato com todos, não medindo sacrifícios pessoais para atender a quem precisasse de seus bons ofícios, sem distinção, a qualquer hora do dia ou da noite, e sempre bem humorado, Gabriel Honorato se tornou uma pessoa querida e estimada pela comunidade de São Vicente. Já para seus sobrinhos – eram muitos –, tornou-se um espelho, uma referência, todos viam nele um modelo a ser seguido, uma liderança escudada no amor e na bondade, sendo muito amado por todos eles.

No início da década de cinquenta, casou-se com Dorvalina Gonçalves de Oliveira, em Aparecida, SP, e dessa união vieram os filhos: Antenor Martins de Oliveira, José Marcos de Oliveira, Gilberto de Oliveira, Marta Gonçalves de Oliveira Almeida e Paulo Roberto Gonçalves de Oliveira, este falecido prematuramente no ano de 2003.

Como filho, esposo e pai, se mostrou uma pessoa exemplar, leitor incansável dos Evangelhos. Tinha como seu livro de cabeceira a Bíblia Sagrada. Foi Congregado Mariano também por muito tempo, e procurou criar seus filhos dentro dos princípios cristãos, sempre os orientando com o exemplo e o diálogo, mantendo-se firme na sua fé, sempre voltada ao extremo respeito a Deus.

Foi uma pessoa muito simples, uma criatura comum, humilde e discreta em seu modo de viver, e tinha como diversões as pescarias no Rio Aiuruoca, a música, onde expressava sua virtude de grande violonista, e o futebol – foi um apaixonado torcedor do Botafogo do Rio, não perdendo um só jogo e cujas partidas escutava nas transmissões pelo rádio, em sua casa. Quanto à música, vale ressaltar ainda que, além de instrumentista, cantava com muito talento: era tenor do Coro denominado “Imaculada Conceição”, da Igreja de São Vicente, cujo padroeiro é São Vicente Ferrer.

Exerceu, também, com maestria para a época – época das fotos em preto em branco –, a arte da fotografia. Essa atividade lhe era de grande valia, porque, além do lado prazeroso, ele usava essas fotos para complementação de seus trabalhos na confecção de títulos eleitorais e nas antigas certidões de alistamento militar. No subsolo de sua casa, possuía instalado, num quarto diminuto, o laboratório onde revelava aquelas maravilhas de fotos, desde raras paisagens até a imagem estampada de alguma pessoa da cidade, em tamanho três por quatro.

Gabriel Honorato de Oliveira – ou, como era carinhosamente chamado pela população, Bié Escrivão –, para tristeza de todos, faleceu em São Vicente de Minas em julho de 1982, aos 68 anos de idade, após longa enfermidade, e deixou uma saudade imensa em toda comunidade vicenciana.

 

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