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Saúde
04/03/2013 14h49

'Eliminação' de HIV em bebê não abre caminho para cura em adultos

Caso inédito de 'cura funcional' de criança infectada foi mostrado nos EUA.

  O caso de um bebê americano que, após ter a infecção por HIV detectada, foi tratado com uma combinação de medicamentos e teve o vírus reduzido a níveis indetectáveis por exames comuns, o que foi considerado uma “cura funcional”, não cria, em princípio, nova perspectiva de eliminação do vírus em adultos, segundo explica o médico Adilson Westheimer, infectologista do Hospital Heliópolis e da Faculdade de Medicina do ABC, ambos na Grande São Paulo.

“Esse não é o caminho para a cura em adultos. O que foi apresentado pode trazer um direcionamento para cura em recém-nascidos”, explica Westheimer, que considera o anúncio deste domingo (3), nos EUA, "uma excelente notícia". Como se trata de apenas um caso, ainda há muito a ser estudado para entender se essa abordagem pode ser repetida com os mesmos efeitos em outros indivíduos.

"O importante é o paciente sob tratamento continuar se tratando. Foi uma descoberta importante porque a criança recém-nascida foi tratada com três remédios, quando normalmente se usa apenas um. O tratamento precoce e o uso de mais remédios pode ter ajudado", afirma o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Caio Rosenthal. "Foi uma ótima notícia. Sempre que se fala em cura cientificamente evidenciada, é sempre muito bom para a medicina", acrescentou.

Combinação
O bebê foi tratado com uma combinação de remédios que fez com que o vírus praticamente desaparecesse de seu corpo. Em adultos, o HIV também pode ter sua presença reduzida com medicamentos, mas, quando estes são suspensos, o vírus volta a proliferar porque fica em latência em várias partes do corpo, como gânglios linfáticos, células do sistema intestinal  e do sistema nervoso central, entre outros.

Em recém-nascidos, os pontos onde o vírus pode ficar latente ainda estão em desenvolvimento, por isso ele não consegue se instalar da mesma forma que em adultos, nota Westheimer. O caso apresentado nos EUA tem outra especificidade: a mãe não sabia que tinha o HIV, por isso o bebê foi infectado.

Mães que fazem pré-natal, caso tenha o vírus detectado, já começam a tomar medicação, assim como o bebê, quando nasce.  “Se for feita a profilaxia com medicamentos, a chance de transmissão é praticamente zero”, aponta o médico do Hospital Heliópolis.

No Brasil, a maioria das mulheres faz o pré-natal. Um eventual método de tratamento resultante do caso apresentado nos EUA poderia ser útil em lugares onde há muitos casos de crianças que nascem sem que as mães saibam que têm o HIV, como em alguns países africanos, onde a incidência da Aids é mais alta.

Entenda o caso
Pesquisadores dos Estados Unidos apresentaram o que, segundo eles, é o primeiro caso documentado de “cura funcional” de uma criança infectada pelo HIV.

A cura funcional ocorre quando a presença do vírus é tão mínima que ele se mantém indetectável pelos testes clínicos padrões e discernível apenas por métodos ultrassensíveis.

Ela é diferente da cura “por esterilização” (que pressupõe uma erradicação completa de todos os traços virais do corpo), mas significa que o paciente pode se manter saudável sem precisar tomar remédios por toda a vida.

A virologista Deborah Persaud, da Johns Hopkins (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine)
A virologista Deborah Persaud, coordenadora do estudo. (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine)

O estudo foi realizado por cientistas do Centro da Criança Johns Hopkins, da Universidade do Mississippi e da Universidade de Massachusetts, e apresentado em um congresso médico em Atlanta.

A descoberta, segundo eles, pode ajudar a abrir caminho para eliminar a infecção pelo vírus em outras crianças.

Tratamento precoce
O bebê acompanhado pela pesquisa nasceu de uma mãe infectada pelo HIV. Ele começou a receber um tratamento com antirretrovirais, os remédios usados contra esse problema, 30 horas após o nascimento.

O procedimento usado pelos médicos foi diferente do que é aplicado atualmente nesse tipo de caso. Normalmente, recém-nascidos de alto risco -- filhos de mães com infecções pouco controladas ou que descobrem o HIV na hora do parto – recebem os antirretrovirais apenas em doses profiláticas até as seis semanas de vida. As doses terapêuticas só começam se e quando a infecção é diagnosticada.

No caso da criança do estudo, que foi tratada a partir das primeiras 30 horas de vida, exames mostraram a diminuição progressiva da presença viral no sangue, até que atingiu níveis indetectáveis 29 dias após o nascimento.

O tratamento continuou até os 18 meses de idade. Dez meses depois de parar de tomar os remédios, a criança passou por repetidos exames. Nenhum deles detectou a presença de HIV no sangue.

Exames que detectam anticorpos específicos do HIV, que são a indicação clínica da infecção pelo vírus, também tiveram resultado negativo.

Mecanismo
Para a virologista Deborah Persaud, coordenadora da pesquisa, a rápida administração do tratamento provavelmente levou a criança à cura porque deteve a formação de reservatórios difíceis de serem tratados – células inativas responsáveis por reiniciar a infecção na maioria dos pacientes com HIV, semanas depois de parar o tratamento.

Segundo os pesquisadores, este caso particular pode mudar o tratamento padrão de recém-nascidos de alto risco. No entanto, eles recomendam cautela e dizem que não têm dados suficientes para recomendar mudanças imediatas, antes que outros estudos sejam feitos.

O único caso de cura por esterilização foi reportado até hoje, com um homem HIV positivo tratado com um transplante de medula óssea para leucemia. A medula veio de um doador com uma rara característica genética que deixa algumas pessoas resistentes ao HIV, e o benefício foi transferido para o receptor. Esse complexo tratamento, no entanto, não é factível de ser aplicado nos 33 milhões de pessoas ao redor do mundo infectadas pelo HIV.

Os pesquisadores também afirmam que, apesar da esperança que esse novo estudo pode trazer a recém-nascidos infectados, a prevenção da transmissão do vírus de mãe para filho deve continuar a abordagem principal.


Fonte Coluna Bem Estar

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