12:08hs
Sexta Feira, 29 de Março de 2024

Leia nossas últimas edições

Leia agora o Correio do Papagaio - Edição 1836
Variedades
14/01/2015 08h35

Box triplo traz a peça 'Os Náufragos do Louca Esperança'

Um dos melhores espetáculos montados pelo Théâtre du Soleil, grupo francês criado em 1964 pela diretora Ariane Mnouchkine, chega agora ao mercado brasileiro em forma de filme, Os Náufragos do Louca Esperança, lançado num box triplo com a versão integral de 7h30 (das quais 4h30 de extras). Apresentada em São Paulo em outubro de 2011, a peça foi transformada no mesmo ano em filme por Mnouchkine, graças a um coprodução entre sua companhia teatral, a Bel Air Media, a France Télévisions e o Sesc de São Paulo, que apostou acertadamente no projeto e deve continuar investindo tanto na produção como na distribuição de DVDs e CDs por meio de selo próprio.

Criada em 2010 na Cartoucherie do bosque de Vincennes, nos arredores de Paris, sede do Théâtre du Soleil, Os Náufragos do Louca Esperança é livremente inspirado num romance póstumo de Jules Verne (1828-1905), Os Náufragos do Jonathan (En Magelannie), escrito em 1897 e só publicado em 1909, quatro anos após a morte do autor. Na verdade, trata-se de uma collage de vários textos organizada pela diretora Ariane Mnouchkine e a roteirista Hélène Cixous. Há desde citações literárias a outros livros de Verne (O Farol do Fim do Mundo, por exemplo) até referências a filmes clássicos dirigidos por John Huston (O Tesouro de Sierra Madre, 1948) e produções recentes (Sangue Negro, 2007), de Paul Thomas Anderson, além de pitadas de William Golding (O Senhor das Moscas), Thoreau (Walden ou A Vida nos Bosques) e Thomas More (A Utopia).

A sociedade perfeita imaginada por More (1478-1535) era uma resposta às imperfeições de uma Inglaterra para a qual ele apresentou uma comunidade alternativa. Na peça do Théâtre du Soleil, essa sociedade menos brutal e mais cooperativa se esboça numa guinguette, uma taberna comandada por monsieur Félix Courage (interpretado pela atriz Eve Doe-Bruce). Fascinado pelo cinematógrafo, ele cede sua taberna a uma dupla de irmãos cineastas (Maurice Durozier e a brasileira Juliana Carneiro da Cunha), demitidos da Pathé por suas ideias marxistas. Com a ajuda do assistente Tommaso (Duccio Belluggi Vannucini), os irmãos filmam no estúdio improvisado Os Náufragos do Louca Esperança, usando funcionários da taberna como figurantes.

O enredo é bastante caro a uma diretora cujo pai, Alexandre Mnouchkine (1908-1993), foi o fundador de uma produtora de cinema bastante respeitada, a Ariane Films, responsável por filmes de Cocteau (A Águia de Duas Cabeças, 1948) e Fellini (Ginger e Fred, 1986).

Também cineasta, a filha filmou a vida de Molière antes de se dedicar à aventura de transpor para o cinema uma peça que trata dos primórdios de uma arte que se inspirou no teatro. Os irmãos cineastas La Palette, de Os Náufragos do Louca Esperança, rodam um filme ambientado entre 1889 e 1895, justamente o ano em que os irmãos Lumière organizaram a primeira sessão de cinema paga no Grand Café de Paris.

No filme dentro do filme, emigrantes pobres, socialistas utópicos e aventureiros sem caráter partem num navio do porto de Cardiff em direção à Austrália, que naufraga no cabo Horn, em pleno inverno austral da Terra do Fogo. Decididos a edificar uma nova sociedade no lugar, os náufragos do Louca Esperança logo percebem que enfrentarão mais que uma tempestade para estabelecer as bases de um novo contrato social naquela terra desolada.

Os irmãos cineastas, claro, querem transformar o naufrágio numa representação alegórica da Europa à beira do colapso - o filme está sendo rodado no verão de 1914, quando Paris alucina com a vanguarda artística, antes do atentado de Sarajevo que deflagrou a guerra. Desejam, enfim, rodar um épico para educar as massas. Com poucos recursos, são obrigados a improvisar tudo, dos cenários aos efeitos especiais (tudo é produzido pelos atores em cena, das tempestades em alto-mar às nevascas). Na versão cinematográfica, o impacto, evidentemente, é menor. Por outro lado, os dois níveis da história se adaptam perfeitamente à sintaxe da tela. Um DVD desde já histórico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
PUBLICIDADES
SIGA-NOS
CONTATO
Telefone: (35) 99965-4038
E-mail: comercial@correiodopapagaio.com.br
R. Dr. Olavo Gomes Pinto, 61 - Sala 207 - Centro - São Lourenço - MG