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29/01/2015 09h55

Cássia Eller foi um furacão que passou pela música

Um furacão do bem. Uma entidade incontrolável, marcante, avassaladora. Cássia Eller nunca foi "uma garotinha esperando o ônibus da escola sozinha", nem mesmo "uma menina má", como dizia a letra de Cazuza e Frejat, Malandragem, um dos maiores sucessos na voz selvagem dela. Era a peça que faltava na música brasileira quando surgiu, em meados dos anos 1980 - o primeiro álbum veio em 1990 -, e quando morreu, em 29 de dezembro de 2001, aos 39 anos, deixou um espaço no quebra-cabeça, mesmo que uma série de versões genéricas e pasteurizadas dela tenham surgido, amparadas por gravadoras, em tentativas de empurrá-las nossa goela abaixo.

Cássia era aquilo tudo que a turma do politicamente correto detestava: falava suas bobagens, não tinha vergonha do próprio corpo e não escondeu o vício em cocaína e, depois, álcool. Se colocava entre várias minorias, como mulher, homossexual, mãe solteira, mas soube enfrentar tudo isso muito bem.

Imagine se, no próximo Rock in Rio, marcado para setembro deste ano, uma intérprete de voz grave estivesse entre as atrações? Ela levaria bordoadas dos roqueiros de plantão? É claro. Volte, então, a 2001. Se você não estava lá, assista ao DVD, ouça o disco ao vivo, mas não perca a performance de Cássia no festival carioca, meses antes de morrer. Ela subiu ao palco ainda sob o sol carioca, estreando as atividades na arena principal, horas antes de Beck, Foo Fighters e R.E.M.. Ensandecida, como era de se esperar. É de lá a icônica imagem na qual ela levanta a blusa e exibe os seios, após uma versão de Come Together, do Beatles, ao lado do Nação Zumbi. Ao fim daquela performance, ela emendou um cover de Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, ex-banda de Dave Grohl, líder do Fighters que tocaria mais tarde. Quer algo mais rock que isso, bebê?

O ano da morte de Cássia foi um dos mais agitados e grandiosos da carreira dela. Álém da aclamação no Rock in Rio, a intérprete gravou o disco Acústico MTV, o que, naquela época, era considerado um marco na carreira dos artistas. O trabalho ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas, tornando-se o maior sucesso dela.

Nascida no Rio de Janeiro, passou por Belo Horizonte, Santarém e Brasília. Embora tenha começado a carreira ainda jovem, na década de 1970, foi somente em 1990 que veio Cássia Eller, o disco de estreia, produzido por Wanderson Clayton e lançado pela extinta gravadora Polygram. Frejat, autor de Malandragem, com Cazuza, estava lá e gravou as guitarras. Das 11 músicas do álbum, apenas uma delas, a instrumental Lullaby, era da autoria dela.

E isso dizia muito sobre a intérprete, Cássia não era compositora e não fazia questão de ser. O seu grande trunfo era saber escolher a quais canções emprestaria a voz, mesmo quando a escolha fosse questionável. Como foi o caso de O Marginal, segundo álbum dela, para o qual Cássia escolheu canções menos pop de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé. Qual artista atual tomaria atitude igual?

Aproximou-se de Nando Reis em 1999, com quem teve o mais forte laço artístico. Conheceram-se dois anos antes da morte dela, em um convício intenso. Não por acaso, All Star, grande hit dele, foi uma cação criada para ela, uma referência ao estilo de tênis preferido de Cássia. Esta, Relicário e Luz dos Olhos são outras das músicas dele que estavam constantemente no repertório da carioca. Como parceiro que era, Nando foi chamado para criar a trilha do musical sobre a vida dela.

Cássia deixou Chicão, o filho, e Maria Eugênia, a companheira, cedo demais. Tinha apenas 39 anos, dias antes do fim de 2001, e uma vida inteira pela frente. Não gravou tantos discos, seja de estúdio ou ao vivo, os seus preferidos, quanto gostaria. Deixou tudo antes demais, inclusive a saudade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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