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09/09/2014 09h35

Estreia 'Correm as Cidades nos Quatro Cantos do Mundo'

Quando os diretores Sergio Ignacio e Rubens Oliveira trabalhavam com os 50 bailarinos de seu mais novo espetáculo, Correm as Cidades nos Quatro Cantos do Mundo, que estreia nesta terça-feira, 9, no Tuca, pediram a eles que trouxessem para o processo de criação suas experiências por São Paulo e falassem de um lugar da cidade que os representasse. "Um falou do quadrado do céu que ele vê da janela do prédio dele, o outro trouxe o Masp, o garoto que cresceu na periferia trouxe o cheiro do lixo, que tem a ver com uma memória dolorida de infância. Trouxeram cheiros, cores, texturas, sensações", conta o diretor e coreógrafo Rubens Oliveira.

O que aparentemente pode parecer pessoal demais para a concepção de um espetáculo coletivo traz em sua essência o principal objetivo dos diretores: o de criar uma coreografia embasada na verossimilhança, em que cada gesto e movimento dos bailarinos no palco traduzisse suas atitudes na vida real. "O que eles trouxeram foi incrível, pois era exatamente o que queríamos, trazer o bailarino para perto do gestual, do movimento proposto, que também era o seu próprio cotidiano", comenta o diretor e roteirista Sergio Ignacio.

"Um exemplo disso é o fato de que quase nunca conseguimos ocupar nosso espaço em uma rua hiper movimentada como a 25 de Março. E isso acaba nos fazendo trombar com todos a todo momento. No palco, como se dá esta situação?", acrescenta Ignacio.

"Nas grandes cidades, estamos com um objetivo tão traçado na cabeça que nem mesmo olhamos para o outro. Ao mesmo tempo, a cena inspirada neste cenário, no palco, traz intimidade pois provoca o toque. Em que momento da cidade a gente se percebe? Há sempre estranhamento no encontro", completa Oliveira.

Mais que apenas processo, os ensaios de Correm as Cidades eram já parte do espetáculo. É literalmente na rua e nas vidas comuns que nascem cada passo desta terceira coreografia criada pela dupla de diretores. Ignacio, que também é jornalista e psicanalista, e Oliveira, coreógrafo e bailarino, tornaram-se parceiros quando ainda trabalhavam com o coreógrafo Ivaldo Bertazzo, criador do projeto Cidadão Dançante, que levava ao palco pessoas de diversas origens.

A experiência os influenciou profundamente e a dupla criou há três anos um projeto que deu origem às coreografias Carretel e Grão. "As pessoas na plateia irão se identificar com os bailarinos. Isso já acontecia em Carretel e Grão. Mas, se o primeiro é uma flauta, fala do bom humor, do lírico, e o segundo fala mais da nossa origem, Correm as Cidades trata do nosso dia a dia. Da força e da poesia dos centros urbanos", explica Ignacio. "O mais bonito é ver o empresário dançando com o garoto. O jovem e o maduro dividindo o palco, o magro, o alto, o baixo... Todos no mesmo plano. Este trabalho oferece uma construção de cena que é muito crível. Não é só um gesto de criação, mas pertence a eles. Não estamos falando de bailarinos, mas de pessoas comuns, que dançam", completa Rubens.

Por essa e por outras, em Correm as Cidades, o palco é espelho do ritmo da vida atual. "O tema nunca esteve tão em sincronia com o que o próprio elenco está vivendo. Quando se fala das cidades, fala-se de uma situação urbana, de um coletivo já expresso no dia a dia das metrópoles. Para uns, foi muito automático e, para outros, de tão imersos nesta realidade que estão, foi mais difícil ", analisa Ignacio.

E, como objeto mais agudo ainda da metáfora dançante, a figura do meio fio surgiu como linha que conduz a narrativa. "Serve para se falar do equilíbrio de cada um e do que acontece enquanto se caminha na cidade. A partir daí, veio a construção cênica, lidando com nossos movimentos, as inquietações, a aceleração, o medo, o acolhimento, a angústia, a pertinência, a resiliência de se ver como parte deste grande cenário", completa Ignacio.

Para Oliveira, que é bailarino profissional e diretor do grupo Gumboot Dance Brasil, do Núcleo Pélagos e integrante da Antonio Nóbrega Cia. de Dança, é justamente aproximar a plateia e o palco uma de suas maiores satisfações da nova coreografia. "Existe um processo da dança que, em alguns momentos, não a aproxima do público. Pode-se assistir a um trabalho de uma grande companhia como espectador. E isso é lindo. Mas, por outro lado, há, no nosso projeto, casos tão especiais, como o de um dos dançarinos do ano passado. Ele é executivo financeiro. E demos um solo para ele. Imagina a reação dos sócios do escritório, dos filhos... Isso é único", conta Oliveira.

Para a dupla, a própria gênese de Correm as Cidades faz pensar no papel da dança para a sociedade. "Este projeto nasceu a partir da São Paulo Escola de Teatro, que nos convidou para desenvolver um trabalho lá com cidadãos comuns, não bailarinos. Abrimos as inscrições e recebemos de uma semana para a outra 80 interessados. Foi uma surpresa!", conta Ignacio.

A partir daí, o grupo passou por exercícios e avaliações até que se chegou ao número de 50 dançarinos aprendizes, de 19 a 53 anos. "Trabalhar com um grupo de alunos-bailarinos, que tinha de psicólogo a empresário, passando por um filósofo, nos fez analisar de que forma a dança fomenta uma linguagem mais horizontal e direta entre as pessoas", declara Ignacio. "Nosso desejo é que possamos nos comunicar mais com nosso corpo, usá-lo como instrumento de trabalho e sair do lugar em que o toque é expelido e a comunicação é só verbal. Quando nos apropriamos do gesto, nos apropriamos da nossa atitude." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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