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12/09/2014 08h35

James Gray faz belo filme em 'Era uma vez em Nova York'

No ano passado, Marion Cotillard participava do Festival de Cannes com dois filmes - um dirigido por seu marido, Laurent Canet, Blood Ties, e outro de James Gray, na competição, The Immigrant/A Imigrante. Rebatizado como Era Uma Vez em Nova York. A Imigrante estreou nessa quinta-feira, 11, no Brasil. Em conversa com o repórter, Marion explicou que o filme, inspirado na mãe do diretor - uma judia polonesa que emigrou para os EUA nos anos 1920 -, foi escrito para ela. "Laurent tornou-se muito amigo de James quando ele o ajudou a verter para o inglês os diálogos de Blood Ties, que foram escritos em francês. Mas quem foi decisiva para que eu fizesse o papel foi a mulher de James, Alexandra (Dickson Gray). Quando ela o convenceu que eu poderia fazer sua mãe, uma personagem mítica para qualquer diretor, ele passou a escrever já pensando em mim. Nunca havia vivido uma experiência semelhante."

Marion Cotillard, você conhece - a atriz francesa que ganhou o Oscar por Piaf - Um Hino ao Amor. Rapidamente, ela se converteu na grande estrela internacional da França, usurpando um trono que parecia cativo da eterna Belle de Jour, Catherine Deneuve. Na França, curiosamente, o culto é menor e os franceses vivem implicando com sua estrela. James Gray, você também conhece. É o diretor de Little Odessa, Caminho Sem Volta, Os Donos da Noite, Amantes. Há um culto a James Gray. Um dos filmes de seu coração é Rocco e Seus Irmãos, e como Luchino Visconti ele ama a ópera e o melodrama. Ambos inspiram Era Uma Vez em Nova York.

Nada mais diferente de um aristocrata italiano comunista do que um judeu nova-iorquino de ascendência irlandesa e polonesa. Quem frequenta o cinema de Gray, quem o conhece, sabe que o mundo dos imigrantes, principalmente russos, tem lhe fornecido os elementos familiares e de violência que ele gosta de abordar na tela. Visconti, e Rocco, são referências de sempre - uma cena de Amantes, outra de Os Donos da Noite. Em Era Uma Vez em Nova York, ao situar sua história nos EUA dos anos 1920, Gray flerta com dois outros grandes, o Sérgio Leone de Era Uma Vez na América e o Francis Ford Coppola de O Poderoso Chefão. No primeiro Chefão, o próprio Coppola não deixou de dialogar com Visconti - na trilha de Nino Rota e no personagem de Al Pacino (Michael), cujo idealismo é corrompido como o de Alain Delon em Rocco.

Talvez Era Uma Vez em Nova York não seja o grande filme que James Gray sonhou, e seus tietes também sonharam. É lindamente produzido e realizado, Marion Cotillard é deslumbrante, numa personagem - Ewa - que tem algo da força e da fragilidade, do turbilhão interno que consome Piaf no longa de Olivier Dahan. Tudo isso configura um filme belo de ver, mas há alguma coisa que não vai, alguma coisa que falta, uma debilidade que consome as personagens e a própria realização (o relato). Em Rocco, dois irmãos disputam a prostituta Nádia e terminam por destruí-la. Aqui, Ewa e a irmã desembarcam em Ellis Island, Nova York, em busca de uma vida melhor na América. Mas Ewa, depois de um mal-entendido durante a travessia do Atlântico, é tratada como prostituta e corre o risco de ser deportada, enquanto a irmã, enferma, fica de quarentena.

A luta de Ewa é para resgatar a irmã e, talvez, mais que a love story com os personagens de Joaquin Phoenix e Jeremy Renner, a história de amor - a verdadeira, com sua dose de renúncia e sacrifício - pode muito bem ser a das irmãs. Joaquin tem um esquema para impedir a deportação de Ewa/Marion e, eventualmente, ela se prostitui no teatro/bordel que ele possui. O primo de Phoenix, Jeremy (Renner), é um mágico que incorpora Ewa em seu número - em sua vida? -, mas no fundo não tem muito apreço por ela e a trata como a prostituta que as circunstâncias a obrigam a ser.

A trama envolve romance, gangsterismo e o mundo da arte. Tem até ópera - a ária que o lendário Enrico Caruso canta para os imigrantes confinados em Ellis Island. É o momento viscontiano de Era Uma Vez em Nova York, mas o melhor do filme está por vir. É o desfecho, quando as vidas em jogo e a própria narração se bifurcam, num efeito que pode não ser conclusivo, mas é deslumbrante, um dos grandes finais do cinema recente. Um crítico já disse que a alegada debilidade vem de uma certa distância com que Gray olha seu triângulo - seu quarteto. Pode ser que ele não consiga ser tão visceral como em outros filmes. A origem familiar da trama meio que congela seu romantismo exacerbado, mas não inibe os fulgurantes fragmentos de beleza (e tragédia) que ele logra oferecer a seu público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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