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02/08/2020 07h20

Plataforma promete trazer o ‘frio na barriga’ do 1º encontro

Você se recorda da emoção que sentia quando conhecia uma pessoa ao acaso e se interessava por ela? Aquela sensação de frio na barriga que só a paixão instantânea proporciona? Pois a plataforma Love is in The Cloud promete gerar toda essa espontaneidade para aqueles que participam dela.

Na pandemia do novo coronavírus, nos distanciamos das pessoas e, ao mesmo tempo, nos pegamos inertes no quesito amoroso. Isabella Nardini, criadora do conceito, percebeu essa carência e pensou em uma maneira de resgatar essas sensações tão esquecidas na atualidade. "Meu mundo diminuiu depois da pandemia. De repente virou a minha casa e todas as pessoas que já eram meus amigos. Uma vez isolada, percebi que acordava, lia notícia todos os dias e estava acessando muita tristeza, dor. Comecei a pensar como conseguiria acessar as sensações boas de estar viva. Percebi que o frio na barriga era uma da que mais gosto. Aquele sentimento que nasce quando a gente se coloca em risco, mas um risco bom do desconhecido, que vem com as possibilidades que a gente ainda não conhece, com as surpresas do acaso. Percebi que um jeito de acessar esse frio na barriga era através do flerte", lembra.
Isabella comentou sobre isso com uma amiga, Roberta Tannus, no início de abril. No fim do mesmo mês, ambas já estavam lançando a plataforma. "Essa ideia só se tornou palpável quando contei para ela, que comprou a ideia e disse que era muito necessário para o mundo uma possibilidade como essa."

Mas para participar do Love is in The Cloud não é possível se cadastrar ou pagar para usar. Você precisa ser convidado por alguém que já tenha experimentado a vivência. Os encontros, às cegas, ocorrem entre amigos dos amigos, em um ambiente de crescente conexão. "É uma experiência rápida e íntima de conexão e frio na barriga. Durante 1h30, 16 pessoas têm a chance de ter 8 encontros com amigos de amigos, por 5 minutos cada. Para cada encontro a gente sugere uma pergunta a ser feita, por exemplo: Me olha nos olhos. O que você vê?. Tem gente que fala que cinco minutos é uma eternidade para alguém que não se interessou. E para quem se interessou, fica um gostinho de quero mais", enfatiza Isabella.

A designer Denise Saito foi uma das primeiras convidadas do Love is in The Cloud e confessa que ficou ansiosa no início. "Fiquei um pouco nervosa, mas sei gerenciar e disfarçar bem (risos). Pra mim, além de uma experiência nova e diferente de tudo que vivi, foi um experimento de autoconhecimento. Foi curioso perceber como eu me comportei durante os cinco minutos com cada pessoa. Entrei num lugar de querer deixar os outros à vontade, porque senti que todos estavam muito mais nervosos que eu. Depois de duas ou três conversas, entendi que não ia dar pra me apaixonar por ninguém em tão pouco tempo, então passei a ver o outro como amigo de amigos que eu estava conhecendo. Bem aquela coisa de festa quando surge alguém novo na roda. Não necessariamente vai rolar alguma coisa, mas não custa nada ser legal e tentar se conectar de verdade", afirma.

A plataforma também já realizou encontros específicos, como aquele em que a antropóloga Monique Lemos participou, intitulado mulher com mulher. "Foi tudo! Fiquei ansiosa, curiosa, ri demais, muito mesmo, me apaixonei até por quem eu só encontrei no final, quando todo mundo abre a câmera. A coisa mais legal é que elas conseguem desarmar todo mundo. Não é uma meta ou uma missão se apaixonar ou querer que alguém se apaixone, mas é justamente nessa leveza que tudo acontece. Terminei a sexta apaixonada por mim, porque tanta gente me quis e se divertiu e era tanto sorriso e risada que não tinha chance de eu não ser apaixonante", avalia a pesquisadora.

Peter de Albuquerque, de 31 anos, participou do encontro homem com homem. Ele está há quatro meses sem se envolver com alguém presencialmente. "E isso me colocou em um entrave: como dar algum passo? No meu caso, também vivo sozinho. Durante essas questões internas, meu amigo comentou sobre a iniciativa e fez a indicação para que eu entrasse numa das edições do projeto, focada em LGBTQIAs. Minha experiência foi positiva e divertida. Primeiro, é preciso ter confiança no processo. É uma vivência que mistura afeto, com uma costura performática e humorada da Isabella e Roberta, que trazem uma ambiência bem amarrada, que te coloca pra rir de si e querer conversar. Músicas dos anos 1980-1990 dignas de rádio, e frases motivacionais que definiria como cafona-chics, além da presença da Isabella como uma "guru do amor", atrás de nuvens em movimento, dando as regras do fast-dating", vibra.

Para ele, o projeto tem uma narrativa bem pensada, trazendo o equilíbrio ideal entre adrenalina e acolhimento. "Cair numa sala e ter apenas cinco minutos para ver e ser visto te coloca num lugar de fazer escolhas: como se resumir? Trago fatores-chave da minha história ou trago aspectos que me definem hoje, como meu humor e qual vinho prefiro? É recomendado que tenhamos objeto que nos represente sempre ao lado para quebra-gelos, o que funciona, e na tela surge um card com uma primeira pergunta sugerida, constrangedora na medida, o que te coloca para rir com um estranho, e já vale a pena a partir desse ponto", garante.

A curadoria de pessoas no Love is in The Cloud é diversa com idades e origens, o que pode ser positivo para se abrir a novas possibilidades. Também há um recorte regional, de cidade, o que ajuda a conhecer alguém possível, ao alcance. "Frio na barriga digníssimo e que movimentou uma sexta à noite quase como em velhos tempos", conclui Peter.

Na avaliação da psicóloga Desirée Cassado, mestre pela Universidade de São Paulo e especialista em terapias contextuais, a experiência de encontro, da forma como ela tem sido feita através dos apps tradicionais, está saturada: "Já houve um tempo - alguém se lembra? - em que dar um match e começar uma conversa íntima com um estranho gerava ansiedade e borboletas na barriga. Mas nós nos adaptamos, acostumamos e paramos de dedicar a energia necessária para construir uma experiência - através desse tipo de conexão - que seja interessante. Mas não nos esqueçamos que o formato é novo - e muito interessante -, mas as pessoas são as mesmas. Depois do primeiro encontro às cegas, voltaremos pra antiga questão: para começar uma relação é preciso dedicação, coragem, flexibilidade e um bocado de resistência à frustração, independente dos meios que usamos para nos encontrar".

Nardini afirma que a intenção não é a construção de relação com o outro, mas resgatar a sensação de leveza, brincadeira e abertura de possibilidades. "Sensações de surpresa e da graça do desconhecido. É sobre o que pode acontecer ali e não o que vem depois, porque o que vem depois é surpresa. Os aplicativos de relacionamento trazem com muita força esse modo que, uma vez que aprendemos a viver em telas de sim ou não para uma pessoa, aquilo dita seu comportamento. Então, vou paquerar essa pessoa só depois que ela me deu um aval, me deu um sim. E nesse mundo de sim ou não, a verdade é que a vida é muito mais complexa do que isso. Se eu dou sim para uma pessoa hoje, não quer dizer que vou construir alguma coisa com ela. Só que a gente ficou acostumado em operar nesse lugar seguro, que só vou falar com alguém se ele me deu esse sim e todo o mistério e acaso não têm mais espaço na nossa vida. Por isso, resgatamos o risco da paquera", ressalta.

Denise Saito, uma das convidadas dos encontros, conta que começou com as expectativas bem baixas, pois nunca curtiu app de paquera. "Fui mais pela vivência e para passar por algo diferente no meio desse marasmo. Então, superou minhas expectativas porque a experiência traz sensações que têm sido raras nos dias de hoje e me diverti muito. Sem contar que curti uma pessoa e ela me curtiu de volta, então, rolou um match", comemora a designer.

Lidar com a emoção de maneira surpreendente e frio na barriga propostos pela plataforma Love is in The Cloud parece ser uma boa tentativa de fazer com que os indivíduos resgatem sentimentos pré-pandemia ou saiam das interações robotizadas dos atuais aplicativos de relacionamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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