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10/12/2014 13h10

'Praia do Futuro' e 'Tim Maia' são destaques do cinema nacional em 2014

Foram muitos momentos fortes, intensos, ao longo do ano. A explosão de Jesuíta Barbosa, saindo daquele elevador e saltando sobre o irmão em Praia do Futuro, de Karim Ainouz. Frustração, raiva e, afinal, o abraço - a aceitação de que Wagner Moura não era o herói, o Aquaman de sua infância. O olhar ferido de Deborah Secco em Boa Sorte, de Carolina Jabor. O olhar agoniado de Tony Ramos, que olha para a câmera e seus interlocutores como bicho encurralado, na solidão do palácio, em Getúlio, de João Jardim. Alguns fragmentos de Jesuíta Barbosa - ele, de novo - em Tatuagem, de Hilton Lacerda. E já que o cinema é, como dizia Nicholas Ray, a melodia do olhar, o oposto disso, o olhar morto, substituído pelo tato, o olfato, a audição, do garoto cego de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro.

Querem mais? O encontro de Irmã Dulce, a ótima Regina Braga, com a mãe de santo, no terreiro do Gantois, no longa de Vicente Amorim e o reencontro da religiosa com o filho, o não menos brilhante Amaurih Oliveira, através daquela troca de olhares, quando ele está no meio da multidão que saúda o papa. O cinema é olhar, é imagem, é som. O som do vento em Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, os diálogos permeados de veracidade no longa do autor pernambucano. E a palavra - solene, carregada com o peso da história - em Getúlio, de novo. A palavra de Ben Johnson, que Jorge Furtado encena para discutir o comprometimento da imprensa em O Mercado de Notícias, e seus entrevistados que refletem sobre essa grande balela, o jornalismo isento.

Foi um ano (a)típico do cinema brasileiro. As comédias continuaram ditando as regras no mercado, mas nenhuma atingiu os níveis de público dos anos anteriores. Blockbusters, ou pelo menos filmes programados como tal, não conseguiram chegar ao público do jeito sonhado por seus produtores e diretores. A Irmã Dulce faltava o drama, dizem, os detratores do belo filme de Amorim. A Tim Maia faltava o suingue do cantor e compositor, pelo menos disseram, mas não é verdade. Para ser fiel a seu personagem, o diretor Mauro Lima criou um personagem sem empatia, antipático. Se Tim Maia, na vida e no cinema, teve um inimigo, foi ele. Mas o filme não foi mal - bateu quase no milhão de espectadores, e isso, no mercado, até que foi bem. Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho, embora bem feito, decepcionou mais. Havia um problema - o longa de Daniel Augusto demorava para engrenar. E a verdade é que o público que lê Paulo Coelho não se motivou para ver sua história na tela.

O nó górdio é sempre o mercado. Os filmes precisam chegar aos cinemas. Medidas reguladoras poderão impedir a disparidade que fez com que Jogos Vorazes - A Esperança ocupasse sozinho mais da metade das salas do País. Mas a desigualdade está na origem do sistema sócio e econômico vigente no mundo. Salas mais equitativas vão estimular o interesse do público pelos excluídos? No semáforo da esquina ninguém, olha para o menino de rua que estende a mão. É a famosa e triste invisibilidade. O que está em projeto é a visibilidade dos filmes. O que motiva o público? Um dos mais belos filmes brasileiros da década estreou no fim do ano passado. Para todos os efeitos, consta como lançamento de 2014. São Silvestre, de Lina Chamie. Um filme sobre a corrida. Sobre nada - sobre tudo. Foi visto por pouca gente, mas entrou para a história. Cada filme tem seu tamanho. Tudo isso é matéria para discussão e reflexão, pegando carona no ciclo que começou ontem no Cinesesc.

Fonte: Estadão Conteúdo
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