17/07/2015 08h35
Processo criativo do cantor Elomar Figueira Mello inspira exposição
É notória a aversão que Elomar Figueira Mello tem pela "urbi", como costuma se referir à s (grandes) cidades. Arquiteto formado pela Universidade Federal da Bahia, onde também estudou música, por isso mesmo sabe da dureza de viver na massa compacta de asfalto e concreto. Tem até uma tese em que defende que o mal vem da cidade, e está no ensaio A Era dos Grandes EquÃvocos, a ser publicado.
Conhecido entre seus admiradores pela atitude reclusa - vive no sertão baiano, perto de Vitória da Conquista, não dá entrevistas, não permite ser fotografado -, vez ou outra ela transcende sua galáxia para se apresentar em São Paulo, cidade onde mais gosta de cantar. Dessa vez, além de um concerto no sábado e dois no domingo no Auditório Ibirapuera, o menestrel aporta na formiguenta Avenida Paulista para a abertura da Ocupação Elomar, que começa neste sábado, 18, no Itaú Cultural.
São Paulo é um dos cenários de tragédia para um retirante numa de suas mais belas e imagéticas composições, Chula no Terreiro. Diz que jamais moraria aqui, mas reconhece nela uma certa beleza, superior a todas as outras cidades que conhece, e o respeito do público educado que sabe apreciar seu trabalho. Curioso é o contraste ao transpor seu universo tão peculiar, rural, árido e silencioso para um espaço urbano numa das avenidas mais movimentadas da Pauliceia. De acordo com sua assessoria, Elomar acha interessante, e um grande desafio para os artistas que montaram essa ocupação, pegar seu universo, que é bem maior em "escala ciclópica", e reduzi-lo em um simples espaço, de 10 X 12 m no piso de um alto edifÃcio. A ambientação do espaço terá réplicas de seu reduto.
Ao avançar a porteira, como aquela da poeirenta estrada das areias de ouro que leva à Casa dos Carneiros, o visitante vai ter acesso a muitas raridades, como o primeiro compacto simples lançado por Elomar em 1968 com as músicas O Violeiro (regravada em seu primeiro álbum, ...Das Barrancas do Rio Gavião, de 1973) e Canções da Catingueira, partituras de suas óperas, trechos originais de livros, poemas inéditos, cartas, objetos pessoais, tirinhas do Bode Orelana, personagem que Henfil (1944-1988) criou inspirado nele, desenhos de sua figura feitos pelo amigo e conterrâneo Juraci Dórea, documentos que Elomar mantém no que chama de "arquivos implacáveis", capas de discos e outras peças iconográficas inspiradas nos temas de suas canções. Porém, coerente com seu padrão de comportamento, não haverá exposição de fotos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo