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22/07/2015 15h20

Remake de 'A Doce Vida' e documentário na TV relembram Fellini

Existem críticos em pânico, tendo pesadelos. Há anos a família de Federico Fellini vinha resistindo às investidas de produtores - da Itália, dos EUA - para refilmar o clássico A Doce Vida, de 1960. Agora, capitularam. Fellini e a mulher, a atriz Giulietta Masina, não tiveram filhos e os direitos reverteram para uma sobrinha do grande diretor, Francesca. Ela foi convencida por Andrea Iervolino e Monika Bacardi, do estúdio AMBI Group, e pelo italiano Daniele Di Lorenzo, dono da produtora LDM Productions, que pretendem dar à história uma pegada contemporânea.

"Daniele, Andrea e Monika têm uma bela visão de um filme moderno, e considerando a origem italiana e a profunda apreciação e compreensão do trabalho do meu tio que eles têm, não poderia haver um time melhor para o projeto", declarou Francesca Fellini num comunicado para a imprensa.

Já tem gente fazendo apostas. Quem será o novo Marcello Mastroianni, a nova Anita Ekberg, a nova Anouk Aimée? E qual será o diretor maluco que vai aceitar refazer um dos filmes mais famosos - um dois maiores filmes - do cinema? A comparação será inevitável, e as chances de o filme ser tão bom, ou até melhor, são mínimas, convenhamos. E que tal lembrar mais um pouco o original de Fellini? O Canal Curta criou um novo horário - às quartas-feiras, 21 horas. Filmes que marcaram época. O programa de hoje é justamente dedicado a La Dolce Vita/A Doce Vida, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1960. Aquele foi um ano glorioso do cinema italiano. Surgiram também A Aventura, de Michelangelo Antonioni, e Rocco e Seus Irmãos, de Luchino Visconti.

Só para lembrar - em 1960, quem presidiu o júri de Cannes foi o escritor Georges Simenon. Entre os jurados, estavam outro escritor, Henry Miller, e os diretores Marc Allegret e Grigori Kozintsev. Numa atitude inédita, e para não diminuir o alcance da premiação, o júri anunciou que ia deixar de fora obras 'magistrais' como A Fonte da Donzela, de Ingmar Bergman, e A Adolescente, de Luis Buñuel. O júri outorgou, mesmo assim, um prêmio especial à representação russa (A Balada do Soldado, de Grigori Chokhrai, e A Dama do Cachorrinho, de Yossef Kreifitz), destacou a contribuição de linguagem de Antonioni em A Aventura (o filme ganhou o prêmio da crítica) e dividiu o prêmio de melhor atriz entre Melina Mercouri (Nunca aos Domingos, de Jules Dassin) e Jeanne Moreau (Moderato Cantabile, de Peter Brook). Não houve prêmio para melhor ator naquele ano. O Brasil, que fique registrado nos anais, concorreu com Cidade Ameaçada, de Roberto Farias.

Fechado o parêntese da premiação, o documentário de Antoine de Montemar que irá ao ar nesta quarta, 22, no Canal Curta mostra os bastidores da produção do clássico de Fellini. Contextualiza as mudanças sociais ocorridas na Itália aos longo dos anos 1950 e que retiraram o país da zona de pobreza após a derrota do fascismo na 2ª Grande Guerra. Muito importante - ao mesmo tempo que os EUA investiam dinheiro na Europa, por meio do Plano Marshall (para evitar o avanço do comunismo já consolidado no Leste Europeu), facilidades de produção tornavam Cinecittà, o grande estúdio criado por Benito Mussolini, atraente para os norte-americanos. Muitas superproduções passaram a ser filmadas na Itália - Hollywood no Tibre, como se dizia. Com o dinheiro e a liberalização dos costumes, ocorreram mudanças de comportamentos que Fellini colocou no filme. Tudo isso, mais cenas emblemáticas do filme - e a possibilidade de conferir Fellini em pleno trabalho - torna imperdível o documentário de 52 minutos realizado em 2013 por Antoine de Gaudemar, ex-redator chefe do jornal francês Libération.

Já que o texto começou com a menção ao anunciado remake de A Doce Vida, é bom dizer que não será a primeira vez que Fellini inspira obras para teatro e cinema. As Noites de Cabíria, de 1957, com Giulietta Masina, virou musical da Broadway transformado em filme por Bob Fosse - Charity, Meu Amor, com Shirley MacLaine, em 1968. E Oito e Meio, de 1963, também com Marcello Mastroianni, inspirou outro musical, Nine, que Rob Marshall transpôs para o cinema e está atualmente em cartaz no teatro em São Paulo. Você vai encontrar críticos (Jean Tulard, no Dicionário de Cinema) que acham Charity fraco, mas a montagem fluida de Big Spender e a vitalidade de Rhytm of Life são exemplos do brilho de Fosse como coreógrafo e encenador e a participação de Fergie como a Saraghina de Nine, no número Be Italian, aquilo é, sim, genial.

Fonte: Estadão Conteúdo
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