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18/09/2017 08h20

Uma brilhante dobradinha de Schumann-Bartók na Sala São Paulo

Aventurar-se pelo gênero do quarteto de cordas sempre foi gesto temerário. Ainda mais depois do majestoso e revolucionário Everest beethoveniano. O concerto de terça, 12, do Quarteto Emerson na Sala São Paulo, dentro da temporada da Sociedade de Cultura Artística, mostrou que é possível combinar escrita musical complexa com acessibilidade.

Dos compositores da noite - Schumann, Brahms e Bartók -, todos primariamente pianistas, dois fizeram enorme esforço para entrar nesse reino. Robert, por exemplo, só compôs seus três quartetos em 1842, aos 31 anos; Brahms levou 20 anos (e 20 quartetos destruídos) para publicar em 1873, aos 40 anos, seus três quartetos. Clara Schumann foi o ponto comum: Robert dedicou-lhe seus quartetos e Brahms tocou para ela o seu primeiro, numa redução para piano. O casal Schumann tocou, em reduções para piano a quatro mãos, todos os quartetos de Haydn e de Mozart por ordem cronológica; em seguida, Robert estudou os de Beethoven e iluminou-se pelos três do opus 44 de Mendelssohn. Só depois compôs os seus em um mês.

A ordem do concerto, entretanto, sugeriu outro itinerário, que resultou em certo anticlímax final. Explico. Fulgurante no terceiro quarteto de Schumann (um Andante expressivo-Allegro molto moderato eletrizante), o grupo impressionou a plateia que infelizmente não lotou a Sala São Paulo com uma leitura arrebatadora, selvagem como é necessário, do moderno quarteto n.º 3 de Bartók. Seus seis quartetos não têm equivalente na primeira metade do século 20. De peito aberto, compôs o primeiro aos 26 anos. Neste terceiro, de 1927, ele usa praticamente todos os recursos das cordas para testar novas texturas e sonoridades. Esses novos meios aumentam a voltagem das dissonâncias como eixos geradores de tensão na escrita, pois elas não se resolvem, como nosso ouvido tonalmente educado espera. O próprio Bartók declarou ser um cultor do "império das dissonâncias". Ele as usa como sua principal arma expressiva.

Possivelmente o intervalo longo demais, ou até mesmo a troca do primeiro violino, costume do Emerson (na primeira parte Philip Setzer, na segunda Eugene Drucker) podem ter causado uma queda na voltagem da execução na segunda parte. Que esses músicos são superlativos, ninguém duvida. O fato é que a dobradinha Schumann-Bartók foi o melhor momento de um concerto de altíssimo nível.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fonte: Estadão Conteúdo
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