06/09/2015 09h48
Brasil já concede mais vistos de refugiados a sírios que países europeus
Hania Alkhateb, de 25 anos, diz sentir-se privilegiada por sua filha ter nascido no Brasil, longe da guerra da SÃria, mas ainda sonha com o dia em que seu paÃs vai voltar a ter paz para que possa regressar com Zena Salha, de 4 meses. "Ela é brasileira, mas seu paÃs é a SÃria. Quero que ela cresça lá, mas só voltamos quando tiver paz." Hania é um dos 2.077 sÃrios que conseguiram o refúgio no Brasil desde que o paÃs entrou em conflito.
Os sÃrios são o povo com mais refugiados reconhecidos no Brasil. Há dois anos, o Comitê Nacional para Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, publicou uma normativa, facilitando a concessão de vistos a imigrantes da SÃria, com isso o paÃs se tornou uma das principais alternativas para as famÃlias que fogem dos conflitos.
O Brasil já concedeu mais refúgios para sÃrios do que paÃses do sul da Europa, que recebem grande contingente de imigrantes ilegais pela facilidade geográfica. A Espanha, por exemplo, só concedeu refúgio para 1.335 sÃrios, a Itália para 1.005 e Portugal para 15, segundo a Eurostat, agência de estatÃsticas da União Europeia.
"Além da questão humanitária, o que já seria motivo suficiente para facilitar a acolhida dessas pessoas, o Brasil está cumprindo com seus compromissos internacionais e sua legislação nacional ao dar refúgio para quem necessita. Assim como nós buscamos melhores condições de vida, essas pessoas têm na imigração a única possibilidade de viver, elas foram obrigadas a sair de seus paÃses", disse Beto Vasconcelos, presidente do Conare.
Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil concedeu 10,4% mais pedidos de refúgios do que em todo o ano passado. Já são 8.400 refugiados em 2015; no ano passado, foram 7.609. Depois da SÃria, os paÃses que mais conseguiram refúgio brasileiro foram Angola (1.480) e República Democrática do Congo (844), ambos com conflitos polÃticos internos.
Perfil. Os refugiados no Brasil, segundo o relatório do Conare, são na maioria homens (70,7%) e com idade entre 18 e 39 anos (65,6%). No entanto, entre os refugiados ainda há 19% de menores de 17 anos.
Pedro Dallari, diretor do Instituto de Relações Internacionais da USP e um dos especialistas que elabora a proposta de anteprojeto de Lei de Migrações e Promoção dos Direitos dos Migrantes no Brasil, disse que os sÃrios que migraram para o Brasil nos últimos dois anos são de famÃlias com maior poder aquisitivo e com maior grau de escolaridade. "Quem vai para a Europa sabe que naqueles paÃses há uma melhor acolhida, com ajuda financeira e abrigos. Já no Brasil eles vão precisar batalhar mais, para conseguir se manter."
É o caso da famÃlia de Hania. O pai, Bahaa, era dono de uma construtora na SÃria, mas viu os negócios falirem com a guerra. "Vendi nossos móveis, roupas e colchões para pagar as passagens de todos (cerca de U$ 800 para cada um dos sete integrantes da famÃlia). Quando chegamos ao Brasil, tinha apenas U$ 29 na carteira e nenhum lugar para ir. Um funcionário do aeroporto que nos indicou ligar para uma ONG", contou Bahaa. A famÃlia está há um ano no Brasil e mora na sede da ONG Livro Aberto, em Guarulhos.
Ao contrário da irmã, Akram, de 21 anos, não pensa em voltar para a SÃria, onde cursou um ano de Medicina, mas precisou abandonar os estudos. "Vou prestar vestibular para recomeçar Medicina. Quero ficar aqui no Brasil, montar meu consultório e dar uma boa vida para os meus pais". O sonho de Akram é se tornar oftalmologista.
Antes de vir para o Brasil, a famÃlia ainda tentou viver por um ano de forma ilegal no Egito e por sete meses na Mauritânia. "Não éramos bem aceitos. No Egito, por exemplo, não aceitavam que um sÃrio estudasse nas faculdades. No Brasil é diferente, as pessoas nos acolheram. Todos os sÃrios querem ir para a Europa, mas aqui é que podemos ter futuro", disse Akram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo