28/04/2022 16h40
Caçadores desaparecem em terra indígena; clima é de tensão no sudoeste do Pará
Três homens estão desaparecidos desde domingo, 24, depois de invadir a Terra IndÃgena Parakanã para caçar, em Novo Repartimento, no sudoeste do Pará. Moradores da região acusam indÃgenas pelo sumiço dos caçadores e falam em retaliação. Um grupo teria invadido uma escola indÃgena e agredido estudantes da aldeia.
A Rodovia Transamazônica (BR-230) chegou a ser bloqueada em protesto de familiares dos desaparecidos. A PolÃcia Federal enviou um efetivo para apoiar a PolÃcia Militar na manutenção da ordem na região.
Os caçadores, identificados como Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luis da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara, moradores de propriedades rurais da região, saÃram para caçar e não retornaram. Na segunda-feira, 25, os familiares iniciaram as buscas e encontraram apenas as motos e objetos pessoais dos três homens em meio à mata da terra indÃgena, a cerca de 300 m da BR-230. Parentes de um dos desaparecidos foram à aldeia cobrar os Ãndios e alegaram terem sido mantidos em cárcere privado.
Os indÃgenas, da etnia awaeté, passaram a receber ameaças diretamente e por meio de redes sociais. Conforme o Ministério Público Federal (MPF) do Pará, moradores da região entraram armados na reserva para ameaçar os indÃgenas. A indÃgena Tarana Parakanã, estudante de Letras, contou que não indÃgenas invadiram a escola, no Posto Taxakoakwera, e agrediram estudantes. Segundo ela, alguns dos invasores portavam armas.
Em nota, professores do Instituto Federal Rural do Pará, ao qual a escola é vinculada, cobraram uma ação enérgica das autoridades nas buscas pelos caçadores desaparecidos e denunciaram que os indÃgenas estão sendo alvo de preconceitos, já que não há nenhum indÃcio de que tenham responsabilidade pelo desaparecimento deles. "O branco está invadindo as nossas terras e ameaçando o meu povo de morte", disse, em vÃdeo, o cacique da aldeia Paranowa, Xeteria Parakanã.
O MPF informou que está em contato com a Fundação Nacional do Ãndio (Funai), a PolÃcia Federal e a PolÃcia Militar do Estado para as buscas aos desaparecidos e a proteção da comunidade indÃgena. A PF e a PM confirmaram o envio de efetivo para prestar apoio e minimizar a possibilidade de ocorrência de um conflito. A Funai informou que um grupo de mediação de conflitos acompanha a situação que, no momento, é tranquila.
A entrada de pessoas estranhas ao grupo é proibida em terras indÃgenas, segundo lei federal de 1973. A TI Parakanã, com 352 mil hectares, possui 24 aldeias, onde vivem 1,4 mil indÃgenas, e está a cerca de 30 km da área urbana de Novo Repartimento. Devido ao contato recente com o homem branco, há menos de quatro décadas, os awaetés não dominam bem a lÃngua portuguesa.
Em 25 de dezembro de 2013, cerca de 3 mil moradores de Humaitá, no sul do Amazonas, atearam fogo em prédios da Funai e postos de saúde indÃgena em protesto contra o desaparecimento de três homens na Transamazônica, quando cruzaram de carro a Terra IndÃgena Tenharim.
Os revoltosos responsabilizavam os Ãndios pelos desaparecimentos, que seriam por vingança. Três dias antes, um cacique Tenharim tinha sido encontrado morto na Transamazônica.
Carros, ambulâncias e até um barco que atendia as populações indÃgenas também foram incendiados. Ameaçados de linchamento, os indÃgenas que moravam na cidade se refugiaram no Batalhão do Exército. Os corpos dos desaparecidos foram achados no dia 3 de fevereiro, em uma vala, no interior da reserva. Cinco tenharins foram presos, acusados pelas mortes. Em novembro de 2015, eles foram colocados em liberdade condicional. Os acusados ainda esperam o julgamento.
Fonte: Estadão Conteúdo