15/08/2022 19h40
Caso Leandro Lo: câmeras mostram policial em boate e motel após morte de lutador
Depois de atirar e matar o campeão mundial de jiu-jitsu Leandro Lo Pereira do Nascimento, de 33 anos, na madrugada do último dia 7, no Esporte Clube SÃrio, na zona sul de São Paulo, o policial militar Henrique Otávio de Oliveira Velozo foi a uma boate, consumiu bebidas e saiu acompanhado de uma mulher, que ainda levou a um motel da capital paulista.
As revelações são da PolÃcia Civil que permitiu acesso a imagens de câmeras de segurança mostrando a trajetória do policial após ter atirado no lutador. Acusado de homicÃdio doloso, o policial está preso no PresÃdio Militar Romão Gomes.
As imagens mostram o PM de boné preto na recepção de uma boate em Moema, minutos por volta das 3 horas, pouco depois de ter saÃdo do SÃrio, localizado a cerca de dois quilômetros. No local, conforme as comandas obtidas pela PolÃcia Civil, Velozo consumiu uma garrafa de uÃsque, duas águas de coco, duas latas de energético e duas doses de gin. A conta ficou próxima de R$ 1,6 mil.
Quase duas horas depois, a câmera registrou a saÃda do policial militar, acompanhado de uma mulher que, segundo a investigação, seria uma garota de programa.
Ainda segundo a PolÃcia Civil, o casal seguiu para um motel em Pinheiros, onde chegou por volta das 5h40 e permaneceu cerca de 11 horas. O crime no Esporte Clube SÃrio aconteceu por volta das 2 horas. Imagens do circuito interno mostram a movimentação no interior do clube quando teria ocorrido o disparo da arma de fogo. Houve correria do público em direção à s saÃdas.
O advogado Cláudio Dalledone, que defende o policial militar Henrique Velozo, disse estranhar a divulgação pela imprensa de imagens do policial em casas noturnas, "supostamente" depois dos fatos.
"Estas imagens precisam ser juntadas aos autos para que a defesa possa fazer uma análise e, se necessário, até solicitar uma perÃcia. A defesa não vai permitir que se criem conclusões precipitadas, pré-julgamentos. É preciso ter cautela para que haja um julgamento justo. O policial Henrique Velozo se apresentou à Corregedoria da PolÃcia Militar após o crime e está à disposição das autoridades policiais", disse, em nota.
O advogado informou ainda que já pediu à PolÃcia Civil que realize exames complementares no corpo do lutador Leandro Lo. A petição foi endereçada ao delegado do 16º Distrito Policial de São Paulo. Segundo ele, no exame toxicológico já solicitado pela investigação deve ser explicitado se a vÃtima havia consumido drogas e hormônios.
"A defesa irá acompanhar de forma muito diligente todos os atos de investigação do inquérito policial e ainda realizar uma investigação defensiva para que nenhum factoide e nenhuma lenda assuma a direção deste caso criminal", disse Dalledone. A defesa afirma que o policial agiu de forma defensiva, após ser atacado pelo lutador, que estava na companhia de outros cinco lutadores.
Em outra petição, o advogado pediu a restituição do celular entregue à PolÃcia Civil pelo PM, alegando que o aparelho "está sendo ilegalmente acessado, modificado e bisbilhotado".
Dalledone explicou que, ao se apresentar à corregedoria da PolÃcia Militar, Velozo entregou seu celular e a pistola Glock .380, arma particular registrada, bem como nove munições intactas. Segundo o defensor, a conta da rede social Instagram do policial foi invadida e modificada.
"A conta, que até então era fechada, foi ilegalmente aberta e para tudo e todos. Velozo possui duplo fator de autenticação, ou seja, para modificar qualquer detalhe em sua rede social, obrigatoriamente precisa do seu aparelho telefônico e do chip cadastrado (ambos foram entregues para a autoridade policial)", afirmou o advogado.
FamÃlia
O advogado da famÃlia do lutador, Ivã Siqueira Júnior, lembrou que, via de regra, o inquérito policial é um documento público e pode ser acessado por qualquer cidadão. "Em alguns casos, a autoridade policial ou a Justiça pode colocar sob sigilo para proteção de uma parte vulnerável, por exemplo, ou conforme a conveniência da investigação, mas até o momento isso não aconteceu no caso especÃfico. Então qualquer pessoa, inclusive os jornalistas, podem ter acesso", disse.
Conforme o advogado, os fatos novos divulgados pela imprensa não serão comentados pela famÃlia. "Por ora, até em respeito à famÃlia, que ainda está muito abalada com o que aconteceu, vamos só reforçar aquilo que já dissemos."
De acordo com testemunhas, o lutador de jiu-jÃtsu estava com cinco amigos no clube, quando o policial, que também pratica artes marciais, se aproximou e começou uma provocação, pegando as bebidas que estavam na mesa. Leandro reagiu e pediu que ele deixasse o local. Segundo o advogado, durante a discussão, o lutador foi "peitado" pelo PM, por isso o imobilizou com técnicas de jiu-jÃtsu. Após se afastar, o policial sacou a arma e atirou.
Conforme o advogado, testemunhas relataram que o agressor ainda teria chutado duas vezes a cabeça de Leandro, já caÃdo. O atleta foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Arthur Saboya, no Jabaquara, na zona sul de São Paulo, mas não resistiu. Leandro Lo foi campeão mundial de jiu-jÃtsu por oito vezes. A última conquista, na categoria meio-pesado, foi em 2022; a primeira, em 2012, na categoria peso-leve.
Sobre a divulgação das imagens, a reportagem entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado e ainda aguarda retorno.
PM será julgado como 'assassino', diz governador
Nesta segunda-feira, 15, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) disse que "o PM será julgado como um assassino". Garcia respondia a um apelo feito em rede social pela mãe do lutador, Fátima Lo, que pedia a expulsão do acusado dos quadros da PM.
"O policial está preso, já abrimos um procedimento disciplinar, o salário dele já está suspenso e não tenho nenhuma dúvida que vai terminar o processo disciplinar com a expulsão dele que não é policial, é assassino", afirmou ele, em sabatina do Valor, O Globo e CBN.
Henrique Velozo foi indiciado pela PolÃcia Civil pelo crime de homicÃdio doloso qualificado por motivo fútil, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que também afirmou que a PolÃcia Militar abriu uma apuração administrativa para investigar o caso.
Fonte: Estadão Conteúdo