13/03/2015 15h55
Casos de sarampo poderão dobrar em países afetados pelo Ebola
O número de mortes por sarampo poderá dobrar até o meio do ano nos paÃses africanos que têm sofrido com a epidemia do Ebola, de acordo com um estudo publicado ontem na revista Science. O estrago causado pelo Ebola nos sistemas públicos de saúde da Libéria, Guiné e Serra Leoa, explicam os cientistas, teve impacto negativo no Ãndice de vacinação de crianças contra o sarampo, o que poderá desencadear um grande surto da doença nesses paÃses.
Segundo os autores do estudo, é comum que grandes crises humanitárias sejam seguidas de surtos de sarampo. Eles afirmam que já há uma epidemia de sarampo na região endêmica do Ebola, mas, com a saúde pública devastada, a interrupção dos programas de imunização infantil poderá provocar uma explosão dos casos. Durante a epidemia do Ebola, vários hospitais e clÃnicas foram fechados ou ficaram desertos em decorrência da aversão pública por locais potencialmente contaminados.
No inÃcio da epidemia do Ebola, no começo de 2014, foram registrados 127 mil casos de sarampo nos três paÃses. A previsão é de que, 18 meses depois, esse número aumente para algo entre 153 mil e 321 mil. Os pesquisadores alertam, no artigo, que isso deverá provocar entre 5 mil e 16 mil mortes adicionais relacionadas ao sarampo. O Ebola já matou cerca de 10 mil pessoas e infectou cerca de 24 mil, segundo os autores.
Os cientistas, de universidade britânicas e norte-americanas, usaram sofisticadas técnicas de modelagem matemática para prever a provável taxa de alastramento do sarampo, levando em conta fatores como taxas de natalidade e suscetibilidade à infecção. De acordo com um dos autores, o geógrafo Andy Tatem, da Universidade de Southampton, o estudo forneceu um mapa de dados de alta resolução, mostrando informações detalhadas sobre a distribuição e idade das populações. "A epidemia do Ebola é uma das piores crises de saúde pública em tempos recentes, deixando dezenas de milhares criticamente doentes e causando milhares à morte. Ela também causou estragos nos serviços de saúde e afetou os paÃses, incluindo os programas de vacinação infantil. Temos um segundo risco de saúde pública", afirmou.
Queda de 75%. Os cientistas estimam que a vacinação contra o sarampo tenha caÃdo 75% em toda a Ãfrica Ocidental, onde ficam os paÃses afetados pelo Ebola. Partindo dessa informação, os autores calcularam que, 18 meses após o colapso na assistência médica, 1,1 milhão de crianças entre 9 meses e 5 anos ficarão sem vacina. Antes da crise, cerca de 778 mil crianças ficavam excluÃdas da vacinação. Os dados apontam que, a cada mês da epidemia de Ebola, em média 19,5 mil meninos e meninas a mais ficaram sem vacinação, à medida que o sistema de saúde se degradava. "Nosso estudo mostra que é fundamental implementar um agressivo programa regional de vacinação, assim que a ameaça do Ebola começar a regredir, para reverter a desaceleração acentuada das taxas de imunização", disse Tatem.
Os três paÃses afetados pelo Ebola, segundo os cientistas, haviam conseguido reduzir os casos de sarampo nos últimos anos, graças aos esforços de vacinação. Entre 1994 e 2003, eles registraram juntos 93 mil casos, mas a partir de 2004 apenas 7 mil casos haviam sido reportados. Além do sarampo, os cientistas estão preocupados com outras doenças infantis cuja vacinação teve sua distribuição limitada por conta do Ebola. A imunização contra a meningite, a tuberculose e a pólio também foram afetadas. Houve também impactos negativos em intervenções contra a malária e o HIV.
Fonte: Estadão Conteúdo