12/08/2022 08h20
Falta de vacina e hesitação de pais prejudicam imunização de crianças
A vacinação infantil contra a covid-19 tem avançado em ritmo lento. De cada três crianças com idade entre 3 e 11 anos, uma está com a imunização completa, segundo dados do consórcio de veÃculos de imprensa. Metade das crianças dessa faixa etária não recebeu sequer uma dose. Por trás do problema está a falta de doses disponÃveis, o que fez cidades interromperem a aplicação, e a hesitação de parte dos pais.
No Distrito Federal e na cidade do Rio a vacinação na faixa etária de 3 e 4 anos foi interrompida por falta de produtos. O Ministério da Saúde informou que está em tratativas com fornecedores. Nas 24 horas entre terça e 20 horas de quarta-feira, segundo dados do consórcio de veÃculos de imprensa, apenas 11 mil crianças foram vacinadas com a primeira dose, totalizando 13,5 milhões (51,14%). A população nessa faixa etária é de 27 milhões. Já a segunda dose foi aplicada em 12 mil, chegando a 8,7 milhões de imunizados (32,97%) anteontem.
Para crianças de 3 a 5 anos, a vacinação foi liberada em 13 de julho pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ainda não há um recorte estatÃstico. Na faixa etária de 12 a 17 anos, o Ãndice de totalmente vacinados está em 53,8%, mas distante da média nacional. No PaÃs, da população vacinável (78,82% do total), 84,59% estão totalmente imunizados, embora 56,68% tenham recebido a dose de reforço.
PREVISÃVEL
Conforme o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim), Juarez Cunha, já vinha sendo observada uma preocupante baixa na cobertura vacinal entre os mais jovens, agora agravada pela falta de vacina para crianças. "Isso era previsÃvel, pois quando foi licenciado o uso o Ministério da Saúde não estava fazendo compras e os estoques eram baixos. As notÃcias que nos chegam de vários lugares são de falta de vacina."
Na terça, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio paralisou a vacinação de crianças de 3 e 4 anos com a primeira dose, alegando que o Ministério da Saúde não enviou novos aportes de Coronavac solicitados desde o mês passado. "A aplicação da segunda dose para este público, prevista para iniciar em 13 de agosto, está garantida com a vacina reservada especificamente para esse fim", disse a pasta. De 15 de julho a 8 de agosto, as unidades de saúde do Rio vacinaram 39.319 crianças dessa idade com a Coronavac. Quando a imunização desta faixa etária foi aprovada, o municÃpio tinha doses em estoque, o que permitiu o inÃcio imediato. Com a primeira dose, foram vacinadas apenas 25% das crianças de 3 e 4 anos.
PELO PAÃS
No Distrito Federal, a aplicação da primeira dose contra covid-19 para crianças de 3 e 4 anos está suspensa desde o dia 3, por falta de Coronavac, único imunizante aprovado pela Anvisa. Segundo a pasta, há apenas 4 mil doses, todas para segunda aplicação. Conforme o governo estadual, Mato Grosso atrasou o inÃcio da vacinação por falta de vacina. Das 113.328 crianças a serem imunizadas, 1.176 (1,04%) receberam a primeira dose. No PiauÃ, o Ãndice de vacinação nessa faixa etária é de 2,37%. Em Maceió, a vacinação não andou: de 58.535 crianças na fila, só duas foram vacinadas por terem comorbidade.
Para o presidente do departamento cientÃfico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, há 5,8 milhões de crianças na faixa de 3 a 5 anos e são necessárias quase 12 milhões de doses. "Não temos isso no Brasil." E lembrou que a Pfizer submeteu para aprovação a vacina dela para crianças de 6 meses a 4 anos. "Se vai ser aprovada, já devia ser motivo de o Ministério comprar essas doses."
Para o dirigente da SBim, o número baixo de crianças vacinadas é também consequência de desinformação e fake news. "Houve a propagação de notÃcias falsas sobre efeitos das vacinas, além de o Ministério da Saúde ter desestimulado a vacinação na infância. Se já tÃnhamos a hesitação dos pais, a partir do momento em que eles recebem recados de desconfiança sobre a vacina, isso afeta as coberturas vacinais. O inÃcio da vacinação de adolescentes foi desastroso."
HESITAÇÃO
A diarista Isaura Batista, de 44 anos, moradora da Vila João Romão, em Sorocaba, interior paulista, só levou a filha Victória, de 7 anos, para vacinar porque a escola exigiu. "Eu estava com medo de vacinar porque falaram que podia dar efeito ruim nela, pois teve caso de criança que ficou doente. Como a escola pediu, eu levei e ela recebeu a primeira dose."
A dona de casa Geovana Rafaela Oliveira, de 22 anos, residente na Vila Zacarias, outro bairro da cidade, ainda não vacinou o filho mais velho, o menino Kauã, de 4 anos. "Não sabia que tinha chegado a vez dele. Estive no posto para tomar minha segunda dose, que estava atrasada, mas não vi nenhuma informação sobre a vacinação para os mais pequenos."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo