18/04/2022 22h00
Garimpo e desmatamento em terras indígenas dobraram nos últimos três anos
Levantamento do MapBiomas aponta que, nos últimos três anos, o desmatamento em terras indÃgenas na Amazônia foi multiplicado por 1,7 quando comparado com a média de 2016 a 2018. Já o desmate para a mineração ilegal dobrou entre 2018 e 2019, o primeiro ano da gestão do presidente Jair Bolsonaro. Projeto que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia, o MapBiomas analisou dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), para compor esse retrato.
O levantamento revela que, nos últimos 30 anos no Brasil, as terras indÃgenas, que correspondem a 13,9% do território brasileiro, perderam apenas 1% de sua área de vegetação nativa, enquanto nas áreas privadas essa perda foi de 20,6%. Ao todo, 69 milhões de hectares de florestas nativas foram destruÃdas no PaÃs no perÃodo.
Dentre as categorias fundiárias, as áreas onde vivem essas populações são as mais protegidas. "As TIs são barreiras contra o avanço do desmatamento na Amazônia. Elas são as áreas mais protegidas no Brasil e a maior parte do desmatamento ocorre em áreas privadas", diz Julia Shimbo, coordenadora cientÃfica do MapBiomas e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). "TerÃamos um cenário muito pior (se o desmatamento em TIs seguisse o mesmo comportamento). Sem contar que existem povos que dependem e utilizam os territórios da floresta."
Dos 521 milhões de hectares que compõem toda a Amazônia Legal, 94 milhões de hectares são áreas de proteção integral, um território equivalente a duas vezes o Estado de Minas Gerais e que corresponde a 18% de toda a área. Outros 115 milhões de hectares são terras indÃgenas já demarcadas, o que corresponde a 22% de toda a região. A Amazônia Legal abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do Maranhão.
O levantamento do MapBiomas também revela que 94% de todos os garimpos no PaÃs concentravam-se na Amazônia, em 2020. Terras indÃgenas e quilombolas, historicamente, são as áreas mais protegidas, mas, não por acaso, também as mais cobiçadas e pressionadas.
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência, os Ãndices de desmatamento e mineração cresceram no PaÃs. "O que a gente vê é a falta de fiscalização e de investimentos que favorecem atividades ilegais, como dentro de territórios indÃgenas por agentes externos", afirma a pesquisadora do Ipam.
No último dia 15, autoridades federais tiveram que reforçar a segurança do território indÃgena Xipaya, a cerca de 400 quilômetros de Altamira, no sudoeste do Pará, após denúncia feita pelos moradores da reserva de que garimpeiros estavam invadindo a região. Segundo os relatos, esses trabalhadores chegaram em balsas com máquinas pesadas na quinta-feira, 14, fazendo com que os indÃgenas temessem conflitos armados.
As atividades ilegais em territórios indÃgenas vão além. Em dezembro, como o Estadão revelou, um relatório da PolÃcia Federal apontou que toneladas de ouro retiradas do subsolo da terra indÃgena Kaiapó, no sul do Pará, movimentaram, por anos, uma complexa organização criminosa que dominava toda a cadeia do negócio ilegal, desde a abertura e exploração dos garimpos, até os esquemas de lavagem do dinheiro e a venda do produto no Brasil e no exterior.
Procurados, o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama não responderam aos questionamentos da reportagem.
Fonte: Estadão Conteúdo