27/11/2014 13h35
Mulher morre em operação policial no Rio
Vinte anos depois de perder uma filha durante uma operação policial na favela de Acari, zona norte do Rio, a dona de casa Célia Regina da Conceição Germano, de 59 anos, reviveu a mesma dor na manhã dessa quarta-feira, 26. Ana Cláudia Germano Coutinho, de 29, morreu quando foi buscar o filho caçula na casa da avó paterna. Mãe de quatro filhos, ela faltou a uma entrevista de emprego para levar a criança, que estava com febre, ao hospital.
A tragédia aconteceu à s 8h30. Desde a madrugada o 41º Batalhão de PolÃcia Militar (Irajá) fazia uma operação na favela - um traficante foi baleado e preso. No momento em que Ana Cláudia saiu de casa, as trocas de tiro tinha cessado.
Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de HomicÃdio (DH) que investiga o caso, houve uma nova troca de tiros e a mulher foi atingida por estilhaços de bala na veia carótida esquerda. A PolÃcia Militar ainda não se manifestou sobre as circunstâncias da morte.
Testemunhas contaram para a famÃlia que três mulheres estavam na rua quando o caveirão (veÃculo blindado da PM) parou na rua Edgar Sotero. Ana Cláudia tentou se abrigar perto de um muro e as outras duas se esconderam em um bar. O tiro teria partido do caveirão e a bala atravessado a cabeça. Ela chegou a ser levada para o Hospital Raul Gazola, em Acari, mas já chegou morta.
"Não tinha nenhum homem na rua quando ela passou, ninguém com aparência de bandido. Porque atiraram?", questiona TaÃsa da Conceição Rosa, de 17 anos, prima da vÃtima.
Célia Regina, mãe de Ana Cláudia, teve 15 filhos. Dez estão vivos, três morreram em decorrência de doenças e duas em operações policiais. Há 20, Cátia Cirlene da Conceição foi baleada quando estava grávida de oito meses. Desde que soube da morte de Ana Cláudia, Célia está sedada.
"Minha tia não sabe o que fazer. Ela cria 14 crianças, os netos, bisnetos e outras crianças que perderam os pais. Os filhos da minha prima podem crescer revoltados pela mãe ter morrido assim", contou TaÃsa.
Apenas os mais velhos, de 12 e 13 anos, sabem sobre a morte de Ana Cláudia, eles vão morar com a Célia. Os mais novos, de 8 e 10 anos, ainda não têm idade para entender o que aconteceu, segundo a famÃlia. As crianças ficarão na casa da avó paterna. "Eles ainda acham que a mãe vai voltar a qualquer momento", disse a adolescente.
Irmã de Ana Cláudia, Regina Célia Germano Coutinho, de 24 anos, disse que não recebeu nenhum tipo de assistência da PolÃcia ou do Estado. Ela pretende processar o Estado pela morte da irmã que será enterrada nesta quinta-feira, 27, no cemitério de Irajá, zona norte.
Fonte: Estadão Conteúdo