29/04/2022 17h20
Netos e cônjuges de portugueses terão acesso mais fácil à cidadania
Entraram em vigor neste mês novas regras que facilitam o reconhecimento da cidadania portuguesa para brasileiros descendentes de portugueses, especialmente netos e cônjuges. O novo formato reduz as exigências de comprovação de vÃnculos com o paÃs europeu para obter o documento.
A alteração do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa estava prevista para ocorrer 90 dias após a alteração da Lei da Nacionalidade Portuguesa, feita em novembro de 2020, mas o decreto só foi publicado no Diário da República de Portugal em 18 de março, com vigência a partir de 15 de abril.
Segurança jurÃdica
De acordo com a advogada especialista em Direito de Estrangeiros, Karinne Cardoso, a Conservatória dos Registros Centrais, órgão responsável por aprovar os pedidos de nacionalidade, já passou a adotar várias mudanças após a lei de 2020, mas a regulamentação "veio para oficializar e corroborar com o que estava sendo praticado, fornecendo a segurança jurÃdica que era necessária".
A mudança na lei beneficia, em especial, netos de portugueses. Antes, quando os pais não haviam feito a requisição da cidadania, eles precisavam comprovar laços com o paÃs europeu. Esse requisito, segundo Karinne, era subjetivo e circunstancial. "Antes, juntávamos vÃnculos dos clientes com Portugal, como abertura de conta bancária lá, criação do NIF (equivalente ao CPF brasileiro), além do requerente precisar fazer viagens regulares", explica. Hoje esse critério não é mais um requisito. A exigência agora é de que o descendente tenha conhecimento da lÃngua portuguesa - vÃnculo que passou a ser automaticamente presumido aos brasileiros.
Bisnetos precisam que pelo menos uma geração anterior esteja viva para requerer a cidadania. Isso porque é preciso fazer o processo para o avô/ avó ou pai/mãe antes, e assim, dando entrada ao processo como filho ou neto de português.
Online
O processo hoje é feito por meio do envio de documentos fÃsicos. Brasileiros que desejam entrar com o pedido em Portugal - opção mais rápida se comparada à entrada de pedido no Consulado Português do Brasil - precisam enviar por meio dos correios as certidões solicitadas. A alteração da lei prevê que esse procedimento passe a ser feito, em breve, de forma eletrônica.
Cônjuges de portugueses também tiveram o processo de reconhecimento de sua cidadania facilitado com a alteração da lei. "Aqueles que são casados ou estão em união estável com um cidadão português há mais de três anos podem requerer a nacionalidade, desde que antes do pedido a certidão de casamento seja transcrita em um consulado português no Brasil ou a união estável seja reconhecida em Portugal", acrescenta Karinne. "Se a união ou casamento for de mais de seis anos, ou se o casal tiver um filho que já seja cidadão português, o requerente não precisa comprovar vÃnculos com a comunidade portuguesa", completa.
Segundo a advogada, os processos de reconhecimento da cidadania por parte de filhos de portugueses têm demorado de nove meses a um ano, e para netos ou cônjuges, de dois anos a dois anos e meio. A expectativa é de que o trâmite fique mais rápido.
Já os judeus sefarditas (descendentes dos judeus expulsos da PenÃnsula Ibérica na Inquisição), segundo ela, deverão comprovar vÃnculos efetivos por meio de bens imóveis em Portugal recebidos como herança e idas frequentes para o paÃs europeu.
Jéssica Moreira de Souza, gestora administrativa, é neta de português e, para se naturalizar lusitana, em 2018, precisou fazer o processo para sua mãe, já que seria difÃcil comprovar vÃnculo com Portugal. "Ela (a mãe) nunca teve interesse, mas sabÃamos que seria mais fácil se passasse para ela, como filha, e depois para mim e meus irmãos, novamente como filhos", lembra.
Jéssica fez todo o processo sozinha, dando entrada em Portugal, com ajuda de informações disponÃveis em um grupo do Facebook. Cerca de seis meses depois, recebeu a aprovação do pedido de nacionalidade da mãe. Hoje, organiza os documentos para que ela e os irmãos também tenham o mesmo direito, e já percebe diferenças em relação a 2018. "Na época, precisávamos ficar horas em uma ligação internacional para saber o andamento do processo. Já hoje, mesmo com o envio pelos correios, é possÃvel acompanhar o andamento pela internet", conta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo