30/11/2015 17h09
Pacientes do SUS têm 3 vezes menos médicos do que clientes de planos de saúde
Os pacientes de planos de saúde têm até três vezes mais médicos disponÃveis do que os usuários da rede pública, mostra estudo feito pela Faculdade de Medicina da USP e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e divulgado nesta segunda-feira, 30. De acordo com a pesquisa Demografia Médica no Brasil 2015, 21,6% dos médicos trabalham apenas no setor público, 26,9% estão exclusivamente na rede privada e outros 51,5% atuam nas duas esferas, o que indica que 78,4% dos médicos têm vÃnculos com o setor privado e 73,1%, com o setor público.
Apesar da similaridade nos Ãndices, a desigualdade ocorre porque apenas 25% da população brasileira tem convênio médico, enquanto 75% depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
"Essa desigualdade pode melhorar com polÃticas públicas de saúde, com maior capacidade administrativa e com a criação de uma carreira de Estado para os médicos, que traga perspectivas de progressão e melhores condições de trabalho", diz Carlos Vital, presidente do CFM.
Distribuição
Ainda de acordo com o estudo, 59% dos médicos brasileiros são especialistas, o que equivale a 229 mil profissionais. O Estado de São Paulo tem mais especialistas do que a soma das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. São 68 mil médicos do tipo no Estado contra 61,6 mil nas três regiões.
Metade dos especialistas do Brasil se concentram em apenas seis áreas: clÃnica médica, pediatria, cirurgia geral, ginecologia e obstetrÃcia, anestesiologia e cardiologia. As especialidades com o menor número de profissionais são genética médica, cirurgia da mão e radioterapia.
O estudo mostrou ainda que o Ãndice de médicos por 1.000 habitantes cresceu nos últimos cinco anos, mas ainda está aquém da taxa recomendada pelo próprio Ministério da Saúde. Em 2010, a taxa era de 1,95 profissionais do tipo por 1.000 brasileiros. Neste ano, o Ãndice chegou a 2,11, número inferior ao Ãndice de 2,5 considerado ideal para garantir uma assistência adequada à população.
O maior desafio, no entanto, ainda é a distribuição desigual de médicos entre as regiões brasileiras. No Sudeste, a proporção de médicos pela população é de 2,75, contra 1,09 no Norte.
A maior disparidade ocorre quando comparado o número de doutores que trabalham nas capitais contra os que atuam no interior. Embora as primeiras reúnam apenas 23,8% da população do PaÃs, 55,2% dos médicos estão nessas cidades.
Mais mulheres
A pesquisa mostra que a proporção de mulheres formadas em medicina vem crescendo ano a ano em comparação ao número de homens. Em 2014, dos novos registros de médicos no PaÃs, 54% foram de profissionais do sexo feminino.
Como determinadas especialidades são ocupadas majoritariamente por um dos gêneros, é possÃvel que o aumento de mulheres na profissão provoque uma mudança na disponibilidade de médicos especialistas. Haveria um aumento de dermatologistas, pediatras e médicos da famÃlia, especialidades ocupadas em sua maioria pelo sexo feminino, e a queda de urologistas, ortopedistas e cirurgiões, áreas com concentração de profissionais do sexo masculino.
"É uma tendência internacional o aumento de mulheres na medicina e isso pode ser muito bom para sistemas de saúde ordenados pela atenção básica, como o nosso. Por outro lado, os homens são maioria em todas as especialidades cirúrgicas. Precisamos começar a discutir essas diferenças na formação médica", diz Mario Scheffer, professor da FMUSP e coordenador do estudo.
Ele ressaltou que, embora o número de mulheres esteja crescendo na carreira, as condições de trabalho não são iguais. "Elas têm jornadas de trabalho e número de empregos muito parecidos aos dos homens, mas ganham muito menos", afirma.
Fonte: Estadão Conteúdo