23/07/2015 11h10
País recebe navio oceanográfico com robô submarino para pesquisa
O maior navio de pesquisa da história da oceanografia brasileira chegou ao PaÃs trazendo a reboque um misto de esperança e preocupação para a comunidade cientÃfica nacional. Medindo 78 metros e equipado com o que há de mais moderno em instrumentação de pesquisa oceanográfica - incluindo um robô submarino com capacidade para mergulhar até 4 mil metros de profundidade -, o Vital de Oliveira chegou a Arraial do Cabo (RJ) no dia 14 e deve ser oficialmente apresentado em uma solenidade hoje, no cais da Marinha, em Niterói.
A embarcação de R$ 162 milhões foi comprada por meio de uma parceria público-privada entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Ministério da Defesa, a Petrobrás e a Vale. As empresas são os sócios-majoritários, tendo arcado com dois terços do valor (43% e 23%, respectivamente). O outro terço foi dividido entre os ministérios.
Cientistas brasileiros estão entusiasmados com a chegada do navio, que promete expandir significativamente os horizontes da oceanografia nacional. Com 8,5 mil quilômetros de costa, o Brasil é o paÃs melhor posicionado geograficamente e cientificamente para explorar o Atlântico Sul, que é um dos oceanos menos estudados da Terra. Sem navios de grande porte à disposição, porém, as pesquisas brasileiras têm sido limitadas à s proximidades da costa. Para ir além das águas territoriais, só "pegando carona" em embarcações estrangeiras.
"Fazemos muita oceanografia costeira, mas pouca oceanografia de grande escala, de importância global", diz o pesquisador Carlos Garcia, do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Para ele, passou da hora de o Brasil "ocupar cientificamente" seu lugar no oceano.
Com capacidade para transportar 40 pesquisadores e um raio de ação de 13 mil km, o Vital de Oliveira promete dar ao Brasil essa tão sonhada autonomia logÃstica e tecnológica de exploração oceânica. "Finalmente vamos fazer ciência de gente grande no mar", disse ao Estado o coordenador para Mar e Antártica do MCTI, Andrei Polejack.
Receios
A reboque desse entusiasmo, porém, vem uma preocupação com relação à quantidade de tempo que os cientistas terão, de fato, para usar a embarcação. Considerando que a maior parte da conta foi paga pelas empresas, muitos temem que a agenda do navio seja comandada pela prospecção de riquezas minerais e outras pesquisas de interesse privado da indústria.
"A comunidade cientÃfica está muito feliz com esse navio. É uma plataforma de pesquisa fantástica", diz o pesquisador Michel Mahiques, do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP). "Só temo que, no final, nosso acesso ao navio acabe sendo bastante limitado."
Polejack diz que não deverá haver conflitos entre indústria e academia. "Os dados que precisamos no Atlântico Sul são tão básicos que atendem aos interesses de todos", diz.
Outra preocupação diz respeito aos custos de manutenção e operação da embarcação, para os quais não há recursos públicos reservados. "Esperamos que o navio tenha dinheiro para continuar navegando", diz o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Metodologia
A metodologia que será usada para distribuir o tempo de uso do navio pela comunidade cientÃfica ainda não foi definida. O mais provável, segundo o Estado apurou, é que sejam abertos editais para submissão de projetos, que serão selecionados por uma comissão. A meta é que o navio opere no mar 180 dias por ano.
O Vital de Oliveira será operado pela Marinha e sua gestão ficará a cargo de um comitê com representantes dos quatro parceiros (Petrobrás, Vale, MCTI e MD). Sua missão cientÃfica deverá ser orientada por um novo Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas e Hidroviárias, que está em processo de criação e tem como meta obter contratos de gestão da embarcação.
A ideia é fazer cruzeiros de pesquisa que atendam aos interesses de todos os parceiros simultaneamente, mas não estão descartadas saÃdas de interesse exclusivo da indústria.
A ênfase, segundo um comunicado da Marinha, será em pesquisas relacionadas a "recursos minerais, óleo e gás". / H.E.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo