03/05/2022 00h41
Polícia de SP faz operação contra falsos entregadores após latrocínio
As PolÃcias Civil e Militar realizaram, entre sexta-feira, 29 e sábado 30, uma operação com o objetivo de combater delitos cometidos por criminosos que se passam por entregadores. Mais de 740 veÃculos foram abordados e nove pessoas foram detidas, mas a polÃcia não esclareceu o motivo das prisões.
A ação ocorre após uma série de roubos praticados por criminosos que se disfarçam de entregadores de comida. Na última segunda-feira, 25, Renan Silva Loureiro, 20 anos, foi morto por um falso entregador após o criminoso roubar o celular do jovem e de sua namorada, no Jabaquara, zona sul da capital. VÃdeo de câmera de segurança mostra que o rapaz chegou a se ajoelhar antes de ser atingido.
Em entrevista ao Estadão, o secretário executivo da PolÃcia Militar, coronel Ãlvaro Batista Camilo, explicou que recentemente houve um incremento em quatro operações que estão em andamento com foco em coibir os crimes com utilização de motos. Ele lembra que esse tipo de veÃculo é utilizado em grande quantidade pelos criminosos porque eles se aproveitam do anonimato por causa da obrigatoriedade do uso de capacete e também pela facilidade de fuga.
"A polÃcia está empenhada e independente disso as ações já estão muito fortes, com foco na moto. Pedimos desculpa para os trabalhadores, porque muitos estão sendo abordados. Mas é uma situação necessária. Só para se ter uma ideia, no primeiro trimestre deste ano foram apreendidas mais de 6 mil motos, número maior que no ano passado inteiro. Além disso, 104 criminosos foram presos e muitos celulares foram devolvidos aos seus donos", diz.
As operações em andamento são Cavalo de Aço (para fiscalização de motocicletas), Capital Mais Segura (combate os crimes de oportunidade, como roubos e furtos, com blitz espalhadas em diversos pontos), Móbile (feita pela polÃcia civil, para coibir a receptação de celulares furtados e roubados) e Hércules (mais focada na região do bairro do Morumbi, onde houve uma onde de crimes com motos).
"Vamos ainda fazer nesta semana ações bem fortes para evitar crimes cometido por pessoas que utilizam motos. Nossa preocupação é com a população, com os motociclistas de aplicativos e até com as empresas, pois todo mundo está sendo prejudicado", afirma.
Camilo revela que até por determinação do governador Rodrigo Garcia, um grupo de trabalho foi criado e muito em breve haverá uma resposta rápida. "Se precisar podemos inclusive sugerir mudanças na legislação. Fizemos três reuniões e tem um grupo estudando uma forma para diferenciar o trabalhador do bandido. Nossa ideia é proteger os trabalhadores de aplicativo, mas conseguir identificar com mais facilidade o infrator. Então precisamos ajudar o policiamento nesta identificação."
REGULAMENTAÇÃO E FISCALIZAÇÃO
Segundo Gilberto Almeida dos Santos, o Gil, presidente do SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas do Estado de São Paulo), o preconceito contra os entregadores por aplicativo já era grande e ficou ainda maior depois deste triste episódio.
"Esse crime potencializou demais essa situação de discriminação. Hoje, a categoria, por mais que entenda que são necessárias as abordagens, sabe que ninguém gosta de ser parado toda hora. A polÃcia costuma ser dura, vimos alguns vÃdeos, e a categoria se sente aborrecida pois é vista como criminosa", lamentou ao Estadão.
Eles já receberam relatos de muitos motoboys e alguns disseram que chegaram a ser parados para averiguação da polÃcia três ou quatro vezes no mesmo dia. "A maioria, quase 100%, é gente de bem, que não compartilha com esse comportamento criminoso. Olham para a gente como se fôssemos o sindicato de ladrão que pratica latrocÃnio. Não é essa a realidade", continua.
O sindicato reconhece que houve uma explosão nos assaltos praticados por ladrões vestidos de entregadores. O problema é que, segundo a entidade, não existe controle sobre o empréstimo do material, como as bags, aquelas mochilas quadradas que os profissionais levam nas costas com as marcas das empresas, e a jaqueta de identificação do aplicativo. "Isso é distribuÃdo indiscriminadamente e pode até ser comprado na Internet", diz Gil.
Ele reforça que empresas como iFood, Rappi e Uber Eats, entre outras, precisam ser mais criteriosas na hora de ceder o material e até contratar os entregadores. "O problema está nas empresas que injetam nas ruas pessoas sem o mÃnimo preparo para essa função. São contratações sem critérios e sem observar os parâmetros mÃnimos da lei."
Gil explica que as bags, ou mochilas de entrega, são proibidas por lei, mas que não existe fiscalização para coibir isso. "O uso delas facilita que a pessoa leve uma garupa na moto e ela pode se esconder no meio da multidão. Também aumenta o risco de acidentes. Fora que as empresas dos aplicativos de entrega não possuem um histórico de seus trabalhadores na área criminal", afirma.
Para o sindicato, o modelo mais indicado é aquele no qual as motos já possuem o compartimento para armazenar os produtos que serão entregues, chamado de baú. "Não somos contra a tecnologia, mas vemos que existe uma carência de regulamentação. Existem três leis federais e uma lei municipal que deveriam ser tiradas do papel para trazer segurança e o municÃpio deveria regulamentar a questão da bicicleta para entrega", diz.
AUMENTO NA CRIMINALIDADE
O governador Rodrigo Garcia (PSDB), que trocou o comando das polÃcias em abril, tenta dar uma resposta rápida à alta de roubos e furtos na capital. No primeiro trimestre deste ano, o número de roubos aumentou 7,45%, ante o mesmo perÃodo do ano passado. Já o de furtos, cresceu 28,5% na mesma comparação.
Nos dois dias foram abordadas um total de 875 pessoas e vistoriados 13 automóveis e 743 motocicletas. Também houve abordagem a 81 bicicletas. Na semana passada, Garcia afirmou que também está em diálogo com as empresas de aplicativo para discutir estratégias de combate a esse tipo de crime.
A Secretaria da Segurança Pública informa que ainda nesses dois dias, seguiu com a operação "Hércules", deflagrada no começo do ano, em que a polÃcia realizou a vistoria de mais de 13 mil veÃculos, entre carros e motos, sendo 140 deles recuperados por estarem em situação de roubados ou furtados, além de prender oito pessoas e capturar um procurado.
Fonte: Estadão Conteúdo