27/07/2015 07h55
Sem-teto invadem terreno da CDHU perto do Rodoanel
Um terreno de 2 milhões de metros quadrados da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) foi invadido à s margens do novo trecho do Rodoanel Leste, entre os quilômetros 126 e 128, na Grande São Paulo. A estimativa dos invasores é de que haja pelo menos 7 mil famÃlias no local. A CDHU já obteve liminar para a reintegração de posse. Reuniões entre a companhia, a PolÃcia Militar e representantes dos moradores estão marcadas para esta semana para discutir a possibilidade de desocupação voluntária.
O terreno está na área de três municÃpios: Itaquaquecetuba, Guarulhos e Arujá. Parte é de preservação ambiental. A vegetação, prioritariamente de eucaliptos, foi derrubada recentemente. Os invasores negam a intervenção.
A CDHU informou, por meio de nota, que tentou "por diversas vezes uma desocupação voluntária, em reunião com os invasores do terreno". Disse ainda que parte da área estava destinada à construção de moradias para famÃlias cadastradas em programas habitacionais do governo. Não detalhou, no entanto, quando a obra teria inÃcio.
A advogada que representa os invasores, Angela Quirino, diz que foi tentada negociação com a CDHU, que teria oferecido 1 mil vagas em conjuntos habitacionais para que os invasores deixassem o terreno. Eles recusaram a proposta.
Estranhos
O terreno foi cercado pelos invasores. No portão, um vigia impede a entrada de estranhos. "Não é qualquer um que vai passando. Não sabemos o que podem querer aqui", contou o lÃder comunitário Rafael do Nascimento, de 28 anos.
De acordo com Nascimento, que está desempregado, um grupo de 12 homens foi responsável por dar inÃcio à invasão e começar a montar os barracos. "Viemos de vários municÃpios e também de bairros de São Paulo, como Jardim Brasil, Cachoeirinha e Parque Novo Mundo (na zona norte). Está impossÃvel pagar aluguel", contou.
Para lidar com as famÃlias que não paravam de chegar, Nascimento criou uma associação para representar os moradores. Quem chega precisa fazer um cadastro com carteirinha em que constam nome completo, tÃtulo de eleitor e o número de algum documento, como RG. O lÃder nega que participe de movimentos polÃticos. "Aqui somos só nós por nós mesmos. Nenhum polÃtico quis ajudar." Não há no local bandeiras de movimentos sociais.
Os barracos com melhor estrutura são feitos com folhas de madeirite e o banheiro é improvisado em fossas. O teto é coberto por telhas, mas nas novas barracas os moradores usam lona e sacos de lixo. A eletricidade é puxada de postes dos bairros vizinhos em Arujá. Já a água vem sendo retirada de um poço feito pelos próprios sem-teto.
Enquanto esperam a decisão sobre a desocupação, os invasores comemoram a "melhora de vida". "O dinheiro que eu usava para pagar o aluguel, hoje gasto com comida", contou o desempregado Desio Avelino, de 49 anos. Ele, que vive com a mulher, Lucieneide Pereira, de 45 anos, disse que foi atropelado, perdeu os movimentos de uma das mãos e anda com dificuldade. "Recebo um auxÃlio do governo, mas tenho de pagar contas para 13 pessoas na minha famÃlia. A gente estava passando fome", disse. "Custou pelo menos R$ 2 mil para erguer o nosso barraco. Mas já está bem melhor do que antes."
Outro barraco que começou a ser montado recentemente é o do pedreiro Marcelo Rosa, de 46 anos. Ele disse não ter condições de pagar o aluguel e se mudou com a mulher e os dois filhos para a invasão. Pagavam R$ 500 pelo aluguel em Guarulhos. "Para sobreviver é um sacrifÃcio danado."
A reportagem tentou contato com as prefeituras de Arujá, Itaquaquecetuba e Guarulhos, mas não houve resposta.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo