28/07/2022 16h30
Varíola dos macacos: Brasil tem crescimento de 65% nas notificações em uma semana
O Brasil registrou um crescimento de 65% nas notificações de varÃola dos macacos em uma semana. Nesta quarta-feira, 27, os registros chegaram a 978 casos confirmados, conforme dados do Ministério da Saúde. Há uma semana, eram 592. São Paulo é o Estado com mais registros (744), seguido do Rio (117) e de Minas Gerais (44).
Em nota, a pasta destacou que "segue em articulação direta com os Estados para monitoramento dos casos e rastreamento dos contatos dos pacientes".
Conforme explicou o Estadão, um dos principais empecilhos para dimensionar o alcance da monkeypox tem sido a variedade de manifestações da doença e a subnotificação. Com o perÃodo de incubação do vÃrus podendo variar de 5 a 21 dias, os primeiros sintomas geralmente incluem febre, dor de garganta, de cabeça e no corpo (que em alguns casos leva a uma primeira suspeita de infecção por algum vÃrus respiratório), além de inchaço dos gânglios. Alguns dias depois, surgem as lesões na pele, com pequenas erupções que podem se espalhar pelos dedos, mãos, braços, pescoço, costas, peito e pernas.
No sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o avanço da varÃola dos macacos configura uma emergência de saúde pública de importância internacional. Nesta quarta, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom pediu para "homens que fazem sexo com homens" diminuÃrem o número de parceiros, de relações sexuais e de exposição ao vÃrus. Eles representam a maior parte dos casos confirmados, mas isso não significa que outras pessoas não possam se contaminar.
Anvisa vai criar comitê de emergência
Também na quarta, 27, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que vai criar o Comitê Técnico da Emergência Monkeypox, para que as áreas técnicas de pesquisa clÃnica, de registro, de boas práticas de fabricação, de farmacovigilância e de terapias avançadas atuem em colaboração.
"A atuação do comitê permitirá ações coordenadas e céleres para salvaguardar a saúde pública, reunindo as melhores experiências disponÃveis nas autoridades reguladoras, permitindo acelerar o desenvolvimento e as ações que envolvem pesquisas clÃnicas e autorização de medicamentos e vacinas", explicou, em comunicado.
A agência afirmou que a equipe vai atuar "com orientações sobre protocolos de ensaios clÃnicos" e discutir "com os desenvolvedores orientações sobre ensaios clÃnicos de medicamentos", que se destinam a tratar, prevenir ou diagnosticar a doença. O objetivo, destaca, é "permitir a rápida aprovação e condução de testes bem projetados, para que possam fornecer dados robustos".
Surgimento dos casos
O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivÃduo que retornou à Inglaterra da Nigéria, onde a varÃola dos macacos é endêmica. Desde então, paÃses da Europa, assim como Estados Unidos, Canadá e Austrália, confirmaram casos.
Transmissão
Identificada pela primeira vez em macacos, a doença viral geralmente se espalha por contato próximo e ocorre principalmente na Ãfrica Ocidental e Central. Raramente se espalhou para outros lugares, então essa nova onda de casos fora do continente causa preocupação. Existem duas cepas principais: a cepa do Congo, que é mais grave, com até 10% de mortalidade, e a cepa da Ãfrica Ocidental, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%.
O vÃrus pode ser transmitido por meio do contato com lesões na pele e gotÃculas de uma pessoa contaminada, bem como através de objetos compartilhados, como roupas de cama e toalhas. O perÃodo de incubação da varÃola dos macacos é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias.
Sintomas de varÃola dos macacos
Os sintomas se assemelham, em menor grau, aos observados no passado em indivÃduos com varÃola: febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas durante os primeiros cinco dias. Erupções cutâneas (na face, palmas das mãos, solas dos pés), lesões, pústulas e, ao final, crostas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os sintomas da doença duram de 14 a 21 dias. Muitos casos não têm apresentações clÃnicas (assintomático).
Prevenção
De acordo com o Instituto Butantan, entre as medidas de proteção, autoridades orientam que viajantes e residentes de paÃses endêmicos evitem o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vÃrus da varÃola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas) e devem se abster de comer ou manusear caça selvagem.
Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes ferramentas para evitar a exposição ao vÃrus, além do contato com pessoas infectadas.
O que fazer se eu estiver sentindo os sintomas?
O Ministério da Saúde recomenda que o aparecimento de febre alta e súbita, dor de cabeça e aparecimento de gânglios é o suficiente para um paciente procurar um médico em alguma unidade básica de saúde. "Procure seu médico, porque ele terá a capacidade de te examinar, fazer o diagnóstico e a condução clÃnica necessária", informa a pasta. Na atenção primária da rede pública de saúde dos municÃpios, os profissionais vão analisar os pacientes e encaminhá-los para a coleta do exame.
Quais são os critérios para ser considerado um caso suspeito?
A orientação da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo é que quaisquer indivÃduos, de qualquer idade, que apresentem inÃcio repentino de erupção cutânea (única ou múltipla), em qualquer parte do corpo e que tenha, nos últimos 21 dias antes do aparecimento dos sintomas, se relacionado de forma Ãntima com alguém; ou tido vÃnculo epidemiológico com casos suspeitos, prováveis ou confirmados de monkeypox; ou viajado para paÃses onde há casos da doença confirmados; ou tido contato com quem viajou para locais onde a doença é endêmica, pode ser considerado um caso suspeito.
Se for considerado um caso suspeito, o paciente já deve praticar o isolamento.
Como é feita a testagem para a varÃola dos macacos?
O diagnóstico da doença é feito por meio do teste molecular ou sequenciamento genético. Um dos métodos consiste na utilização do swab (um bastão utilizado para a coleta de amostras), que é passado sobre as feridas.
Quanto mais rápida é feita a testagem mais eficaz serão as medidas de contenção dos vÃrus. Por isso, o infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), cobra das autoridades agilidade para a aquisição de mais testes.
"A gente precisa ser rápido, tanto na aquisição dos testes prontos que existem em outros paÃses, como no desenvolvimento da produção nacional do material para que a gente consiga dar maior velocidade ao diagnóstico, porque o crescimento dos casos são exponenciais", afirma Kfouri.
Já existe vacina contra a varÃola dos macacos?
Sim e não. "Não" porque, atualmente, não há vacina disponÃvel que atue diretamente contra a varÃola dos macacos. Mas "sim", uma vez que os imunizantes contra a varÃola humana têm autorização de órgãos reguladores, como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), para serem aplicadas contra a monkeypox. As liberações foram concedidas pela semelhança entre os dois vÃrus, que pertencem à mesma famÃlia, a poxvirus. PaÃses como os Estados Unidos já tem usado o fármaco em sua população.
Fonte: Estadão Conteúdo