10/06/2022 19h40
Varíola dos macacos: Fiocruz e laboratórios correm para produzir testes
Com o avanço da varÃola dos macacos pelo mundo e a chegada da doença ao Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), produziu, em uma semana, reagentes para auxiliar no diagnóstico do vÃrus. As primeiras remessas foram encaminhadas na quarta-feira, 8, para distribuição entre os laboratórios de referência no Brasil, a pedido do Ministério da Saúde. Outra parte desse produto, conforme a Fiocruz, foi enviada para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), para distribuição em 20 paÃses. O laboratório Roche também desenvolveu três kits diagnóstico para detectar a doença.
Pelo menos 29 nações já reportaram mais de mil infectados pelo vÃrus, conforme a OMS. O primeiro caso no Brasil foi confirmado na quinta-feira, 9. O paciente é um homem de 41 anos, que mora na capital paulista e tem histórico de viagem para Portugal e Espanha. Ele está internado no Instituto de Infectologia EmÃlio Ribas e, segundo a secretaria estadual de Saúde, "em bom estado clÃnico". Não houve registro de morte em nenhum paÃs neste surto. A varÃola dos macacos é uma doença viral geralmente leve, caracterizada por sintomas de febre e lesões na pele.
Elaborado em curto prazo pela Fiocruz e pelo IBMP para ajudar no diagnóstico da varÃola dos macacos, as remessas entregues refletem a capacidade nacional de produção de insumos crÃticos para o diagnóstico.
"Essa ação estratégica, iniciada após o aprendizado na cadeia de suprimentos vivenciado na emergência da covid-19, hoje se materializa no fortalecimento do arranjo produtivo local e amplia a capacidade de resposta nacional frente a emergências de saúde pública", afirma a presidente da Fiocruz, NÃsia Trindade Lima.
Para ajudar a detectar o vÃrus da varÃola dos macacos, a Roche Diagnóstica desenvolveu três kits diagnósticos para a detecção da doença. Os testes utilizam ensaios PCR - amplamente utilizados para identificação do vÃrus da covid-19 - para detecção dos ortopoxvÃrus, incluindo o vÃrus da varÃola dos macacos, a partir da coleta de amostras de lesões de pele humana.
O primeiro kit a ser disponibilizado será o LightMix® Modular Orthopox, que detecta o ortopoxvÃrus, incluindo todos os tipos de vÃrus da varÃola dos macacos, vindos da Ãfrica Ocidental e da Ãfrica Central.
Inicialmente, o teste estará disponÃvel para uso em pesquisa na maioria dos paÃses do mundo. Será disponibilizado para qualquer instituição, pública ou privada. "O kit estará disponÃvel inicialmente como de uso exclusivo para pesquisa e, pela regulamentação brasileira, os laboratórios públicos e privados podem usar os testes de uso exclusivo para pesquisa para uso como diagnóstico, desde que esses laboratórios façam a validação do ensaio", disse, em nota.
A equipe da Roche Diagnóstica afirma que está acelerando o processo de importação dos testes para que sejam disponibilizados no mercado brasileiro nas próximas semanas. No entanto, a empresa, no momento, não tem mais detalhes sobre negociações ou preços a serem comercializados. Já o segundo teste é especÃfico para detectar o vÃrus da varÃola dos macacos (linhagem da Ãfrica Ocidental e da Ãfrica Central).
Para pesquisadores interessados em obter ambos os resultados, a Roche afirma que estará disponÃvel um terceiro kit que detecta simultaneamente os diferentes ortopoxvÃrus e fornece informações sobre a presença ou não de um vÃrus da varÃola dos macacos (linhagem da Ãfrica Ocidental e da Ãfrica Central). Esses dois últimos testes serão lançados posteriormente.
SindHosp alerta serviços de saúde sobre protocolos a serem adotados
Assim como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que sugeriu uso de máscara e distanciamento para retardar a chegada da doença, o Sindicato dos Hospitais, ClÃnicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) também alerta sobre os cuidados que devem ser tomados pelos serviços de saúde privados, em especial locais onde há pacientes com a suspeita do vÃrus. Recomenda-se ainda a suspensão de visitas para casos suspeitos ou confirmados.
Segundo o médico Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, as doenças respiratórias comuns no inverno, a covid-19 e agora a varÃola dos macacos podem confundir os profissionais de saúde no diagnóstico e tratamento. Por isso, a entidade mantém contato permanente com as unidades para oferecer informações sobre a melhor forma de prevenção no atual momento.
"Precisamos disseminar rapidamente a nota técnica da Anvisa a fim de preparar todo o sistema de saúde para mais essa nova doença. Além disso, torna-se imprescindÃvel a notificação à s autoridades sanitárias para o controle epidemiológico do vÃrus", alerta ele.
Para Balestrin, é importante que os gestores mantenham a equipe informada sobre a doença, seus sintomas e adotem medidas protetivas, bem como um plano de contingência contendo ações estratégicas para o enfrentamento de possÃveis casos.
A atenção deve ser redobrada "com relação aos pacientes que apresentam erupção cutânea aguda que progride em estágios sequenciais de máculas, pápulas, vesÃculas, pústulas e crostas que são frequentemente associadas a febre, adenopatia e mialgia (dor muscular)", destaca o comunicado.
Segundo a entidade, deve-se ainda ser estabelecido o manejo dos casos para evitar a transmissão nosocomial (dentro do hospital), com fluxo adequado da triagem para as salas de isolamento (em qualquer nÃvel de atenção), evitando contato com outros pacientes em salas de espera ou quartos e com pacientes internados por outros motivos.
"Durante a assistência aos pacientes com suspeita ou confirmação da doença, deve-se implementar as precauções padrão, com as precauções para contato, gotÃculas e aerossóis. A acomodação dos casos suspeitos ou confirmados deve ser realizada, preferencialmente, em quarto privativo com porta fechada e bem ventilado (ar-condicionado que garanta a exaustão adequada ou janelas abertas)", disse. Deve-se reduzir a circulação de pacientes e profissionais ao mÃnimo possÃvel.
Os casos suspeitos, incluindo trabalhadores da saúde, devem ser imediatamente notificados ao Ministério da Saúde. Devendo ser iniciado imediatamente o rastreamento e a identificação de contatos, a fim de estabelecer medidas necessárias para prevenção da disseminação do vÃrus, segundo o SindHosp.
Surgimento dos casos
O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivÃduo que retornou à Inglaterra da Nigéria, onde a varÃola dos macacos é endêmica. Desde então, paÃses da Europa, assim como Estados Unidos, Canadá e Austrália, confirmaram casos. Atualmente, já são mais de mil casos registrados em ao menos 29 paÃses, segundo a OMS. Os casos se concentram na Europa onde a doença não é endêmica. No continente africano, a doença já é endêmica e atinge 1,4 mil casos.
Transmissão
Identificada pela primeira vez em macacos, a doença viral geralmente se espalha por contato próximo e ocorre principalmente na Ãfrica Ocidental e Central. Raramente se espalhou para outros lugares, então essa nova onda de casos fora do continente causa preocupação. Existem duas cepas principais: a cepa do Congo, que é mais grave, com até 10% de mortalidade, e a cepa da Ãfrica Ocidental, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%.
O vÃrus pode ser transmitido por meio do contato com lesões na pele e gotÃculas de uma pessoa contaminada, bem como através de objetos compartilhados, como roupas de cama e toalhas. O perÃodo de incubação da varÃola dos macacos é geralmente de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias.
Sintomas
Os sintomas se assemelham, em menor grau, aos observados no passado em indivÃduos com varÃola: febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas durante os primeiros cinco dias. Erupções cutâneas (na face, palmas das mãos, solas dos pés), lesões, pústulas e, ao final, crostas. Segundo a OMS, os sintomas da doença duram de 14 a 21 dias.
Prevenção
Segundo o Instituto Butantan, entre as medidas de proteção, autoridades orientam que viajantes e residentes de paÃses endêmicos evitem o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vÃrus da varÃola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas) e devem se abster de comer ou manusear caça selvagem.
Higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel são importantes ferramentas para evitar a exposição ao vÃrus, além do contato com pessoas infectadas.
A OMS afirma trabalhar em estreita colaboração com paÃses onde foram relatados casos da doença viral. A entidade também recomenda os paÃses a aumentar suas medidas de vigilância sanitária para identificar todos os casos e os casos de contato para controlar esse surto e prevenir o contágio.
Fonte: Estadão Conteúdo