13/06/2022 18h10
Varíola dos macacos não deve ter o impacto da covid, mas exige monitoramento, diz cientista da USP
A varÃola dos macacos, doença que já tem três casos confirmados no Brasil, não deve causar o mesmo estrago que a covid-19, mas merece ser monitorada com atenção. Essa é a avaliação de Ester Sabino, professora da Universidade de São Paulo (USP) e lÃder do grupo responsável pelo primeiro sequenciamento do vÃrus no Brasil, trabalho que foi feito em apenas 18 horas.
Isso ocorreu graças a uma técnica metagenômica rápida desenvolvida no Brasil durante o doutorado de Ingra Morales Claro, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ela faz parte do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de ArbovÃrus (CADDE), coordenado por Ester.
A professora também esteve à frente do primeiro sequenciamento de Sars-CoV-2 no paÃs, em março de 2020, e dos primeiros casos da nova variante Gama, surgidos em Manaus cerca de um ano depois. Em entrevista ao Estadão, Ester destaca a importância da rapidez do sequenciamento do vÃrus causador da varÃola dos macacos em comparação ao causador da covid-19, que levou semanas para ser decifrado quando surgiu na China.
Segundo Ester, o trabalho dos cientistas de entender o vÃrus e acompanhar suas mutações é fundamental para frear o avanço da epidemia.
Qual a importância da técnica metagenômica rápida desenvolvida por vocês para o sequênciamento da varÃola do macaco? E como isso auxilia no controle da doença no PaÃs?
A nossa missão foi desenvolver ferramentas para tornar mais fácil o reconhecimento de novos agentes, baixando o custo e tornando mais rápido o sequenciamento do vÃrus. Isso permite que a tecnologia esteja disponÃvel em mais pontos do PaÃs, para que quando um novo agente chegue, vários lugares consigam trabalhar rapidamente.
Quando surgiu o vÃrus Sars-cov-2 em Wuhan, na China, demorou cerca de um mês para reconhecerem o agente. Isso tem impacto, porque quanto menor o tempo de reconhecimento, maior a chance de conter uma epidemia.
Até existem técnicas mais baratas para fazer a triagem do vÃrus, mas o problema é que elas dependem de insumos que nem sempre estão disponÃveis no inÃcio de uma epidemia.
Vocês descobriram algo sobre o vÃrus que se diferenciasse do que já se conhecia?
Descobrimos que o vÃrus do paciente (o primeiro identificado no Brasil, um homem de 41 anos que passou por tratamento na capital paulista) já tinha sofrido três mutações em relação aos outros vÃrus da mesma doença descritos na Europa. O vÃrus não tem uma taxa rápida de mutação, mas isso precisa ser monitorado.
O que precisa ser feito agora para monitorar o desenvolvimento da doença?
Agora, o mais importante é que a gente tenha técnicas de PCR disseminadas pelo paÃs para que os casos sejam reconhecidos rapidamente. E o PaÃs precisa ter insumos necessários para fazer PCR (teste de qualidade padrão-ouro, com maior precisão) em um grande número de casos.
O sequêncimento que fizemos não podemos fazer em todo mundo, então é importante que testes mais simples sejam desenvolvidos.
A vacina para varÃola que temos hoje protegeria contra essas novas variantes, caso a vacinação em massa volte a ser necessária?
Sim, ela deve funcionar. TerÃamos de aumentar a sua produção, mas provavelmente devem fazer vacinas especÃficas para esse agente.
Há riscos de que a varÃola dos macacos se torne uma pandemia, assim como aconteceu com a covid-19?
Esse vÃrus não tem uma transmissão aérea, assim como a covid-19. Doenças respiratórias transmitem mais. O monkeypox precisa de um contato muito Ãntimo para que as pessoas se contaminem. Por isso, provavelmente a varÃola dos macacos não vai ter a mesma dimensão que teve a covid.
Fonte: Estadão Conteúdo