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Opinião
29/02/2012 09h46

Janelas do Tempo Rua Melo Viana (III - final)

Rua Melo Viana (III - final)

Importante dizer-se que, no dia 28 de julho de 1978 recebi para consulta, Eliane Amelia – sem acento mesmo − Ribeiro Toledo. Sua ficha recebeu o número 1.128. Já a conhecia desde criança. No final daquele ano estávamos namorando. E no do outro, estávamos casados. Hoje sua ficha é um quadro num cômodo do consultório que não é usado.


Durante os anos em que – finalmente − tive filhos estudando no colégio em frente, o vozerio das crianças no recreio tiveram significado especial. Estava ciente de que no meio daquele som estavam suas vozes e me emocionava, o que não é difícil.


Depois 21 anos, no princípio de 1997, resolvi que chegara o momento de ter um consultório mais novo e bonito. Para aquele que tinha inaugurado, em 1975, o consultório mais lindo da região, nos tempos de Rua Quinze, meus padrões estavam péssimos. Não havia possibilidade de reformá-lo e deixá-lo como queria.


Chegara ao limite o tempo em que poderia permanecer lá. Naquele período todo reformara o que fora possível, em duas ou três ocasiões. Tinha muito medo do sofrimento, na hora em que o deixasse.


Mas mudei-me no dia 3 de novembro de 1997, inaugurando o consultório da Dom Pedro, onde estou até hoje. Não tive um momento sequer de tristeza, como cheguei a imaginar. A mudança fez-me bem. Parecia renovado e mais moço. Desfiz-me imediatamente do antigo imóvel.


Quem marcou mais aquele consultório foi minha secretária Margarida. Conheci-a em 1978, quando me procurou para atender seu filho, com urticária, em um domingo à tarde. Como eu teria que ir ao consultório atender a um paciente de Resende – cidade querida que deixara no ano anterior e de onde até hoje vêm alguns pacientes − que só podia vir aos domingos, aproveitei para vê-lo também.  


No princípio de 1979, procurava por uma secretária nova. Um dia ela chegou em meu consultório, mandada por uma paciente, enfermeira do hospital. Já havia conversado com outras, mas imediatamente, concluí que era a que queria e marquei o dia para que começasse a trabalhar.


 
Desde então, foram 18 anos de bondade, de dedicação, de eficiência, de honestidade e de confiança. Margarida, embora tivéssemos por vezes brigas homéricas, o que não costuma acontecer com outras secretárias, foi, é e sempre será a minha eterna secretária e irmã. Afinal, dezoito anos não se apagam da vida de um sentimental como eu.


Mas chega um momento na vida em que as coisas acabam. Se até um casamento, de repente termina, por que não pode chegar a hora de se encerrar um relacionamento patrão/empregada?


Quantas alegrias e tristezas partilhadas mutuamente? Ela sempre foi a amiga, além de funcionária.


 
Se fosse escrever tudo o que se passou naqueles anos, seria necessário um novo livro intitulado: A secretária. No entanto, quero deixar registrado que no meu coração, ela permanece sempre e não tenho palavras para dizer toda a gratidão que tenho pelo que fez por mim.


 
É por isto que, em cada Natal e em cada aniversário dela, nunca me esqueço e nem me esquecerei. Em nenhuma de minhas festas ela deixa de se fazer presente.  Margarida, com todos os defeitos que o ser humano – inclusive eu − tem,  será sempe ela.  É por isto também que foi em anos passados a guardiã de minha casa, quando tínhamos que viajar.


Foi a pessoa mais marcante que a Rua Melo Viana, tão querida, fez passar por minha vida... E a primeira ficha que fez, em 3 de março de 1979 também já é um quadro em meu consultório, assim como a do primeiro paciente que tive.


 
(O consultório da Dom Pedro foi totalmente destruído pela enchente de 2000, mas o que mais me doeu não foi o prejuízo material. Foi ter perdido todas as fichas de 26 anos de autônomo e o museu que fiz durante mais de quarenta anos. Ainda pensava olhar para cada ficha, antes de morrer, tentando me lembrar de cada paciente.


Entre minhas relíquias estava toda a coleção de São Lourenço- Jornal, encadernada ano a ano, desde 1964... Uma lástima!).

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