
Visitando a cidade de Aiuruoca, lá estávamos a curtir as belezas que a natureza nos oferece e bem como o que a localidade em si nos brindava, quando ao chegarmos no prédio, hoje recuperado, da ex-estação férrea, tivemos a presença de um cidadão “bem vivido”, que como nós, deslumbra-se com o singelo patrimônio a lamentar pela desativação da malha ferroviária brasileira, notadamente em Minas.
Integrando-se a nós, dizia que nesta estação um fato marcou muito sua juventude, ao presenciar uma cena inusitada, que até então nunca supôs, na época ocorrer, tal a excentricidade que aquele episódio se desenvolveu, vez que casos como esses eram raríssimos de acontecer, principalmente, em público.
Contou-nos que viajando de trem de regresso de Passa Vinte (MG), um pouco antes de chegar a Aiuruoca , uma confusão se instalou no interior do vagão, quando uma mulher aos brados chega-se e começa a agredir uma outra com puxões de cabelos, tapas, chutes e palavras rudes a acusá-la de ordinária, safada, despudorada, entre outras impublicáveis. A agredida, que se surpreendeu pela agressividade, procurando se defender, reagiu engalfinhando-se com a agressora também a puxar-lhe o cabelo e socá-la, no que ocasionou a queda de ambas ao chão do corredor em total acirramento.
Perplexos, os passageiros de pé, agitados, assistem a “contenda”, quando alguns homens, entre eles o nosso narrador, tentam apartar a refrega; no que conseguem. A agressora, toda em desalinho, esbravejando revela que a agredida estava lhe “roubando” o marido, confirmando ao vê-los na estação e pegarem o trem na cidade de Liberdade, onde os seguiu. Só que o safado não estava ali, talvez com medo de ser flagrado. A agredida ao ouvir tal coisa, surpresa, retrucou dizendo ser impossível, pois seu namorado de nome, nelzinho; a esperava em Aiuruoca. A “chifrada” furiosa, segura pela “turma do deixa disso”, vocifera: - Sua cretina, você sabe que nelzinho é meu marido! Ao escutar aquela confissão, espantada se põe a chorar e responde: - Então aquele mal caráter é casado? Cretino, miserável, como fui enganada por tanto tempo! Sem mais ter o que dizer, pediu perdão a agressora, propondo que as duas, agora unidas pela traição, dessem uma boa lição naquele canalha à estação de Aiuruoca.
Nisso, já com a calma restabelecida, chegam-se o chefe do trem e um agente, que se desculpam pelo retardo, pois estavam ocupados com o problema no último vagão, quando o agente presenciou um “maluco” ou suicida lançar-se do trem em movimento, que rolando pelo mato ergueu-se a acenar. Só que o demente deixou à varanda seus documentos caírem, provavelmente quando pulou. As “chifradas” ao verem a foto e o nome no registro do tal maluco, se entreolharam e enfurecidas, a suposta amante falou: - Quando voltarmos, vamos colocá-lo à nossa frente e darmos uma surra para que nunca nos esqueça. Aqui nesta estação, aguardaram o trem de volta a Liberdade. Se houve a surra prometida nunca se soube. Só sabemos pelo que presenciamos, que o pobre nelzinho ia apanhar e muito!
Edição 766