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Opinião
20/04/2016 09h19

O bicho não tem mais o que tomar

Por Levi Ceregato*

Por Levi Ceregato*

A crise econômica brasileira e suas causas estruturais e conjunturais, dentre outras perdas e danos, subvertem até mesmo um dos mais tradicionais ditados populares: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Não há esse risco, pois a tal fera não tem mais o que tomar ou abocanhar. Já somos devorados e estamos exauridos pelos juros mais altos do Planeta, carga tributária elevadíssima, insegurança jurídica, baixa capacidade competitiva, câmbio desequilibrado, descrédito provocado pela corrupção e instabilidade política e elevados custos produtivos.
O monstro da calamidade já está devidamente saciado! Por isso, é muito melhor correr em prol de uma agenda positiva do que ficar parado. É o que fará a indústria gráfica brasileira este ano, buscando mitigar a queda de sua produção física em 2015, que foi de 13,8%. Acreditamos que o Brasil tem todas as condições de vencer a recessão. Para isso, precisa exorcizar essas criaturas que, há décadas, às vezes com maior ou menor contundência, nos perseguem e engolem o lucro, os empregos, os investimentos e até mesmo empresas inteiras.
As soluções defendidas pelos setores produtivos estão expressas no documento “Compromisso pelo Desenvolvimento”, recentemente entregue ao governo por entidades patronais e laborais, propondo a imediata retomada do investimento público e privado em infraestrutura produtiva, social e urbana, incluindo o setor de energia, como petróleo, gás e fontes alternativas. Também queremos que seja destravado o setor da construção, sem prejuízo das investigações, julgamento e aplicação das devidas penas aos responsáveis por atos de improbidade.
Outra providência urgente, consensual entre todos os que produzem e trabalham, é resgatar a competitividade, visando ao aumento da produção e das exportações da indústria de transformação. Nesse contexto, são prementes políticas de incentivo às cadeias produtivas e voltadas à reindustrialização do Brasil. Também entendemos ser urgente ampliar o financiamento de capital de giro para as empresas, bem como adotar políticas de fortalecimento do mercado interno para incremento dos níveis de consumo, emprego, renda e direitos sociais.
Seguem sendo necessárias reformas estruturais do regime tributário, da previdência e trabalhista. Esta, aliás, se tornou prioridade absoluta após a reoneração da folha de pagamentos em numerosos setores, que entra em vigor este ano. É importante lembrar que isso significa mudança das regras do jogo, evidenciando um dos problemas mais graves enfrentados pelas empresas: a falta de previsibilidade no Brasil, uma distorção antiga, remanescente à década de 60 do século passado.
Não se consegue planejar em nosso país, o que já cria dificuldades significativas em tempos de prosperidade. O que dizer, então, no contexto de crises, nas quais a previsibilidade e o planejamento são essenciais para a busca de soluções? A cultura do improviso instalou-se corrosivamente no Estado brasileiro, somando-se a outros vícios que precisam ser extirpados, como a improbidade, a irresponsabilidade fiscal e o fisiologismo.
Ao completar 31 anos em 2016, considerando o início de um governo civil em março de 1985, a bem-vinda reconquista da democracia precisa, agora, reverter-se numa nova dimensão de Estado, voltado ao cumprimento efetivo de sua missão constitucional, que é servir ao povo e não se servir dele. As eleições têm papel relevante nesse processo, pois o principal desafio hoje é o advento de lideranças políticas capazes de contribuir para a concretização de todas as mudanças necessárias.
O Brasil tem imenso potencial e todas as condições de vencer a crise e estabelecer um círculo virtuoso de crescimento. Porém, precisa domar, sem medo, o “bicho papão” que nos persegue e nos devora. Isso significa entender, reconhecer e conter o processo autofágico que implode os fundamentos de nossa economia. Somos capazes!

*Levi Ceregato é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional).

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